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Até o The Verge já sabe: custo dos eletrônicos no Brasil é uma vergonha

Site americano descobre o que estamos carecas de saber: tecnologia no Brasil é muito caro, o que fomenta o comércio ilegal

11 anos atrás

 

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A gente sabe, nós pagamos caro pelos gadgets que gostamos no Brasil, disso não há dúvidas. Também não é segredo para ninguém que isso se deve a uma combinação de fatores, entre impostos loucos, ganância de fabricantes e revendedores e uma população que quer consumir e paga o preço pedido.

A diferença de preços entre o Brasil e outros países já foi tema de discussão várias vezes aqui no Meio Bit. A mais recente foi do caso que games pagam mais impostos do que armas de fogo. Nós temos o orgulho (só que ao contrário) de possuirmos os consoles mais caros do mundo. No caso dos smartphones, não é segredo para ninguém que os tops de linha excedem em muito os valores praticados lá fora. Para se ter uma ideia, um Galaxy S4 aqui custa R$ 2.399,00. Nos Estados Unidos, o mesmo aparelho sai por R$ 1.429,00.

É claro que essa distorção acaba fomentando o comércio ilegal, e o site americano The Verge publicou uma matéria ilustrando para nossos amigos de outros países nossa peculiar situação.

Casos de pessoas presas com produtos trazidos de forma ilegal é comum por aqui. Recentemente dois comissários de voo da American Airlines foram presos em Cumbica portando uma quantidade considerável de muamba, entre smartphones, tablets um notebook e jogos (inclusive com coisas dentro das cuecas. Ainda fossem dólares...). Há quem arrisque atravessar os produtos pela fronteira ou importar pelo mar (em ambos os casos um desafio para a Polícia Federal, já que somos o 5º maior país em extensão territorial), ou mesmo indo até Miami para fazer suas compras, em muitos casos sai até mais barato do que comprar aqui.

Segundo o Ministério do da Justiça o número de apreensões (entre eletrônicos, drogas e armas) triplicou entre 2004 e 2010, fruto de uma cultura de consumo desenfreada. Nunca tivemos tanto dinheiro e pudemos gastá-lo, em consequência os preços escalam cada vez mais - o que leva os consumidores a procurarem meios de pagar menos, daí o aumento do comércio ilegal. Basta checar o Mercado Livre: não preciso dar um exemplo sequer, todos sabem que quando a esmola é demais, o santo desconfia; isso quando o vendedor não é um ladrão descarado.

Mas de quem é a culpa desses preços? De todo mundo. Em primeiro lugar do governo, que onera a população com uma infinidade de impostos, cobrados muitas vezes em cascata. Como minha professora de contabilidade costumava dizer, o governo é o sócio mais feliz que existe: não investe quase nada e recolhe sua parte de todo mundo. Basta dar uma olhada no impostômetro (no ritmo atual vamos chegar a um trilhão no mês que vem). Com todo esse dinheiro arrecadado, qual o destino dado a ele afinal?

O Benett têm uma ideia de para onde ele vai

Muito se falou sobre a isenção de impostos a empresas que se enquadrassem na Lei do Bem para smartphones montados aqui, desde que fossem vendidos abaixo da casa dos R$ 1.500,00, além de outros incentivos à empresas como a Foxconn, que se instalou no Brasil (e tentou trazer seu modelo de trabalho para cá, sem sucesso. Aqui, as leis trabalhistas mal ou bem funcionam).

E é aí que entra o segundo culpado: os fabricantes e revendedores. O caso da referida fabricante dos iGadgets foi o mais emblemático: a Foxconn recebeu pesados incentivos para se instalar aqui. Em troca, a Apple baixaria o preço de seus gadgets. Bem, a gente viu o final desse filme. O Ministro das Comunicações Paulo Bernardo chegou a dizer o que a gente vinha falando desde que o Mercadante estava no posto: o governo não pode obrigar o fabricante a baixar o preço. Oh, really?

Se os fabricantes pagam menos impostos, por quê o preço não cai? Porque há demanda. Aí entra o terceiro culpado: o consumidor. O brasileiro médio é tão obcecado em ter sempre o último videogame, o último tablet, o último smartphone que paga o preço pedido sem pensar duas vezes. Aí entra a lição básica de economia: se você, enquanto comerciante, tem uma chance de aumentar seu lucro com isenção de impostos e mantendo o preço de venda o mesmo, por quê cargas d'água você reduziria o valor cobrado?

Claro, não somos tão ingênuos a ponto de dizer que isso só se aplica a eletrônicos: TUDO no Brasil é caro, muito caro: eletrônicos, saúde, transporte, alimentação, educação, moradia... nosso custo de vida em geral é extremamente elevado em comparação à nossa renda per capita. Temos um retorno em serviços tão pífio que nos coloca em situação pior que vários países da África. Os protestos realizados no último mês foram o reflexo do descontentamento do brasileiro frente a essa situação. Não foram sobre os 20 centavos, o aumento da passagem de ônibus foi apenas a gota d'água.

PhD em antropologia pela Universidade de Leiden, Países Baixos, o brasileiro José Carlos Aguiar foi taxativo ao explicar que fato do brasileiro querer ostentar status (mesmo não sendo rico) e para isso, comprar tudo do mais moderno é um dos principais motivos para essa escalada dos preços de eletrônicos, fenômeno esse que está crescendo em toda América Latina:

"Há uma nova classe média emergindo no Brasil e América do Sul em geral. (...) Ela não é rica, não também não é tão pobre quanto seus pais eram; de repente você tem milhões de pessoas que querem comprar produtos - de iPhones a outros dispositivos de alta tecnologia usados pelos ricos e na TV. A diferença de classes no Brasil não é mais determinada pela educação ou por onde você mora, mas pelo seu estilo de vida. E é isso que está alimentando esse mercado."

Longe de mim dizer que trocar de celular todo ano é essencial, mas nessa República das Bananas até o básico é caro, então...

Fonte: The Verge.

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