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Desabafo gamer

16 anos atrás

Games, uma coisa associada à violência, isolamento social, escapismo, vício e porque não mencionar a dificuldade em se relacionar com o sexo oposto. Nós, gamers, somos taxados também como NERDS, doidos, infantis, gente que perde tempo com uma coisa inútil e até algumas vezes de seguidores do demônio. E piora muito mais devido ao fato de a maioria de nós ainda gostar de RPG, Rock, Heavy Metal, Animes e muitas outras coisas ligadas à cultura Pop. Vendo pelo lado de quem odeia os games, nós não passamos de viciados que podem matar qualquer um sem motivo aparente e que precisamos ser internados em hospícios.

A indústria dos games é uma indústria de violência e insanidade mental que de quebra nos afasta de Deus. Nossos Nemesis são caras como Jack Thompson e aquele pastor que acha que Resident Evil significa o “Mal dentro de ti”, não só por atacarem nosso hobby preferido, mas também por nos atacarem enquanto pessoas e fazerem o resto da sociedade, facilmente manipulada pela mídia, nos ver como descrito acima.

Eu não sei quanto à experiência de vida do resto de vocês, eu pretendo falar tudo aqui baseado nas minhas.

Primeiro de tudo, eu era evangélico, então posso falar do que me “afastou de Deus”. Como tinha comentado em outros posts, eu fui levado a várias palestras na igreja que detonavam tudo que eu gostava. Já comecei a sentir que não pertencia àquele lugar, que aquelas pessoas nunca iriam me aceitar e que iriam tentar de todas as maneiras possíveis fazer uma lavagem cerebral em mim. O engraçado é que eles diziam que tudo que eu gostava era que fazia essa lavagem cerebral, uma coisa chamada estado alterado de consciência, nossa eu ouvi demais esse termo. Diziam que eu balançava a cabeça ouvindo rock porque estava possesso, que eu entrava em outra realidade quando jogava RPG e que os games estavam me deixando com epilepsia. Céus! Eles demonizam TUDO. O engraçado é que mesmo assim eu ainda ia para a igreja, eu acredito em Deus e isso era o que importava.

Foi quando em uma conversa com um dos outros membros da igreja eu comentei sobre um ataque de Israel (Crente é louco pra ser Israelita, mesmo sabendo que eles são Judeus e não acreditam em Jesus como Messias) à Palestina que matou algumas crianças inocentes. Ele me disse “Tinham mais é que morrer, todos iam virar terroristas!”. Ótimo, nessa hora eu percebi que do mesmo jeito que o Islam, o cristianismo também produz fanáticos. Logo vi que estava na igreja errada, mas como saber qual igreja era a certa? Por isso eu não ando mais em Igrejas, não porque algum game me disse pra não andar, mas porque os próprios membros das igrejas me fizeram tomar essa decisão.

A questão do isolamento social é um pouco mais complexa, varia de pessoa pra pessoa. Muitos gamers são entrosados demais com outras pessoas e outros não, assim como qualquer ser humano. O chato é que para manterem esse entrosamento alguns tem que reprimir seus hobbies pop`s, não falar sobre nada dessas coisas para não parecer um NERD idiota. Em contra partida nós temos que aturar muito papo sobre Big Brother, banda de Axé/Forró, fofoquinha sobre a vida alheia, ouvir sempre as mesmas músicas lixo que sempre tocam nas rádios ... Esse é o sacrifício que muitos de nós fazemos para ter uma vida social “saudável”. Claro, muitos de nós ainda gostamos de boates e outros lugares mais badalados, o que não é meu caso.

Agora tem também os que não querem se sacrificar. Preferimos manter um ciclo de amizades que não ira nos criticar por causa dos nossos hobbies, preferimos não sacrificar nossa personalidade para sermos mais “socialmente aceitáveis”. Esse sim é meu caso, quando uma pessoa pergunta o que eu gosto de fazer no fim de semana eu respondo “Se ninguém me chamar e eu não tiver nenhum idéia de pra onde sair eu fico ou estudando ou jogando”. A palavra “jogando” é um divisor de águas, dependendo da cara que a pessoa faz quando ouve isso a gente sabe se ele/ela é um “dos nossos” ou “contra nós”. Há sim, antes de Gamer eu sou um Metal Head e Hard Rocker, e vocês já devem saber que eu moro em Fortaleza/Ceará, terra do forró, logo não tenho muito pra onde sair por aqui. Yes, it sucks!

