Carlos Cardoso 08/01/2017 às 22:35
Cicatrizes nem sempre são ruins, servem para lembrar do passado, como naquela cena clássica em Tubarão. Homens gostam de contar histórias, enaltecendo seus feitos. Eu mesmo sempre que posso mostro a cicatriz que tenho na perna e conto como a ganhei caindo em um bueiro enquanto brincava de pique lutando contra um tubarão para salvar uma menina que se afogava levando uma ninhada de cachorrinhos.
Só que nem sempre é assim, há cicatrizes horrendas, e nem falo das atrizes pornô que terminam com logotipos da Tesla debaixo dos peitos, são cirurgias de emergência, acidentes. Até hoje a medicina era limitada para lidar com isso, o corpo é excelente consertando danos mas o excesso de eficiência é o problema: a cicatriz é uma forma de resolver RÁPIDO, na selva é uma vantagem, na cidade é um incômodo.
Agora uma pesquisa feita pelo Plikus Laboratory for Developmental and Regenerative Biology e pela Escola Perelman de Medicina da Universidade da Pennsylvania promete mudar isso. Publicada no paper de título Regeneration of fat cells from myofibroblasts during wound healing, a descoberta é simples e revolucionária.
Basicamente quando um tecido lesionado começa a cicatrizar é estimulado o crescimento de miofibroblastos, células estruturais que forçam a região da lesão. Por isso tecido cicatrizado é mais duro e resistente. Só que essas células inibem o aparecimento de outros componentes do tecido saudável.
O que os cientistas fizeram foi estimular o crescimento de folículos capilares em tecido em início de cicatrização, algo que não ocorre naturalmente. Aí ocorreu a surpresa: os folículos capilares por sua vez enviaram sinais químicos para o tecido em volta, estimulando o crescimento de células de gordura e outros componentes do tecido normal.
Uma proteína chamada Bone Morphogenetic Protein (BMP) foi identificada como a causadora da transformação de miofibroblastos em adipócitos. O efeito foi constatado em experimentos com ratos e com células humanas in vitro.
Promover crescimento de adipócitos também é útil em pele não-lesionada, pois com a idade tendemos a ter menos dessas células, o que provoca perda de sensibilidade e rugas. Ou seja: há um enorme potencial cosmético nessa tecnologia, o que significa que já temos quem pague pela pesquisa que beneficiará o pessoal com cicatrizes profundas.
Fonte: Penn Medicine News via Popular Mechanics.