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Balonistas pretendem recriar plano de guerra japonês da 2ª Guerra

No final da Segunda Guerra o Japão tentou um plano doido para derrotar os EUA (spoiler: não deu certo). Agora um russo e um norte-americano estão mais ou menos repetindo o plano, decolando de território japonês, com planos de atingir a América do Norte… em um balão.

9 anos atrás

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A guerra costuma trazer muita inovação tecnológica, mas nem toda idéia é genial. Se de um lado tivemos os foguetes V2, o Messerschmidt Me 262, o Projeto Manhattan e o radar, do outro lado tivemos navios com torres lança-chamas para espantar aviões, a bomba voadora controlada por pombos, os cachorros-bomba russos e… os balões de fogo japoneses.

A idéia era simples, prática, inédita e idiota: em 1944 os japoneses começaram a lançar balões com 1 kg de explosivos. Como Aquaman não havia declarado guerra ao Império do Sol Nascente, a princípio isso não fazia sentido.

É que eles estavam apostando em um fenômeno ainda pouco conhecido na época, as Correntes de Jato. Basicamente são “rios” no limite entre a atmosfera e a troposfera, onde faixas estreitas de ar se movimentam muito mais rápido do que o resto em volta. Qualquer um que já desobedeceu a ordem “não vai pro fundo ali tem corrente” na praia sabe como é isso.

E por mais rápido eu digo muito mais rápido, já se registraram correntes de jato a mais de 400 km/h. Outro dia um Boeing 777 fazendo New York → Londres chegou NOVENTA minutos antes do planejado. Aviões sempre pegam as correntes de jato quando estão favoráveis, mas dessa vez a danada estava com mais de 200 milhas por hora de velocidade. Isso resultou em uma velocidade de solo de 1.224 km/h. Visto de terra era um Boeing 777 supersônico, mas dentro da corrente de jato ele não estava voando tão rápido.

Entendeu? É como você num carro a 80 km/h atirando uma bola a 30 km/h na nuca da sua irmã chata no banco da frente. Dentro do carro a bola se move a 30 km/h. Quem medir de fora identificará 110 km/h.

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Os balões japoneses pegariam a Corrente de Jato, chegariam nos Estados Unidos, cairiam e destruiriam fábricas, refinarias e quartéis dos malditos demônios ocidentais de olhos grandes. Isso na teoria.

O hardware em si era genial, usavam altímetros para soltar o lastro se o balão descesse demais ou liberar hidrogênio se subisse, planejaram pra quando fosse de noite o balão liberasse lastro pra compensar a queda de temperatura, e no final de 3 dias, o tempo da viagem, o balão soltaria todo o lastro, as bombas depois e se autodestruiria.

Os japas estimaram que 10% dos balões chegariam ao alvo, assumindo que o alvo era o continente americano. Por seis meses, começando em novembro de 1944 foram lançados balões explosivos, num total de 9.300. Os EUA identificaram casos isolados, mas ninguém sabia de onde estavam vindo. Alguns achavam que eram prisioneiros alemães em campos no país, outros que japoneses com submarinos lançavam da Costa Oeste.

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Cientistas entraram no circuito, estudaram a areia usada como lastro, identificaram espécies de algas diatomáceas e determinaram não só que os balões estavam vindo do Japão, como para garantir que seriam chamados de nerds, identificaram de qual praia estavam pegando a areia.

Rolou uma cortina de silêncio. Alguns jornais publicaram uma ou outra notícia de avistamentos, mas o Departamento de Defesa pediu delicadamente que não noticiassem nada, para não dar ao inimigo dica se o plano estava funcionando.

Em 5 de maio de 1945 Elsie Mitchell, uma moça de 26 anos, esposa de Archie Mitchell, pastor da cidade estava curtindo um piquenique com o marido e 5 crianças da comunidade, entre 11 e 14 anos. Enquanto ele saiu pra estacionar Elise viu um balão caído no meio de um descampado. Elas e as crianças se aproximaram para ver o que era, quando o balão explodiu. Elise, grávida do pastor e as cinco crianças foram as únicas vítimas dos balões incendiários japoneses.

Depois disso a mídia levantou o embargo, mas logo depois o Japão desistiu dos balões, não pareciam estar funcionando e saíam muito caro. Mais adiante, claro, foi a vez dos EUA, no melhor estilo “o meu é maior do que o seu”.

O Projeto Atual

É o Two Eagles, o objetivo é quebrar o recorde de distância percorrida em um balão a gás, que permanece o mesmo de 1981. Troy Bradley, americano, e Leonid Tiukhtyaev, russo (dãã), decolaram de Saga, no Japão, e se tudo der certo em 5 dias pousarão em algum lugar da América do Norte.

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O balão utiliza hélio e os bons e velhos sacos de areia como lastro. 5 toneladas mais ou menos. A cápsula é de kevlar e fibra de carbono, pesa uns 100 kg, sem equipamentos. O conjunto teoricamente tem 10 dias de autonomia.

Quanto aos pilotos não se preocupe, eles não estão sozinhos. Estão levando:

  • 2 telefones de satélite Iridium
  • 2 rádios VHF aeronáuticos
  • 1 rádio em frequência marítima
  • 2 rastreadores de satélite
  • 2 transponders de aviação
  • 1 rádio-amador VHF/UHF
  • 2 radiofaróis de emergência rastreados por satélite

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Ou seja: nem usando Apple Maps eles se perdem.

Como está a viagem? Muito bem, já percorreram 2.148 km, em 26 h 09 min. Neste momento eles estão a 5.302 m de altitude, viajando a 94 km/h. Como eu sei? Fácil, sou discípulo do Jucelino e… não, mentira. Esqueceu que estamos vivendo no futuro?

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Isso mesmo, dá pra acompanhar a posição do Two Eagles ao vivo, em tempo real, na hora, via este site aqui.

O arquivo do lançamento, aqui. No Face a página oficial é esta.

A tecnologia tornou o mundo menor, e algumas vezes isso é ruim, ficamos com a impressão de que não há nada mais a desbravar, terras a descobrir, mares a singrar, mas basta colocar a cabeça pra fora do buraco e a gente descobre que há muito, muito a se ver, mesmo que seja através do monitor. Ele não é uma barreira, se você quiser se torna uma janela para esse mundo, que como diz o Discovery, é incrível:

http://www.youtube.com/watch?v=0ukAMQsTSwkbenj040504 — Discovery Channel The World Is Just Awesome 1 and 2

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