Carlos Cardoso 9 anos atrás
Muito, muito tempo atrás a informática brasileira estava entre 10 e 15 anos atrasada em relação ao resto do mundo. Enquanto as pessoas brincavam com Apples e PCs, nós éramos obrigados a trabalhar com clones do TRS-80, tipo o CP-500. Computadores eram caros e defasados, periféricos quase inexistentes, software? 100% pirata, empresas não podiam vender aqui pois havia “similar nacional”.
Um dos similares nacionais era um clone do MS-DOS que perguntava “Deseja Continuar? (S/N)
”. Você apertava S, nada acontecia. Y, continuava.
Eram os tempos sombrios da Reserva de Mercado, uma abominação, algo tão funesto que era aprovada por comunistas e generais.
Os grandes heróis eram os Executivos de Fronteira, que traziam Apples, ZX Spectrums, PCs e outras peças. Um dia eles começaram a trazer um novo microcomputador, um tal de Amiga, e meninos, que coisa revolucionária.
Enquanto os PCs rastejavam com 256 cores o Amiga conseguia 4.096 em alta resolução (pra época). O normal era a CPU cuidar de tudo em um computador, já o Amiga foi projetado para ter chips dedicados. Quando GPU ainda era um conceito de ficção científica o Amiga já tinha um chip gráfico exclusivo, permitia manipulação de tela e janelas digna de um Windows dos dias de hoje.
O som era um capítulo à parte, e fundamental para a criação da cultura de demos, que persiste até hoje nos PCs. O vídeo abaixo roda em um Amiga com processador 68060 a 50 MHz e 16 MB de RAM. Note, MHz e MB, não GHz e GB.
O Amiga tinha capacidade nativa de Genlock. Com uma interface para entrada de vídeo, você conseguia sobrepor a imagem do computador a um sinal externo, criando legendas, infográficos, etc. Algo que VOCÊ não faz com seu computador hoje, sem comprar uma placa bem cara.
Em 1990 a NewTek lançou o Video Toaster, uma placa bem cara para o Amiga 2000 que era essencialmente um sistema de produção de vídeo digital realtime. Qualidade broadcast, 16 milhões de cores. Veja este demo, de, de novo, 1990.
O Amiga teve tudo para dominar o mundo, ele chutava bundas de todo e qualquer concorrente, mas não contava com seu maior inimigo: a Commodore, carinhosamente chamada no Brasil de Come e Dorme. Eles nunca souberam vender o Amiga.
Apesar dos jogos excelentes, a Commodore achou que ganharia mais com uma versão console da plataforma, o que fez com que menos gente comprasse o computador, e logo depois encostasse o brinquedo, pois os garotos cool tinham Nintendos e PlayStations. O Commodore CD-32 nunca disse a que veio.
A Commodore atirava para todos os lados, dispersando os esforços de marketing a ponto de desaparecerem na mídia. Sem internet os fãs eram muitos mas igualmente dispersos. Logo ter um Amiga se tornou uma excentricidade, e um a um nos rendemos ao PC. Uma pena, o Amiga tinha alma. Até os chips tinham nome, como Agnus, Paula, Denise…
Agora uma notícia aperta forte a glândula do saudosismo:
Um Amiga com 30 anos de idade controla aquecimento e refrigeração em 19 escolas em Grand Rapids Michigan. Ele monitora a temperatura, aciona boilers e ar-condicionados, utilizando um modem via rádio de 1.200 bauds.
O modem é tão antigo que usa a mesma frequência dos walkie-talkies do pessoal de manutenção, aí quando o computador fala, todos se calam para não atrapalhar. Skynet aprova.
Agora a cereja do bolo: o distrito escolar quer aposentar o Amiga, mas pra isso depende de verba, e o sistema substituto foi orçado em US$ 2 milhões.
Isso quase certamente garante que o bichinho continuará lá, trabalhando quieto, legal e confiável por mais alguns anos. Acho excelente, agora nós, amiguentos podemos dizer com orgulho “O Amiga não morreu” não mais como saudosismo e teimosia, mas como um fato inegável!
Hackerman Aprova!
Fonte: WOODTV, via Digital Trends.