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Mais um exemplo do que é o Software Livre

16 anos atrás

Você conhece o JeguePanel? Eu também não conhecia, mas já tinha visto as propagandas no BR-Linux e VivaoLinux. Confesso que nunca usei, mas se trata de uma interface web para controle do Samba e de servidores de email (Postfix? Não sei quais MTAs ele suporta, ou se é um MUA, whatever, não sei). Está religiosamente licenciado na GNU/GPL e seu código-fonte disponível para quem quiser distribuir, contribuir, estudar, melhorar o código e toda essa baboseira que a FSF está acostumada a pregar – e eu não tenho paciência para ouvir. O autor é um apaixonado por Software Livre, usuário de FreeSoftware desde 1996 e largou um emprego de carteira assinada para tomar a religião do Stallman como profissão.

Porém, o conto de fadas não durou nem dois anos. Afinal, (sic) “infelizmente a grande maioria não colabora de nenhuma forma, ou seja, não nos enviam relatórios de erros, não realizam contribuições de código, não colaboram com a documentação, não contratam nossos serviços e sequer são capazes de colaborar fazendo doações em dinheiro para o sustento do projeto”. O autor, Anahuac de Paula Gil, desabafou em seu site que está sem ânimo, sem dinheiro e sem emprego para continuar. O feedback repercutiu, bateu de frente com a opinião de muita gente (que ainda diz que “software livre” dá dinheiro), gerou trolls e apresentou algumas inverdades, como a do autor não ter citado em nenhum momento que o Google contribui com vários projetos de código aberto, como o MySQL. Talvez ele não saiba disso...

O desabafo também mostra o autor sendo vítima da própria comunidade, onde ele também desenvolve um plugin livre e pago para integração entre o JeguePanel e o Microsoft Active Directory. A GPL permite que um software seja cobrado, todo mundo sabe disso, mas tem que vir acompanhado do código de fonte, bla bla bla, para manter sua “essência livre” e ele assim o fez. Mas, a maturidade dos usuários de Software Livre – que nem pagam pelo JeguePanel – se mostra ainda mais interessante e ele conta receber inúmeros e-mails com palavras calorosas e elogios à sua progenitora, por não disponibilizar o plugin gratuitamente para a “comunidade”.

No BR-Linux apareceram algumas tentativas de justificação de seus fracassos, como um plano de negócios ou o fato do nome ser “JeguePanel”, que não soa lá muito internacional, independente do sistema também estar disponível em inglês. Bem como se os nomes dos Free Software fossem ponto forte e extremamente relevante do movimento, TKGate (e acrônimos recursivos com péssimas pronúncias) que o digam.

Mas no meio de tudo isso, continuei comprovando minha teoria (possível livro?) com relação à diferença entre os softwares livres e o software de código aberto, claramente a visão contrária de Richard Stallman e Linus Torvalds. Enquanto o Stallman acredita no Software Livre como filosofia, religião, ideologia-eu-quero-uma-pra-viver e coisas assim, ele (e também, provavelmente, o autor do JeguePanel) se esquece de que o mundo é bem real, as contas são pagas com dinheiro, não com códigos e o sistema que move o planeta é o capitalismo cruel. A “comunidade” liderada por Stallman é barulhenta e não produz muita coisa, por que a maioria dos integrantes não sabe fazer um simples “Hello World” em HTML, o pouco que se produz geralmente não chega na versão final, ou algo perto disso, GNU/HURD que o diga. A contribuição do mundo real também não existe, se existe é pouca, meia dúzia de gatos-pingados reportando bugs, por exemplo.

Linus Torvalds, por sua vez, acredita no modelo de desenvolvimento em código aberto, justamente o contrário de Stallman, e nesse modelo de desenvolvimento, “Talk is cheap” e o que importa é simplesmente o código. Aqui existem hackers desenvolvendo software de qualidade, superior ao proprietário (não estou brincando), e empresas ganhando muito dinheiro vendendo software com código aberto em caixinhas, dando suporte, treinamentos e estudos de caso. Mais pessoas usam, mais pessoas contribuem e assim nasceram e cresceram o Linux, o Apache, o Samba, o MySQL, o Postgres, o BIND e outros softwares de que têm competitividade e eficiência (geralmente) superiores, num custo baixíssimo (nada nesse mundo é de graça).

Então, você que já leu a carta do Anahuac e depois leu este artigo, acha que o referido senhor errou em sua opção de tentar ganhar dinheiro através da comunidade “Software Livre”? Pois é, eu também acho.

(E que venham as pedras, os ovos e os tomates).

PS: Se a idéia do Anahuac foi chamar a atenção, deu certo: 24/01/2008, as 23:39, há 1255 visitantes online no site do JeguePanel.

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