Carlos Cardoso 8 anos atrás
O Tomahawk é um míssil que entrou em serviço no começo dos Anos 80, e já fez de tudo, sendo lançado de navios, aviões, submarinos, caminhões, levando todo tipo de armamento, inclusive ogivas nucleares W80. Eles foram usados direto nas Guerras do Golfo e todos os conflitos posteriores.
No primeiro ataque nada menos que 288 foram disparados contra o Iraque, no maior ataque desde a 2ª Guerra. Comprovando a teoria de que armamento de precisão muda tudo, o ataque foi transmitido ao vivo do telhado do Hotel que hospedava a equipe da CNN, no centro de Bagdad. Em Dresden, 1945 isso não seria recomendado.
O custo individual de cada Tomahawk é de US$ 1,6 milhão; então cada vez que um é disparado é bom que seus 400 kg de explosivos cheguem ao alvo certo, mesmo a 2.500 km de distância. Essa aliás é a grande vantagem. O Tomahawk não é veloz, viaja a uns 800 km/h, mas voa por muito, muito tempo.
Ele é essencialmente um aviãozinho sem piloto, e se isso parece familiar, é a mesma idéia das bombas voadoras V1, da 2ª Guerra Mundial.
Hoje ele só é usado pela Marinha, vem sendo melhorado mas como a fabricação já estava em quantidade mínima e em 2015 Obama cancelou de vez novas encomendas, os estoques estão no fim. Em 2015 só foram comprados 100 novos Tomahawks. As estimativas são de que em 2003 o estoque era de 1.400 aproximadamente. Imagine hoje.
Como não faz sentido usar um míssil de US$ 1,6 milhão para matar dois sujeitos num camelo, boa parte dos alvos dos Tomahawks hoje são navais. Quando se fala em destruir um navio o preço fica mais interessante, e de vez em quando rolam uns exercícios bem legais.
Em um deles um Tomahawk sem ogiva explosiva foi lançado do USS Kidd, seguindo uma rota pré-determinada. Um F-18 sincronizou sua passagem e acompanhou o vôo. Em determinado momento um outro avião enviou um comando alterando o objetivo, que agora era um navio-alvo (se bem que para os submarinistas todos os navios são alvos) carregando uma parede de containers.
O Tomahawk passou a acompanhar o alvo em movimento, e poderia até transmitir imagens para o navio-base. Atingindo em cheio, ele atravessou os containers como se fossem de papel. No processo o tanque de combustível do míssil foi rompido na saída do outro lado do container, ele perdeu propulsão e quicou algumas centenas de metros. Um disparo lindo, coisa rara de se ver, até pelo custo.
Agora, o melhor: em cima do container atingido havia dois pombos, que tiveram o susto de suas vidas.
Imagine, você está tranquilo, conversando com seu amigo assuntos de pombo, quando do nada um Tomahawk atravessa o container onde você está, a 890 km/h e explode. Isso acaba com seu dia. Veja, é lindo:
TurbojetAquila — Amazing footage of F-18 chase Tomahawk missile
Agora o melhor do melhor: no vídeo a Marinha reconhece que os pombos estavam lá, aponta para eles mas — que legal — diz que sobreviveram. Isso, claro, é puro marketing, eles sabem que um bando de chatos iria chilicar e querer que abortassem o teste por causa de dois ratos voadores, mas a opinião pública é tão importante hoje que no site da Raytheon, fabricante do míssil não são mencionados os pombos e a imagem utilizada sofreu um corte estratégico:
Ou seja: tudo bem o míssil não saber a diferença entre uma mesquita e uma escola (tudo bem eu também não sei), e viver aparecendo como penetra em casamentos no Yemen, mas matar dois pombos, aí que traçamos a linha?
Quem diria, a velha piada de Hitler mandar matar 6 milhões de judeus e dois palhaços virou realidade.