Ricardo Bicalho 16 anos atrás
Eis que surge uma oportunidade de criar um website, simples, 10 páginas no máximo, com formulário de contato, histórico, uma lista de produtos e serviços, informações relevantes, galeria de fotos e que deva funcionar bem com webstandards. Perfeito. O profissional deverá criar a arte, montar o código, registrar o domínio, exibir as telas, testar e entregar. E ainda configurar as contas de e-mail e vários outros detalhes. No meio da criação, o cliente pede para migrar o formulário de cadastro de clientes de um "sisteminha" em Access e colocar ele na web também, alimentando a mesma base (mudança de escopo, entubação, vocês sabem).
Agora, use seu bom senso e uma boa dose de chutometria para adivinhar quanto foi cobrado e a reação do cliente.
Seiscentos reais (R$ 600,00) pela totalidade dos serviços, com mais 30 dias de garantia. O acordo foi feito informalmente e obviamente, esse tipo de serviço deveria ser feito em no máximo 16 horas. O problema é que a arte foi recusada várias vezes, as fontes, layout. Ao todo, foram propostos 8 designs diferentes, sendo que o esquema de cores foi alterado 2 vezes em cada layout, gerando 12 opções. O cliente optou pela folha de estilo número 9 e depois pediu a 11 e finalmente ficou a 4.
Quando chegou o dia de acertar as contas, o cliente diz que o acertado estava caro e queria um desconto, afinal, tiveram muitos problemas e atrasos. Disse que pagaria 100 reais menos por causa disso. Lembre-se: não há contrato, apenas e-mails. O estresse continuou por algumas semanas, até que um dos sócios pagou o combinado e o website está até hoje no ar, abandonado, mas ainda assim, funcionando. Ah, sim, o "sisteminha" nunca ficou pronto, pois não foi pensada numa forma de sincronizar a base de dados em um desktop com um sistema hospedado.
A maioria das pessoas não têm a mínima noção de como criar aplicativos. Os leigos não conseguem mensurar algo que não tem forma, não brilha, nem mesmo está num papel. A mesma pessoa capaz de gastar 200 reais num restaurante, porque comeu uma boa carne e bebeu um bom vinho, acha um absurdo um sistema de controle da própria empresa custar 5 mil. A falta de planejamento, mesmo feito com lápis e papel, acaba fazendo com que se trabalhe muito mais e no final você só quer livrar-se da dor de cabeça. Por causa de problemas assim, recorrentes, quando alguém reclama do preço, o profissional acaba cedendo. O valor dado ao próprio trabalho não diminui por causa da falta de competência, mas sim por falta de uma abordagem de trabalho, uma melhor organização.
Moral do Post:
- Um contrato é importante para selar o acordo. Dê valor ao que você faz e coloque no papel. É impressionante o efeito psicológico que a escrita possui.
- Condicione entregas a pagamentos. Se o cliente quer pagar em 3 vezes, crie 3 entregas, com um pagamento a cada entrega. Tem muito picareta no mercado.
- Em cada entrega, discrimine cada um dos serviços prestados. Isso irá educar o seu cliente que um software não acontece em um passe de mágica.
- Organize-se. Crie sua própria metodologia de trabalho ou use uma com o qual se identifique e funcione para você, mesmo que seja em guardanapos.
- Scrum, Iconix, Extreme Programming, RUP são metodologias criadas para resolver problemas: pode pegar emprestado de todas elas. Exemplo? Use protótipos como no RUP e aplique Extreme Programming nas alterações desse protótipo. Use o sistema de lista de tarefas e prioridades do Scrum para fechar o design e não deixar as alterações de escopo inteferirem nas entregas.
Fonte: Bicalho's Memory About Fraked Up Projects