As mesmas regras acima também se aplicam ao relacionamento com o sexo oposto. Já perdi várias oportunidades de namoro por “testar demais” minhas pretendentes. Whatever, eu não quero ter uma namorada pra chamá-la de “dona encrenca”, me estressar com as opiniões furadas delas sobre minhas coisas e viver brigando. Em compensação vale a pena esperar, tive mais de dois anos maravilhosos com uma mulher que gostava das mesmas coisas que eu. Quando eu penso que em vez de ficar com ela eu poderia estar me estressando com uma paty forrozeria que odeia Games/RPG/Rock eu vejo que valeu a pena dar (e levar) alguns foras.

Aqui no MB Games nós já falamos muito sobre violência e games. Falamos sobre como o cinema é mais violento, como a TV é mais imoral, como a Elite Social não quer educar os filhos e procuram um bode expiatório e como a mídia age nisso tudo. Vou tentar contar a ópera toda.

Tudo começa com os pais. Eles vivem em um mundo injusto em que você tem que trabalhar pra sustentar a casa, o mercado é cada vez mais competitivo e os chefes exigem que se trabalhe horas além do expediente (sem ganhar extra). Como fica a educação do pobre do filhote?

Isso ai, os pais deixam que o colégio caro que eles estão pagando educar seus filhos. O colégio é o primeiro bode expiatório para quando o menino começa a fazer pirraça. Os pais deveriam saber que a responsabilidade do colégio é primeiramente ensinar Português e Matemática e que é responsabilidade deles moldar o caráter da criança. Como um colégio com mais de mil alunos vai conseguir moldar o caráter de cada criança, e ao gosto dos pais? Impossível!

O filhote cresce, aprende a assistir televisão, os pais também dão um brinquedo novo pra ser ver livre das travessuras do moleque, evitar que ele vá brincar na rua suja e perigosa e ver ele quietinho e calado dentro de casa, dou um doce pra quem adivinhar que brinquedo é esse. O garoto agora tem um videogame e chama os amiguinhos pra jogar com ele em casa, interação social 10! Alguns pais gostam de ver o filho fazer amigos, mas outros detestam a bagunça dentro de casa e proíbem a visita dos amiguinhos, interação social 0!

Chega uma fase na vida de uma pessoa que não importa o quanto de educação você recebeu, você vai mostrar pro mundo quem você realmente é. Eu digo que a formação de uma pessoa é 30% influencia dos pais, 30% influencias gerais e 40% é o caráter com que a pessoa nasce. A prova disso são os “playboysinhos de merda” filhinhos de papai que receberam a melhor educação do mundo e mesmo assim se metem com tráfico de drogas, e também aquelas pessoas que nascem em favela e vencem na vida honestamente. Pra quem tem o 40% só de coisas ruins a única alternativa são os outros 60% bem educados. De repente começam a parecer sujeitos que matam colegas de faculdade, atiram em pessoas em cinema e fazem outras maluquices. Olha só, a mídia descobriu que eles jogam videogame!

Sabe aqueles pais de quem eu tava falando lá em cima, adivinha onde eles também trabalham. Ho god yes, na MÍDIA! Quem em sã consciência vai usar um veiculo poderosíssimo pra dizer “a culpa é nossa” em escala global? E não só isso, a culpa pode até não ter sido dos pais, vai que o moleque nasceu com aqueles 40% bem ruins, mas como provar isso? Todos os estudiosos “intelectualoides” do comportamento humano sempre atribuem toda a personalidade de uma pessoa aos “fatores externos” e ignoram os “meus 40%”. E nisso temos veículos de mídia comandados por pais incompetentes noticiando atos bárbaros e intelectualoides, que também são pais incompetentes, colocando a culpa nos videogames/rock/RPG. Há sim, os pais incompetentes também são políticos.

Eu sei que a maior parte do que estou falando e chover no molhado, mas essas coisas precisavam ser ditas, de novo.

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