Carlos Cardoso 8 anos atrás
No começo do ano uma competição de ciclismo off-road terminou muito mal pra uma dona chamada Femke Van den Driessche. Essa atleta belga, campeão nacional e européia na categoria teve a corrente de sua bicicleta partida logo no começo da corrida, e como todos que recebemos e-mails sabemos, quebrar correntes traz consequências terríveis.
No caso da Femke as consequências começaram a aparecer quando a bicicleta foi inspecionada e descobriram fios suspeitos saindo do assento. Um exame mais minucioso e acharam algo parecido com isto:
É um motor miniaturizado que vai dentro do quadro da bicicleta e se encaixa no eixo dos pedais. Em termos de física está longe de ser a posição ideal mas funciona muito bem se você tiver o mesmo objetivo da Femke, ocultar a existência da marmotagem.
Sim, Femke Van den Driessche é uma trapaceira. Uma trapaceira linda de 19 anos, mas uma trapaceira.
Isso só comprova o que tenho percebido: todos os ciclistas profissionais que conheço são trapaceiros (ok, tecnicamente só conheço ela e o Lance Armstrong). A categoria é altamente competitiva e a arrogância dos atletas faz com que dopping seja comum, mas agora inventaram o “Dopping Mecânico”.
A briga está tão boa que o fabricante da bicicleta está processando a Femke, por ferrar com a imagem deles (que não vendem bicicletas motorizadas). Ela por sua vez justificou a trairagem dizendo que… wait for it… a bicicleta era emprestada de um amigo.
O caso não é isolado, há um monte de ciclistas trapaceiros usando esses motores, que custam 10 mil euros e são vendidos para uso legítimo, como atletas se recuperando de acidentes, ou em fase inicial de treino.
Os atletas e equipes negam veementemente, mas há toda uma comunidade que acompanha as corridas e percebe comportamentos anômalos, como esta estranhíssima bicicleta que depois de caída começa a se mover de novo:
Nick Squillari — Ryder Hesjedal's motor in bike? stage 7 Vuelta a Espana 2014.
A situação está tão complicada que as autoridades do ciclismo (se é que existe isso) estão usando câmeras térmicas para identificar motores escondidos:
Agora o melhor: esses motores são obsoletos, só trouxas pobres usam. Há um esquema que custa 200 mil euros e envolve modificar os pneus, colocando imãs de neodímio presos no aro, cortar os garfos de fibra de carbono, inserir bobinas e fechar.
Essas bobinas são ligadas a uma bateria e uma unidade controladora que por sua vez acompanha o monitor cardíaco do atleta. Se ele ultrapassar um determinado número de batimentos, as bobinas recebem carga e passam a agir como um motor elétrico.
Segundo um engenheiro anônimo que falou com a Gazzetta dello Sport, só ele vendeu mais de 1.200 unidades, com potência entre 20 e 60 watts, capazes de transformar um competidor mediano em um fenômeno. O sistema é indetectável se você não procurar especificamente por ele e várias equipes usam sem conhecimento dos atletas.
O pior dessa história é que o dopping mecânico parece estar tão disseminado que ao menos no ciclismo top é impossível eliminá-lo, os quadros da categoria seriam dizimados. O jeito é fingir que o problema não existe. Funciona pro pessoal da maromba e seus esteróides.
Fonte: Fittish.