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Jimmy Iovine, do Apple Music: “o streaming gratuito deve ser restringido”

Jimmy Iovine acredita que o modelo gratuito dos apps de streaming de música (algo que o Apple Music não tem) prejudica os artistas, e deve ser combatido com estratégias para restringir seu uso e melhorias dos serviços pagos.

7 anos atrás

Não é novidade que a Apple está fazendo de tudo para puxar o tapete do Spotify em prol do Music, seu próprio serviço de streaming. O maior poder de negociação com as gravadoras está prejudicando seriamente a startup sueca, que desde 2015 não consegue manter contratos de longa duração com Warner, Sony e Universal e tem que negocia-los mensalmente.

Embora as três tenham ações no Spotify, o modelo de negócios do Apple Music acaba sendo muito mais lucrativo pelo fato de não ter uma modalidade gratuita. Hoje apenas 25% dos usuários do serviço líder do setor são assinantes, o resto se vira no modelo gratuito que tanto a Apple quanto as gravadoras vêm se esforçando para restringir, embora a última nunca tenha admitido isso. Até agora, graças a uma entrevista exclusiva concedida pelo executivo da Apple e produtor musical Jimmy Iovine.

Iovine foi o criador do antigo Beats Music junto com Dr. Dre, o serviço adquirido pela maçã e remodelado para o que hoje conhecemos como Apple Music; mesmo naquela época o app já não tinha modo gratuito, isso porque desde muito tempo atrás (Iovine atua no cenário musical há décadas,  foi engenheiro de som de John Lennon e Bruce Springteen no início dos anos 1970 e como produtor trabalhou com gente do calibre de Patti Smith, Tom Petty & The Heartbreakers, Simple Minds, Pretenders, U2 e etc.) Iovine sempre defendeu que os músicos devem ser pagos pelas suas criações. Logo, para ele o modelo de streaming gratuito oferecido pelas principais plataformas do mercado é algo que ele não só não admite como combate diretamente.

O fato do Apple Music não ter um modo gratuito é um reflexo de sua filosofia e como tanto ele quanto a maçã (que também tem música nas veias, culpa de Steve Jobs) concordam que música não deveria ser oferecida de graça, ambas atuam diretamente com os músicos e gravadoras para restringir diretamente os planos dos concorrentes.

Que isso em tese se reverte em mais dinheiro para a Apple é um mero detalhe.

Na entrevista concedida ao Music Business Worldwide na semana passada, Iovine foi categórico ao afirmar que a distribuição gratuita de músicas (note, em nenhum momento eu mencionei pirataria), mesmo com veiculação de anúncios como o Spotify faz (e que têm zero direcionamento, ele simplesmente exibe a mesma propaganda para todos os perfis de usuário e ignora o que você escuta; você pode ser um true headbanger, mas vai engolir spots de música sertaneja como todo mundo a menos que assine o serviço) é "um problema que deve ser enfrentado" e deu sua fórmula para resolver a situação:

"O fato é que o modelo de streaming "livre" é tão tecnicamente bom e onipresente que está impedindo o crescimento do streaming pago. Duas coisas precisam acontecer: o modelo gratuito precisa se tornar algo de difícil acesso ou ser restringido, e os serviços pagos precisam melhorar.

Os músicos acreditam que no momento há pouco dinheiro no mercado musical, então muitos deles estão investindo exclusivamente em divulgação – e isso significa ter um álbum que atinja o topo das vendas.

Nós temos que usar tudo o que temos para melhorar a experiência dos serviços pagos e fazer com que os usuários se sintam especiais, e para que os músicos se sintam encoraja-los a promovê-los."

Iovine não acredita que o mercado de streaming estará melhor sem Spotify, Deezer e cia. limitada, na verdade ele até prefere que todos eles trabalhem em conjunto com as gravadoras de modo a melhorar os serviços de assinatura, oferecendo mais e melhores vantagens e estimulem o ouvinte a se tornar um assinante. O que o executivo não aceita, no entanto é que as modalidades gratuitas continuem tão boas que justifiquem a permanência dos usuários a utilizar tais plataformas sem pagar.

Uma das opções, que é a preferida das gravadoras é exterminar de vez as modalidades livres mas isso só estimularia ainda mais a pirataria; a defendida por Iovine, que vem sendo posta em prática no entanto é impor restrições aos assinantes gratuitos de modo que eles fiquem com uma experiência ruim, capada e nada agradável. Mesmo o Spotify já começou a fazer isso, ao impor um delay aos lançamentos dos artistas mais conceituados e valiosos (que pode ser de semanas, meses ou permanente).

Outras opções seriam aumentar o número de anúncios, limitar ainda mais os recursos (como criação de playlists, possibilidade de mudar de faixa, áudio apenas na qualidade mais baixa, etc.) e obviamente melhorar a experiência paga, oferecendo vantagens exclusivas para que o usuário pense que vale muito mais abrir a carteira do que utilizar com um serviço limitado.

Iovine não é besta, ele sabe que se o Apple Music tivesse uma modalidade gratuita ele contaria com muito mais assinantes, mas isso é algo com o qual ele não pode cooptar e que a melhor forma de combater a pirataria não é oferecer tudo de graça:

"Algumas pessoas acreditam nisso, outras não. Eu sou uma das que não acredita. Steve Jobs também não acreditava. Eddy Cue (SVP de Softwares de Internet e Serviços da Apple) idem. A Apple não pensa assim. Oferecer uma modalidade gratuita traria mais de 400 milhões de usuários para o Apple Music e tornaria meu trabalho muito mais fácil, mas acreditamos que os artistas devem ser pagos. Por isso me uni à Apple.

(...) Os artistas estão sendo prejudicados, ponto. Eu não entendo como alguém pode apoiar tal cenário. É nossa responsabilidade mudar isso."

Eu sei que o mantra já está batido, mas o que Gabe Newell disse certa vez é verdade: pirataria se combate com bons serviços. A questão é que a modalidade gratuita das plataformas de streaming não agrada as gravadoras e artistas, e a linha de raciocínio de Iovine e da Apple é semelhante. Restringir a oferta livre pode a princípio espantar os usuários de volta para a Locadora do Paulo Coelho, mas a médio prazo pode ser que os serviços pagos, se realmente vantajosos possam retê-los.

O que não pode é cortar quem não paga e não dar nenhuma vantagem para quem paga, isso sim é um convite ao desastre. O Spotify que o diga, que até hoje não consegue dar lucro.

Fonte: Music Business Worldwide.

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