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Eric Raymond: Ou o Linux pega agora ou só daqui a 30 anos

18 anos atrás

Eric Raymond, que todo geek que se preza conhece e respeita, é o Santo Padroeiro e um dos fundadores do movimento Open Source. Ele fez declarações polêmicas e pragmáticas na Linux World. Segundo ele para que o Linux se torne uma opção viável é preciso atender ao público, que quer rodar seus vídeos em formatos proprietários, ou plugar seu iPot, abrir um iTunes e sair usando.

A discussão pegou fogo, no painel e na Internet, pois uma das pedras fundamentais do Open Source, e por extensão do Linux, é não aceitar arquivos binários de terceiros. Alguns drivers de placas de vídeo são criticados por causa disso, e não são incluídos no kernel exatamente por esse motivo.

O problema é que muitas vezes o fabricante não quer, por motivos estratégicos, liberar seu código-fonte. A Apple, ao não liberar uma versão Open Source dos drivers do iPod, evita que outros criem programas que venham a competir com o iTunes, por exemplo. Ao não liberar o código-fonte dos CODECSs do último Windows Media Player, a Microsoft evita que programadores no mundo inteiro investiguem o código, descubram a lógica por trás do DRM e criem programas que a contornem.

Raymond percebeu que as empresas não vão abrir mão dessas vantagens estratégicas, e concluiu que mais importante do que pureza ideológica, o Linux precisa contemplar os usuários que querem os produtos que acompanham essas tecnologias.

Precisamos de uma boa resposta para o cara de 20 anos que pergunta se o Linux "vai rodar meu iPod?"

Note, ele não está falando de gambiarras, programas alternativos, edições de arquivos .conf e programas em versão alfa, está falando de abrir um iTunes ou algo muito parecido, como no Mac, e simplesmente usar.

Ele continua:

Não importa quão feio, quão doloroso, precisamos permitir que o Linux Desktop rode Windows Media, que suporte iPods. Podemos não querer binários (de terceiros) rodando no espaço do usuário, mas precisamos deles

John Hall, o Maddog que é um dos cabeças do Linux, discorda, ele acha que os usuários devem lutar para convencer a industria a adotar padrões e protocolos abertos, e que os consumidores deveriam comprar players que suportem padrões como o Ogg Vorbis.

O problema é que, nas palavras de Raymond:

Eles ainda querem seus iPods

Um exemplo dado é da distribuição Freespire, que incorpora drivers e codecs proprietários, gerando uma experiência muito mais completa para o usuário final, que roda seus quicktimes e WMVs sem precisar ficar fuçando configurações. Por isso ela é mal-vista pelos puristas.

Só que o Linux terá que fazer ainda mais concessões, com a chegada dos DVDs de alta definição, TV Digital e outros recursos de entretenimento. É duro de engolir, mas pode ser o único jeito de se tornar relevante. Ainda mais que, segundo Raymond, a janela está se fechando.

Em um interessante argumento, ele defende que mudanças fundamentais como a troca do Sistema Operacional Dominante só ocorrem junto com mudanças tecnológicas de igual monta. A transição dos processadores de 16bits para os de 32bits, por exemplo. Com a transição para processadores de 64bits concluída no final de 2008, ele entende isso como a última chance de dominação para o Linux, se ele não se tornar atraente para o consumidor final leigo, ficará de fora do desktop, e a próxima mudança está prevista para daqui a 30 anos.

A posição de Raymond está sendo vista como vendido, traidor, etc, mas analistas mais inteligentes percebem uma estratégica digna de Maquiavel. Essa atitude pragmática é, segundo o próprio Raymond, para conquistar o desktop de qualquer forma.

Quem vê somente dois palmos diante do próprio nariz fala "drivers proprietários são errados, não usamos e pronto", e fica de fora da briga. Já quem pensa de forma estratégica a longo prazo, percebe que aceitando drivers proprietários o Linux irá se tornar atraente ao usuário final, seja ele o dono de iPod, ou o Gamer, e com isso terá muito mais chances de atingir a supremacia.

Com isso, quem passa a ditar o que os fabricantes de hardware fazem é o sistema, a situação se inverte. Tome por exemplo o DirectX; hoje em dia quem quiser fabricar hardware de aceleração de vídeo decente, PRECISA seguir as regras da Microsoft, e se ela definir que NÃO quer DRM embutido em placas de vídeo, os fabricantes NÃO colocarão.

Em dez anos pode ser o Linux nessa posição, dizendo para a Apple que NÃO dará suporte a nenhum iPod que não tenha drivers com suporte transparente a Ogg Vorbis, por exemplo. Mas para isso, é preciso fazer concessões agora.


Fontes:


O último é considerado a Bíblia do Open Source. Se você ainda não leu, LEIA.

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