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Após atentados a Paris, governo francês considera banir o Tor

Governo francês estuda aprovar leis para a internet a fim de conter o terrorismo; medidas visam restringir redes Wi-Fi abertas e banir o Tor completamente

8 anos atrás

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A França está se mexendo para conter os danos após os atentados a Paris no último mês, e não falo somente do ataque ao ISIS como forma de aumentar a moral do povo francês, que sofreu um baque psicológico e tanto.

Porém, como era de se esperar os políticos estão mirando em um velho desafeto das autoridades e poderosos de lá, a internet. Em julho foi aprovada uma lei em resposta aos ataques em janeiro ao jornal Charlie Hebdo, que dá às agências de inteligência poder para coletar e-mails, históricos de navegação, registros telefônicos e dados particulares de computadores e dispositivos móveis de qualquer um considerado suspeito de ser um terrorista (daquela forma bem vaga que praticamente abrange todos os cidadãos franceses), sem a necessidade de um mandado. Ela também permite que câmeras, escutas, keyloggers e dispositivos de rastreamento sejam instalados sem permissão e os provedores são obrigados a ceder os dados às agências caso sejam requisitados. Um paraíso Orwelliano completo.

Só que como tudo isso não foi o suficiente para evitar os ataques a Paris que vitimaram mais de 100 pessoas, as autoridades francesas julgaram estar pegando leve. Novas propostas apresentadas pelo Departamento de Liberdades Civis e Assuntos Legais do Ministério do Interior buscam fazer alterações em duas leis, inserindo novas restrições nas que tratam sobre o estado de emergência e o combate ao terrorismo.

A primeira nova regra é ligado ao estado de emergência, em vigor desde os ataques e que foi estendido pelo parlamento por três meses: a fim de limitar as comunicações online entre células terroristas (que usam e abusam da internet, como podemos ver aqui e aqui) donos de redes Wi-Fi públicas serão obrigados a desliga-las enquanto o período de alerta estiver em vigor, sob risco de sofrer ações penais bem duras. Vale lembrar que durante o estado de emergência a polícia tem poderes estendidos, podendo prender qualquer suspeito sem mandado, bem como aumentar as restrições nas fronteiras e impedir protestos. Em suma, este não é um bom momento para visitar o país.

 

A outra regra visa maior controle da internet no país como um todo, e a vítima novamente é nosso velho conhecido Tor. A rede distribuída, criada pelos nerds cabeçudos da marinha dos EUA é uma ferramenta que todo mundo usa, desde o profissional que quer driblar os softwares da empresa em que trabalha para entrar no Xvideos sem ser monitorado, passando pelos ativistas da Primavera Árabe e órgãos sérios, bem como criminosos em geral. As autoridades em geral que adoram controle odeiam o Tor, por permitir o anonimato completo dos seus usuários e não engolem o fato dele ser mantido pelo governo dos EUA.

Mesmo assim órgãos dentro de seu próprio país-natal não concordam com o Tor. A França, em sua atual situação também não o vê com boms olhos (na verdade nunca viu) e agora procura bloquear e/ou proibir de vez o acesso do serviço à internet no país, mas de forma diferente como a China fez, que tentou bloquear nós de acesso e foi facilmente contornado: a ideia é fazer com que os provedores identifiquem entre seus usuários quem usa o Tor, cortando o acesso e repassando a informação às autoridades, que tratariam de processar quem usasse o software.

Esse tipo de atitude é o que muitas autoridades evitam desde Snowden, mas em se tratando da França e da situação em que se encontra atualmente, é mais do que provável que tais medidas entrem em vigor. Daí a conseguirem de fato descer o banhammer no Tor são outros quinhentos.

Fonte: Le Monde (em francês).

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