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Desencruou: o caça do Brasil será o Gripen

ALELUIA! Encruado desde os Anos 90, saiu finalmente a decisão sobre o caça de nova geração do Brasil. Dilma bateu o martelo e compraremos o sueco JAS-39 Gripen. Ou melhor ainda: desenvolveremos em conjunto, com direito a transferência de tecnologia.

10 anos atrás

saab

Nos primeiros dias da Guerra das Falklands fomos surpreendidos no Rio por um estrondo que assustou todo mundo. Dois F5 da Base Aérea de Santa Cruz decolaram em uma missão de emergência, rompendo a barreira do som em cima do Centro da Cidade, quebrando vidraças e tudo. Eu estava na rua, com meus amigos, e a Rede de Informação logo entrou em ação. O pai de um amigo meu era rádio-amador, gringo e estava monitorando canais militares desde o começo da Guerra. Aparentemente um avião inglês havia declarado emergência e vinha pousar na Base Aérea do Galeão.

Eu morava paralelo à rota de aproximação final, então juntei os colegas e ficamos a tarde toda esperando. Fomos recompensados. Um lindo Vulcan inglês pousou, gigante e absurdamente barulhento. Na televisão, o Governo dizia que o Vulcan havia sido interceptado, mas nós sabíamos que isso não seria possível. Não tínhamos NADA em nosso arsenal capaz de interceptar um Vulcan.

Isso foi em 1982. No ano de 1998 continuávamos com os mesmos aviões. F5s decrépitos e Mirages obsoletos. Após muita choradeira, o Governo resolveu criar o Programa FX, para adquirir novos caças de 4ª Geração para a Força Aérea. FHC enrolou, enrolou, enrolou, passou a batata-quente pro Lula, que enrolou, enrolou, cancelou o FX e lançou o FX-2, enrolou, enrolou e passou o abacaxi pra Dilma, que enrolou quanto conseguiu, mas nossos Mirage estavam completamente inutilizados, os F5 estão voando basicamente movidos por Fé e Teimosia, enquanto isso nossos vizinhos estão ficando assanhadinhos.

A Argentina tem 23 A4s e 18 Mirages F1, além de F3 e outros menos avançados. A Venezuela tem 24 Sukhoi SU-30 e 18 caças F16. O AMX é legal e tudo mas não é páreo pra um Sukhoi, e muito menos o F5, um avião que voou pela primeira vez em 1959. A maior defesa seria tentar acertar o caça inimigo com uma das válvulas do sistema de navegação.

Como um programa desses envolve bilhões de dólares todo mundo se interessou, mas as condições brasileiras não eram atraentes para alguns participantes. Exigimos além de comprometimento de longo prazo, parceria estratégica, nacionalização de componentes, transferência de tecnologia e montagem em fábricas no Brasil.

Inicialmente a Boeing, com o F16 e o F18 disse não, mas com o passar dos anos, vendo que o Brasil iria se alinhar com os russos ou os franceses, mudaram de tom, mas foi muito pouco, muito tarde. Resumindo uma lenga-lenga que acompanhei desde o início, optamos pelo cacinha sueco, um avião que nem existe ainda, e que a primeira unidade será entregue à FAB 4 anos APÓS a assinatura do contrato. Sim, no mundo das aquisições envolvendo bilhões, são condições boas.

O Sueco é Bom?

 
É. Não é o melhor, melhor. O F18 é o pé-de-boi dos EUA e continuará sendo por vários anos ainda, tem peça vendendo até no Mercado Livre e tem um excelente histórico de combate. O Sukhoi SU-35MB é o preferido de todos os fanboys (eu incluso) com alcance quase infinito e propulsão vetorial. Só que não dá pra fazer uma compra dessas baseada em fanboizismo.

Su-35S-KnAAPO-2P-1S

No final a proposta da Saab foi a melhor. Envolve US$ 4,5 bilhões, 36 caças de 4,5ª Geração e a Aeronáutica está bem satisfeita.

A rigor o JAS-39 Gripen NG não existe ainda, está em desenvolvimento, mas isso é bom. Na proposta o Brasil terá voz ativa no processo, empresas brasileiras (principalmente a Embraer) serão parceiras e teremos propriedade intelectual sobre o que for desenvolvido em conjunto.

Mais ainda: os suecos toparam transferência de tecnologia, incluindo código-fonte dos sistemas do Gripen, o que facilitará a integração com sistemas de armas existentes e a ser desenvolvidos por fabricantes nacionais de mísseis e radares.

Do ponto de vista prático, o Gripen não tem a autonomia do Sukhoi, dependerá de reabastecimento em vôo. Que bom que a Embraer está desenvolvendo o KC-390, justamente pra isso (também). Em compensação ele foi pensado para ser usado na Suécia, em uma guerra contra a União Soviética. Soa estranho, eu sei, mas isso é a cara do Brasil.

O Gripen pode pousar em rodovias, decolar de pistas cobertas de neve e só precisa de 800 m de reta.

cacinha

Chiquito pero cmnplidor

Ele tem muitos componentes que não precisam de manutenção, uma boa parte que precisa de pouca ou quase nenhuma, e um sistema de diagnóstico que automatiza a maior parte das checagens e inspeções de segurança. Ao contrário dos concorrentes, ele foi pensado para que entre pousar, ser inspecionado, abastecido, rearmado e decolar de novo, leve apenas 10 minutos, tudo feito com um técnico e cinco peões.

A longo prazo isso gera custos bem menores, algo que a FAB, que vive na penúria, adora.

Ele opera com datalink e integra toda a inteligência eletrônica da esquadrilha, incluindo sinais de aviões-radar R99 da Embraer, que convenientemente usam radares também da Saab.

Aqui um filminho com história, mostrando as qualidades do bicho.

O Gripen é o melhor caça do mundo? Não, claro que não, teria dificuldades de sobreviver alguns minutos contra um F22, mas para tristeza do PCO as possibilidades de conflito com os EUA são mínimas. Para nossa realidade nas próximas décadas um caça de 4,5ª Geração atende perfeitamente, cumprindo tarefas de dissuadir inimigos em potencial.

E ainda tem o Snowden

 
Algo que NUNCA será admitido é que a história dos EUA espionarem o Brasil teve influência na decisão, mas obviamente foi um dos fatores. É assim que países adultos punem outros países adultos quando são apanhados fazendo besteira. Não é com ameaças, não é com chiliques públicos, não é dando asilo a nerds fofoqueiros que não trazem nenhum benefício. Responde-se atacando o órgão mais sensível: o bolso.

A Boeing gastou uma grana preta em Lobby, mas o Governo não deu bola. Assim como não deu bola pro lobby pesado da Dassault, que contava com o Presidente francês E o Lula para vender o Rafale. Só que Dilmão é casca-grossa e bicho ruim de convencer, e a FAB já havia explicado que dadas as circunstâncias o Saab era melhor.

Agora são uns 10 meses para negociações dos detalhes do contrato 4 anos de produção e presto, teremos nossos lindos caças. E convenhamos, dado nosso programa espacial, isso é praticamente entrega expressa.

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