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More dark than dark: o lado negro da internet fica ainda mais negro

Conheça a Evolution, uma nova loja digital da Deep Web que serve como ponte para financiar vários crimes, inclusive venda de drogas, através de Bitcoin.

9 anos e meio atrás

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Comércio de drogas com porcentagem sobre vendas, roubo de identidades, sequestros… não tá fácil pra ninguém.

No negócio digital de tráfico de drogas, assim como no mundo de tijolo e cimento (tá legal, entreguei a idade), derrubar um chefão cria um vácuo de poder apenas esperando para que outro figurão o preencha e continue a suprir a demanda que o mercado consumidor precisa. Quando o FBI desligou o Silk Road, uma loja para venda de artigos questionáveis para pessoas ainda mais questionáveis que funcionava na Deep Web, um novo player tomou seu lugar, com ainda mais poder de penetração que seu predecessor. E ainda menos princípios.

Desde seu lançamento no começo do ano, o bazar anônimo do mercado negro chamado Evolution cresceu drasticamente, praticamente triplicando a quantidade de transações em apenas cinco meses. Ele agora oferece mais de 15 mil produtos ilegais que vão desde armas, passando por maconha, cocaína e heroína. Esse número é centenas de vezes maior do que o Silk Road disponibilizava. O crescimento também foi alavancado não apenas pelo profissionalismo da operação clandestina, mas também por um método muito mais amoral do que o adotado pelos seus competidores no mercado negro. Por exemplo, cerca de 10% dos produtos anunciados no Evolution são números de cartões de crédito roubados e credenciais hackeadas para contas on-line.

Enquanto o falecido Silk Road parecia ter uma politica libertária ao afirmar que apenas contrabando que não gerasse vítimas (honra entre ladrões?) podia ser negociado através dos seus servidores, o novo serviço parece personificar a oportunidade perfeita para que os delinquentes mesclassem seu negócio de roubo de informações com o já gigantesco e estabelecido mercado de drogas on-line. Parece que aquele discurso estúpido do Silk Road de dar as pessoas liberdade de escolha se foi. Agora se trata apenas de fazer dinheiro.

O Evolution também parece ter atingido uma marca histórica na parte técnica, com seus servidores estando on-line por 96,4% do tempo e tendo velocidades de acesso que chegam a se comparar a páginas web convencionais, coisa rara em um serviço onde o tráfego deve ser encriptado e passar por mais de 3 servidores Tor espalhados pelo mundo antes de ser carregado pelo cliente.

Cobrando 4% sobre cada venda, o Evolution está ajudando a financiar outros negócios milionários, o de roubo de identidades, comércio de armas e em alguns lugares, assassinatos e sequestros. A honra entre ladrões não passa de uma bonita ilusão é claro: o herdeiro imediato do serviço fechado pelo FBI, o Silk Road 2 teve seus servidores seriamente comprometidos quando um dos administradores roubou 2,7 milhões de Bitcoins dos seus usuários. O Bitcoin, que aliás também tem essa conotação libertária dependendo da boca de quem fala, mas não passa de uma arma para a prática de crimes digitais dos mais variados.

Para evitar esse tipo de revés, o Evolution implementou várias medidas de segurança nas suas transações. Além de rodar anonimamente através de servidores Tor, as transações em Bitcoins tem com um recurso chamado “multi-signature transactions”. Isso faz com que as transações através do Evolution contem com uma “carteira coletiva” de Bitcoins, em que o vendedor, o comprador e o site tem acesso. Para que uma transação seja de fato concluída, dois dos controladores da carteira precisam assinar a liberação das moedinhas virtuais. Isso torna muito mais difícil que qualquer uma das partes envolvidas no negócio ilícito seja ludibriada (honra entre ladrões my ass). O site até oferece sua própria versão da autenticação em dois passos, exigindo que qualquer um logado no sistema precise autenticar uma mensagem usando sua própria chave PGP armazenada localmente.

Todas essas firulas técnicas fez os compradores se mudarem para o Evolution aos bandos, e onde há demanda, há oferta. Com muito dinheiro circulando pelos seus sistemas e sem muita ética (se é que já houve alguma coisa parecida com ética no mercado de drogas) o Evolution pode começar a financiar coisas muito mais sérias, como oferecer assassinatos em troca de Bitcoins, sequestros e outros crimes no mundo de tijolo e cimento. A Deep Web não é um lugar bonito, nem charmoso, muito menos bonzinho. É mais como andar pela cracolândia tentando contratar um assassino de aluguel enquanto injeta drogas nas veias e achando que o mal do mundo não pode te atingir porque você está protegido atrás de um teclado. Ledo engano.

Fonte: Wired.

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