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Antes tarde do que nunca, estão desenvolvendo um DeLorean voador

Ok, Back to the Future previu carros voadores para 2015, mas dá pra entender um pequeno atraso se o carro em questão for um DeLorean, e é o que estão prometendo: a DeLorean Aerospace está produzindo um. A má-notícia: não vai acontecer.

6 anos e meio atrás

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Uma das constantes mais prevalentes em qualquer obra de futurologia é o carro voador. É uma certeza, praticamente. Desde antes da popularização dos carros. Desenhos vitorianos previam um futuro onde todo mundo teria dirigíveis, depois aviões e helicópteros particulares.

Inventores vem tentado sem sucesso unir automóveis e aviões, e a cada geração a moda volta, a mídia começa a vender o peixe de que será iminente a chegada dos carros voadores. Aí eles saem de moda, e espera-se mais 25 anos.

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Existem literalmente dezenas de motivos pelos quais nunca (ao menos dentro de uns 300 anos) teremos carros voadores. O Lito do Aviões e Músicas, que é muito mais paciente qualquer dia explica alguns desses motivos.

Isso não impede que as pessoas continuem tentando. Carros voadores estão quase chegando, desde antes de Santos Dumont, mas tudo bem. Temos vários modelos em desenvolvimento atualmente, o que também é normal. Todos vão virar protótipos, alguns vão até voar, então as pessoas perceberão que são caríssimos, nada práticos, e será muito mais barato deixar o carro no estacionamento e pegar um avião comum.

A novidade é que um dos carros voadores em “desenvolvimento” pra variar tem pedigree. Todo mundo que viu De Volta para o Futuro sonhou em ter um DeLorean voador.

O filme foi a salvação da imagem do carro, que até então era visto mais como uma curiosidade, por causa da estranha história de John DeLorean.

Ele foi uma rara, quase única mistura de engenheiro com marketeiro, playboy e homem do povo. Formado em engenharia, vendeu seguros de vida por um ano para aprimorar suas habilidades interpessoais.

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John DeLorean passou por quase todas as grandes empresas automobilísticas, e em cada uma deixou sua marca. De um salário inicial de US$ 14 mil em 1957 na Packard, ele chegou a US$ 200 mil com bônus de US$ 400 mil em 1969, quando foi promovido na GM para chefiar a Chevrolet.

Esse foi seu teto de vidro, John era playboy demais, andava com astros de cinema, apresentadores de tv, músicos e executivos da concorrência. Não usava terno e gravata, não passava a imagem de seriedade necessária para ser presidente da GM, embora fosse seu caminho natural.

Ele deixou a General Motors em 1973, para realizar o sonho da montadora própria, e colocar em uso tudo que aprendeu no mercado automobilístico. Infelizmente o DeLorean DMC-12 era um carro muito desigual. Algumas características eram inovadoras, como a carroceria de aço sem pintura, outras nem tanto, como o patético motor Renault que ele teve que usar.

A fábrica da DeLorean foi construída na Irlanda do Norte, aproveitando incentivos fiscais, e os fornecedores naturalmente eram europeus, o que resultou em um carro que não agradava aos americanos, por ser muito fraco, e não agradava aos europeus, por ser muito americano.

Os DeLoreans começaram a ser vendidos em janeiro de 1981. Em fevereiro de 1982 menos da metade dos 7.000 carros produzidos não haviam sido vendidos. No final em 21 meses a fábrica botou na rua, ou pelo menos no pátio 9.000 carros.

A empresa estava com US$ 175 milhões em dívidas e John DeLorean estava desesperado. A ponto de aceitar uma proposta de um conhecido: traficar 27 kg de cocaína para os EUA. Seria parte de um esquema para contrabandear 100 kg de pó, e com isso faturaria US$ 24 milhões.

John viu nisso a chance de salvar sua empresa, que precisava honrar dívidas de curto prazo de US$ 17 milhões.

Ele foi preso em um hotel próximo ao Aeroporto de Los Angeles. O tal conhecido era um informante do FBI e a transação toda foi uma armação do FBI.

O julgamento surpreendeu muita gente. A defesa demonstrou que toda a operação foi armada, que quem apresentou e operacionalizou a idéia foi o tal de Hoffman, que além de informante do FBI era um criminoso com passado bem sujo, que ganharia várias vantagens se conseguisse incriminar John DeLorean.

Foi demonstrado que o próprio FBI conseguiu a cocaína, e que Hoffman sabia que DeLorean estava passando por dificuldades financeiras. A ficha limpíssima de John também ajudou. O Juri o inocentou, e seu advogado não precisou chamar nenhuma testemunha de defesa.

Infelizmente a empresa estava arruinada, assim como a reputação de John DeLorean. Ele nunca mais trabalharia na indústria automobilística. Isso foi em agosto de 1984.

Em 3 de julho do ano seguinte, estreava um filme onde um DeLorean era figura proeminente, e o carro que ninguém gostava e seria esquecido pela história se tornou objeto do desejo de toda uma geração.

No dia 23 de julho John DeLorean escreveu para Bob Gale, produtor de De Volta Para o Futuro agradecendo por ter imortalizado o DMC-12. “Obrigado por dar continuidade a meu sonho de uma forma tão positiva”.

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John DeLorean teve oportunidade de ver seu carro na tela grande mais duas vezes, embora ele provavelmente não tenha gostado da cena em que ele é destruído no final de BTTF 3.

Ele morreu de um derrame em 2005, aos 80 anos. Foi enterrado com honras militares, por ser veterano da 2ª Guerra. Sua sepultura traz a imagem inconfundível de seu sonho:

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Agora quem está sonhando alto é Paul DeLorean, seu sobrinho. Ele fundou a DeLorean Aerospace e está projetando um carro voador.

Como sempre os detalhes são mínimos, o hype é máximo, as promessas são incríveis e tudo que temos são imagens geradas por CGI de computação.

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Em verdade tenho poucas dúvidas de que por pelo menos mais uma geração a referência de DeLorean voador continuará sendo a de John DeLorean e Marty McFly.

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