Nós vamos pra Marte, bitches!

Elon Musk é obcecado com Marte, e por um bom motivo. Nós, como espécie temos tido sorte, muita sorte, mas é só uma questão de tempo até um grande asteróide entrar em rota de colisão com a Terra, e todos sabemos o que acontece com espécies, como dinossauros e brasileiros, que não têm um programa espacial.

A realidade cruel é que qualquer coisa maior, justamente o tipo de objeto capaz de gerar eventos de extinção, é totalmente impossível de ser detido com nossas capacidades tecnológicas. Não temos a menor idéia se o monte de planos esboçados darão certo, ninguém sabe a eficiência de lasers, motores iônicos ou pintar metade do asteroide de branco. Dependendo do tempo disponível, talvez não possamos fazer nada.

É essencial que nos tornemos uma espécie multiplanetária, e o único planeta que temos condição de habitar com a tecnologia atual ou próxima, é Marte. Chegar lá é simples: exige pouco mais energia do que ir até a Lua, só demora mais. Construindo habitats em cavernas resolvemos o problema da radiação, e há água no solo suficiente para nosso uso. A quantidade de CO₂ na atmosfera e a baixa gravidade significam plantações com muita produtividade, mas é preciso dar o primeiro passo.

A SpaceX sempre falou semi-oficialmente que quer Marte, mas como não há contrato comercial para isso, tudo vai sair do bolso da empresa, coisa que normalmente significa "não vamos fazer", vide a quantidade — zero — de experimentos que as empresas aeroespaciais tradicionais fizeram.

Não Elon Musk. Hoje a SpaceX anunciou parte de seus planos, e não é nada estilo Kennedy prometendo coisas pro fim da década.

Isso mesmo. Prometeram pousar uma Dragon V2 em Marte até 2018. Não-tripulada, claro, é uma missão cujo principal objetivo é mostrar que pode ser feito, e principalmente será com dinheiro da própria SpaceX. Enquanto países inteiros não conseguem lançar cubesats, uma empresa privada irá pousar em Marte. A NASA já confirmou que será parceira não-financeira, fornecendo dados para o pouso em troca de dados coletados durante a missão.

A Dragon V2 aliás é bem versátil: segundo meu parça Elon Musk, ela é capaz de pousar em qualquer superfície do Sistema Solar, mesmo Vênus, embora não dure muito por lá. Querer que a nave resista a uma pressão de 90 atmosferas, temperaturas de quase 500 graus e atmosfera corrosiva é forçar a amizade quase tanto quanto chamar Elon Musk de parça.

A parte mais atraente é que como não estará desperdiçando espaço levando astronautas e suprimentos, a Dragon poderá transportar toneladas de carga útil científica. Neste momento já deve ter gente mandando e-mail pro Musk perguntando quem tem que matar pra colocar alguns quilinhos de carga nessa Dragon.

O primeiro teste orbital da Dragon V2 está marcado para maio de 2017. Isso é bem apertado. A cada 26 meses abre-se uma janela de transferência para Marte, onde chega-se com o menor tempo e gasto de energia. A última foi 11 de março, qualquer coisa lançada nesse dia chegaria em Marte 26 de novembro do mesmo ano.

A próxima janela é 30/4/2018, com chegada prevista para 15/1/2019 (astrologia é uma ciência fantástica, não?) então a menos que Elon Musk tenha energia de sobra, são essas as datas que a SpaceX tem para trabalhar.

Dado que eles não têm um paraquedas supersônico, não tem um escudo de calor e softwares de pouso testados, nunca simularam nada na gravidade e atmosferas marcianas, e sequer são compatíveis com a rede de comunicação de espaço profundo da NASA, projetar uma missão completa em 733 dias é loucura, é quase como se fossem mesmo salvar o Watney.

Mesmo assim, eu aposto que vão conseguir, a quantidade de gente dizendo que não é possível é o tipo de incentivo que nerds adoram. Só digo isso: não vai ter pizzaria pobre em Hawthorne, California e serão vendidas centenas de unidades do adesivo “Não preciso de vida social, estou mandando um foguete pra Marte”.