Carlos Cardoso 8 anos atrás
Imagine que você vai comprar um carro. Escolhe as especificações, mas quando chega no motor depois de decidir que quer um turbo (ecoboost é o cacete, marketeiro maldito) 3,6 L V8 percebe que vai ficar bem caro, e a manutenção obrigatória também seria proibitiva.
O fabricante do motor (que não é o mesmo do carro) te faz uma proposta: “vou cobrar um valor nominal pelo motor, mais um aluguel, baseado em quantos quilômetros você anda com ele. No pacote entra custo de manutenção, peças, tudo”.
Você acha a idéia ótima e sai da concessionária com seu carro de motor alugado.
Parece bizarro, mas o modelo da aviação hoje é essencialmente esse. A culpa é da tecnologia. Não há NADA tão avançado quanto um motor (turbina é só uma parte dele) de aviação. Nada. Nenhum motor da SpaceX chega aos pés. Um motor de foguete pediria arrego se tivesse que funcionar durante horas. 0,01% do gelo que um motor desses, que tem que suportar sem danos 3 toneladas de chuva/gelo. Por minuto.
Isso tem um preço, e é bem alto: a Rolls Royce gosta de dizer que um carro comum custa seu preço em hambúrguer (e nem é o da Zebeleo), um motor de aviação da Rolls Royce custa seu peso em prata. Mesmo com vida útil de 25 anos, a cada 5 anos esses motores precisam ser desmontados totalmente, o que custa milhões de dólares em manutenção, fora a perda de receita.
O resultado é que o modelo de aluguel de motores cobrando por hora de uso é adotado por 50% dos motores antigos da Rolls Royce e 80% das vendas novas. E esses motores precisam ser monitorados, o que é mais complicado um tiquinho do que mandar um sujeito todo mês verificar o relógio do motor.
São milhares de parâmetros monitorados constantemente, nos modelos avançados enviados em tempo real dando ao fabricante uma visão completa do funcionamento dos motores, performance e como as empresas os estão utilizando. Só em 2008 a RR acumulada 60 GB por ano de dados de telemetria, o que é coisa pra caramba.
A GE, Pratt & Whitney e outras seguem o mesmo modelo. O business model da GE inclusive se chama “Power by the Hour”, e parte do princípio que se o motor estiver parado o cliente não ganha dinheiro e eles não ganham dinheiro, e parte do pacote são equipes de engenheiros prontos para chegar em qualquer lugar do mundo e consertar o que tiver que ser consertado.
A abordagem não é diferente da de uma empresa de energia, mas é como se colocarem o gerador na sua casa e cobrarem pelo uso. No final temos o oposto do modelo da Gilette, que te vende o barbeador barato e te cobra caro pelas lâminas.
Leasing não é de forma alguma novidade, mas o modelo de vender hardware cobrando por hora de uso resolve os custos proibitivos E evita a estagnação tecnológica. Só deve ser um pesadelo contábil, claro.