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INFERNO NA TORRE!

Era pra ser uma história de terror. Ventoinha da placa 3D dando pane em meio a uma sessão de GTA, temperatura chegando a 150 graus, cheiro de queimado, mas não. Entre mortos e feridos salvaram-se todos. Ainda há engenheiros de qualidade trabalhando na nVidia…

9 anos atrás

chipdomal

Isso que você está vendo aí e não deveria é minha placa de vídeo, ou mais precisamente a GPU de uma GeForce 9800 GT. Está longe de ser topo de linha, mas tem uma performance bem aceitável para jogadores eventuais como eu. Lançada em 2008, roda DirectX 10 e me serviu bem por muito tempo, segundo minha tradição de comprar placa 3D sempre 2 ou 3 gerações atrás das atuais, afinal não acho meu dinheiro no lixo.

Eis que, enquanto passeava por Liberty City atrás de moças que trocam favores por dinheiro, percebi o jogo ficando lento. Logo ele entrou em Crysis Mode e virou um slideshow. Fechei, Windows normal. Abri, mesma coisa. Driver atualizado, continuou. Kerbal rodou lento mas isso é normal.

Ficou assim por alguns dias, até que ontem, um dia especialmente frio o GTA entrou. Beleza, mas logo depois travou, mais rápido que o habitual. Fechei na mão, quando voltou pro Windows a tela estava cheia de interferência. Chuvisco como TV com recepção ruim (pergunte a seus pais). O segundo monitor estava ok. Achei que o LG novo estivesse com pau.

Pluguei a SKY no monitor, tudo ok. Voltei pro PC. A tela aparecia, mas cheia de chuviscos, e segundos depois, desligava. Hum. Tive um pressentimento. Baixei um software de monitoramento e…

gpu

A temperatura chegou a 150 graus e o cheiro de queimado da torre só comprovou minha suspeita. Por algum mistério ou lerdeza minha fiz um shutdown normal, até a ficha cair. A ventoinha da placa de vídeo havia morrido, a GPU funcionava somente com o dissipador passivo (ui!).

Tirei a torre da estante, levei pra bancada, abri, puxei a placa de vídeo e AINDA me queimei com o dissipador. Nesse momento me lembrei do clássico teste do Tom's Hardware com CPUs, removendo o dissipador.

tribalninja — Toms Hardware: CPU Cooling

Naquele tempo as CPUs AMD eram péssimas, hoje elas não dão mais esse show pirotécnico, mas foi isso que lembrei, enquanto desmontava a placa.

Com a ventoinha queimada o dissipador sozinho não segurava a placa nem para uso com Windows, e comprar outra placa agora seria desperdiçar as doações generosamente oferecidas pelos admiráveis leitores de meu (modéstia à parte) excelente livro O Buraco da Beatriz.

Como poderia resolver provisoriamente isso?

Uma pessoa razoável sairia e compraria uma ventoinha de GPU nova, mas e a preguiça? E o medo de decepcionar o Mestre?

ads_macgyver1

Fuçando nas gavetas de tralhas achei uma ventoinha de gabinete zero bala. Ela é maior que o dissipador, mas não muito. Em um lado consigo prender na grade com parafusos longos. O outro lado, bem… se é pra Macgyverizar, Macgyverizemos direito. O bom e velho esparadrapo.

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Ficou grande mas encaixou na Torre, isso que importa. Veja na placa montada:

gpu2

Funcionou?

Sim, a temperatura caiu pra 101 ºC. Está longe, muito longe do ideal, mas vai segurar até eu ter paciência de comprar a ventoinha nova.

De minha parte fiquei admirado com a capacidade da GPU segurar até não poder mais, desligar o monitor HDMI quando a temperatura atingiu níveis estratosféricos, mas manter o segundo monitor, ligado na DVI funcionando normalmente. O nome disso é Degradação Graciosa, é uma forma elegante e complexa de fazer as coisas, uma das muitas idéias da Margaret Hamilton.

Em vez de simplesmente falhar o equipamento detecta a parte problemática, isola e tenta manter tudo funcionando, com performance reduzida mas garantindo a funcionalidade. É admirável que algo descartável como um chip de uma placa 3D pra consumidor final seja construído com esse tipo de arquitetura.

Convenhamos, seria difícil culpar a nVidia por queimar uma GPU se a refrigeração vai pras cacas e a temperatura atinge 150 graus por vários minutos. Nem o Laguna faria isso (mentira, faria sim).

Mais cedo escrevi sobre engenheiros que projetam produtos pensando em usuários abestados. Hoje reconheço engenheiros que pensam em situações extremas, e escolhem o caminho da elegância, da complexidade no bom sentido. É fácil escrever blogs em caixa-alta denunciando a obsolescência programada afinal seu iPhone 3GS não é mais atualizado, difícil é entender e respeitar o trabalho por trás dessas belas máquinas.

Criar chips que resistam a um cupim de ferro como eu não é pra qualquer um. Essa sobrevivência inesperada da GPU, a placa funcionando com a minha vergonhosa gambiarra me fizeram respeitar os engenheiros da nVidia. Afinal, é um mercado onde todo ano sai uma penca de placas novas, todas afirmando categoricamente que a sua anterior não é melhor que barro fofo e pedra lascada. E mesmo assim o chip resiste a um cenário catastrófico.

#RESPECT

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