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O que a Marvel pretende com as novas Guerras Secretas?

Com Secret Wars, a Marvel tem a chance de organizar seus gibis e manter o interesse dos fãs que vieram dos filmes. Mas do que se trata essa confusão?

9 anos atrás

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Uma verdade que muitos fãs de cultura pop não gostam de ouvir, principalmente os consumidores ávidos de quadrinhos: antes de mais nada é preciso fazer dinheiro. Se os produtos disponíveis hoje não estão rendendo eles vão dançar, simples assim.

Foi o que a Warner fez em 2011. O reboot de toda a cronologia da DC veio de cima, dos executivos da companhia que pretendiam modernizar toda a linha de gibis, atraindo dessa forma o público jovem. Muita gente chiou, mas a verdade é que eles estavam certos. Os Novos 52 venderam e vendem muito bem até hoje, o público foi renovado e os únicos que reclamam são aqueles como o Comic Book Guy. Azar deles, eles não são mais vistos como o público-alvo.

Desnecessário dizer que a Disney viu onde a Warner se deu bem, muito provavelmente olhou para a Marvel Comics e pensou: “por que não?”

Isso nos traz a Guerras Secretas, um mega-evento orquestrado em todas as publicações da Casa das Ideias destinado a mudar praticamente tudo o que conhecíamos até então. Claro que os motivos são mais mercadológicos do que editoriais, e por que não promover uma mudança total colocando todos os seus personagens numa mega arena para se baterem uns contra os outros?

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Hora de arrumar a bagunça

Assim como a DC fazia antigamente, a Marvel não publica histórias de apenas uma linha temporal — através das décadas ela criou diferentes universos, cada qual com sua gama de heróis, vilões e acontecimentos outrora semelhantes, outrora distintos. Só que diferente da concorrência ela nunca deu muita importância para isso, não chegou a fazer nenhum evento como a Crise nas Infinitas Terras a fim de organizar a ordem cronológica de suas publicações. Isso porque a Marvel sempre foi mais comedida, se reservando a brincar com esses universos alternativos apenas de vez em quando.

Isto é, até a chegada do Universo Ultimate.

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Em 2000 a Marvel possuía um plano ousado: pegar toda a cronologia principal e seus personagens e recontá-la do início, adaptada aos novos tempos em uma nova linha de gibis. Iniciado com o Homem-Aranha, seguido pelos X-Men e Os Supremos (Os Vingadores dessa realidade) o Ultiverso foi um sucesso estrondoso, vendeu gibis como água por anos e foi a base para o Universo Marvel no cinema, embora ainda utilize alguns elementos do Universo 616 (o mainstream).

Só que nem tudo dura para sempre, com o tempo as vendas caíram vertiginosamente e mesmo mudanças radicais, incluindo a morte de diversos personagens não segurou os números. Miles Morales, o Homem-Aranha afro-hispânico que assumiu o manto de um falecido Peter Parker tem vendido bem, mas de fato não é o suficiente.

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Miles Morales, o atual Homem-Aranha do Universo Ultimate

As publicações normais também não iam bem, e a Marvel (ou melhor, a Disney) se viu com um problema: era preciso alinhar as HQs com o cinema e diminuir a confusão na cabeça de novos leitores. Pequenos retcons foram feitos aqui e ali, inclusive trocaram o Nick Fury do 616 por um afro descendente como é no Ultiverso. Só que é preciso mais.

A Marvel vem ensaiando com indiretinhas aqui e ali há anos que algo grande está para acontecer, e nos últimos meses a saga Time Runs Out mostra o que acontece: o Multiverso está indo para a cucuia. Realidade atrás de realidade está sendo apagada da existência, e no fim as duas últimas (616 e Ultiverso) vão colidir e se aniquilar, de vez.

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Aí entra Guerras Secretas. O evento será uma mega-arena onde pedaços de diversos universos se unirão em um planeta chamado Battleworld (sim, muitas das referências vêm das Guerras Secretas originais, mas num escopo mais amplo), onde os personagens se baterão uns contra os outros.

Mas mais do que isso, a Marvel prepara este evento como uma grande caixa de areia: várias publicações e tie-ins farão referências a diversas fases passadas nos quadrinhos nesses 75 anos da Marvel. Teremos publicações baseadas em arcos dos X-Men (como Dias de Um Futuro Esquecido, Inferno, Era do Apocalipse e até uma baseada no desenho dos anos 1990), Hulk (Planeta Hulk e Futuro Imperfeito) e outros, bem como sagas e publicações especiais como 1602 (a minissérie premiada de Neil Gaiman), Old Man Logan e Dinastia M também serão revisitadas.

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Vão reviver até o desenho dos anos 90 dos X-Men nessa confusão

Ou seja, Guerras Secretas será uma grande bagunça, com diversos títulos mirando em diversos perfis de leitores, dos mais novos aos mais velhacos, que gostariam de ver novas histórias com esses personagens.

Mas e depois?

A ideia principal não é fazer um reboot completo como o que a DC fez em Novos 52, e editora já deixou claro que tudo o que aconteceu na realidade principal continuará valendo. O Universo Ultimate por outro lado irá pelos ares, deixará de existir e alguns de seus elementos serão incorporados ao universo que sobrar.

Morales por exemplo vai parar na nova formação dos Vingadores, e a Marvel já deixou claro que “Parker não irá a lugar nenhum”, portanto fiquem sossegados.

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Ao mesmo tempo a Marvel tem outros pepinos para desenrolar. A editora fechou um acordo com a Sony e o Aranha irá aparecer nos próximos filmes da Marvel Studios, mas o mesmo não pode ser dito das franquias X-Men e Quarteto Fantástico. É percebível a falta de interesse da Marvel principalmente nesta última devido a insistência da Fox em não abrir mão das franquias que detém, nem para licenciamento, visto que tanto o grupo recentemente foi desmantelado nos quadrinhos quanto seu futuro como grupo pós-Guerras Secretas permanece incerto.

Com os mutantes é a mesma coisa: o interesse por ele diminuiu, tanto que a Marvel tem promovido muito mais os Inumanos (que ganharão filme em 2018 e já apareceram em Agents of S.H.I.E.L.D.) como plano alternativo. Embora eles tenham ganhado várias publicações durante as Guerras Secretas, os primeiros teasers de após a saga não deixam muito claro o que se seguirá. E com a Fox prometendo um filme decente do Deadpool, a situação não deve se alterar tão cedo.

O fato é que a Marvel viu o dinheiro entrar com os filmes, o que desencadeou em diversos produtos de merchandising tais como brinquedos, games, animações e consequentemente a procura pelos quadrinhos aumentou. Só que muitos leitores novos não vão entender bulhufas do que está acontecendo, e para manter as vendas altas é preferível dar uma reformulada básica, se livrar do que não está dando lucro e manter um universo coeso e próximo do que foi visto do cinema é importante.

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