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Marte — Primeiras Imagens

A sonda Curiosity, levando o Mars Science Laboratory, chegou a Marte e fez as primeiras imagens. Em baixíssima definição. Há algum bom motivo para isso?

11 anos e meio atrás

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Depois de 8 anos de projeto e 9 meses de viagem, O Robô Curiosity, levando o Mars Science Laboratory chegou a Marte. A NASA havia prometido 7 minutos de terror, mas a experiência durou muito mais que isso. A quantidade de coisas que podiam dar errado era imensa, mesmo pros padrões de exploração espacial.

Do para-quedas supersônico ao sistema de trenó, do sistema de navegação, com 700 mil linhas de código às cargas pirotécnicas que soltariam o módulo de cruzeiro, aos chips, que enfrentaram cinco tempestades solares durante a viagem.

Mesmo assim o pouso foi um relógio. A cada minuto tudo ocorria no momento exato, a Curiosity agindo de forma totalmente autônoma, adaptando-se às condições da atmosfera marciana, identificando seu ponto de pouso, mudando de configuração. NADA falhou, mesmo a parte de comunicações, a grande dúvida, e que poderia deixar a Curiosity até 3 dias sem contato com a Terra.

Durante meses o sistema de orientação da Odissey deu problema, com um dos giroscópios travando e impossibilitando a rotação, mas alguns minutos antes do pouso, quando a NASA comandou o giro de 180 graus, a valente sonda não agiu como se fosse um satélite com 10 anos de vida, 6 além de seu prazo de validade.

Como David Bowman pedindo a HAL um último favor, no final de 2010, a Odissey atendeu ao fantasma de Sir Arthur Clarke, talvez com o apoio moral de Ray Bardbury, e indo além de todas as expectativas, girou sua antena em 180 graus, para um alinhamento perfeito entre a Terra e o Curiosity.

O Jet Propulsion Laboratory irrompeu em aplausos quando detectaram os sinais da Odissey, e mais ainda quando ela começou a retransmitir os sinais do Curiosity. Nos momentos críticos não são transmitidos dados, apenas sinais indicando a “pulsação” da nave, e esses sinais estavam perfeitos.

À medida em que os vários estágios passavam, a comemoração aumentava. Quando veio a informação de que a Curiosity havia chegado ao chão, a janela de pouco mais de 5 minutos teóricos da Odissey sobre o local de pouso estava praticamente esgotada, ela deveria estar quase no horizonte, mas um dos técnicos falou: “O sinal da Odissey está MUITO forte”.

Tão forte que imediatamente receberam a primeira imagem da Curiosity: um thumbnail, 64x64 mostrando o chão e uma das rodas. Isso é algo feito desde as sondas Viking, é uma forma de comprovar que o pouso foi em solo firme, O tamanho da imagem é minúsculo, pois não se sabe quanto tempo tudo irá funcionar. Mais tarde as capas antipoeira foram ejetadas e as HAZCAMS começaram a enviar imagens bem maiores, como esta:

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Essas imagens não são nem das câmeras principais, são das HAZCAMs, câmeras preto e branco, gerando imagens rápidas, primariamente para o sistema de navegação, assim o Curiosity pode desviar automaticamente de obstáculos.

Uma das câmeras principais é a MAHLI, Mars Hand Lens Imager, fica no braço robótico e tem resolução de 2 Mp, a 1600x1200. Está ainda com a capa antipoeira, mas já nos brindou com esta bela imagem, a primeira colorida feita pela Curiosity:

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Até encontrarem o fóssil do Kuato, as imagens mais impressionantes com certeza virão da MARDI — Mars Science Laboratory Descent Imager, uma câmera apontada pra baixo projetada para fotografar a descida do conjunto robô-trenó até o solo marciano:

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No que é a primeira imagem real de um “disco voador” na História, vemos o escudo térmico, que protegeu a nave durante a entrada na atmosfera marciana. A MARDI tirou por volta de 500 fotos em alta resolução – 1600x1200, até chegar ao chão, e isso algum dia se tornará um filme lindo. Por enquanto, como a banda entra Marte e Terra é limitada, só temos versões em baixa definição, mas mesmo assim, a verão pequena com 297 frames já é fantástica, veja em tela cheia:

Essa imagem incrível é só uma versão em baixa resolução de uma das 17 câmeras do Curiosity. As câmeras principais ainda não foram acionadas, incluindo a 100 mm f/10 no alto do mastro de 2 metros, tirando fotos a 1200x1200 e fazendo vídeos 720p a 10 fps.

Teremos panoramas magníficos de Marte, é só sermos pacientes.

E por falar em paciência, foi um horror saber que o pessoal que comanda a HIRISE, aquela mega-power-câmera no Mars Reconnaissance Orbiter iria tentar repetir o feito de fotografar um pouso em Marte, mas só teríamos o resultado na coletiva da manhã seguinte.

Quer saber? Valeu a espera. A HIRISE, num feito de precisão e timing, fotografou o para-quedas!

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Como? Tem outra coisa na imagem? Ah sim, é verdade: além do para-quedas da Curiosity a HIRISE fotografou o fucking escudo térmico, e ainda caindo! Isso tudo baseado em cálculos, um timing fiodaszunha e um tiquinho de sorte.

Entenda: um satélite orbitando Marte fotografou uma sonda caindo de para-quedas, a milhares de km de distância. De forma autônoma, não havia como enviar comandos de última hora, Marte está a 14 minutos-luz de distância.

Tudo que podia dar certo, deu. A manobra mais complexa já executada por uma nave espacial foi executada à perfeição, O satélite capengando se alinhou magistralmente, as estações de Terra receberam o sinal redondinho, até o clima foi perfeito, um lindo e calmo dia de pouco vento.

Como nos velhos tempos, o povo se reuniu em Times Square, para acompanhar no telão os angustiantes e históricos momentos do pouso:

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Aqui um vídeo do controle da missão, no JPL, nos minutos finais do pouso, com a confirmação de que a Curiosity estava em segurança no chão marciano. Impressionante a capacidade daquele trenó-foguete, que segurou não só o robô de 900 kg mas centenas de milhares de geeks de todo o planeta.

Por um momento, fomos todos marcianos!

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