Considerado um dos jornais mais influentes do mundo, o “New York Times” não anda com essa bola toda em uma cidade específica: Cupertino. Conhece? É de lá que a Apple envia as informações sobre produtos revolucionários como o iPhone e o iPad para que sejam montados em fábricas na China — na Foxconn, como você bem sabe. O “Times” acusa a Apple de tê-lo colocado na lista negra. Nenhuma informação sobre o Mountain Lion antes da hora, portanto.
A resposta da Apple em tese vem depois que o “Times” publicou reportagens sobre a situação dos trabalhadores de empresas contratadas pela companhia fundada pelo falecido Steve Jobs para montar as iMaravilhas. Jornalismo investigativo (ou quase isso) e textos carregados fizeram com que a Apple torcesse o nariz para o jornalão. Resultado disso é que o tratamento antes diferenciado dispensado ao “New York Times” acabou.
Ontem foi anunciada a prévia para desenvolvedores do Mountain Lion. A próxima versão do Mac OS chega em alguns meses. Para essas ocasiões normalmente a Apple convida alguns veículos de mídia mais proeminentes para conhecer os produtos antes — sempre sob o compromisso de não revelar nada antes da hora, o famoso embargo — e testa-los, a fim de escrever com mais propriedade.
Em outros tempos o “Times” estaria na lista dos veículos que recebem as novidades antes. Mas não foi o que aconteceu.
David Pogue, colunista do “Times”, disse que testa o Mountain Lion faz uma semana. Tal afirmação minimiza um pouco a teoria de que a Apple teria colocado o jornal de NY em sua lista negra.
Entretanto, o mesmo jornal não conseguiu falar com nenhum executivo da Apple sobre as novidades do Mountain Lion. Incomum para os padrões do “Times”. O CEO da empresa, Tim Cook, conversou tranquilamente com o “Wall Street Journal”, publicação bastante popular por lá destinada a cobrir o mercado financeiro.
No mês passado, Cook mandou mensagem para todos os funcionários contestando a reportagem do “Times” sobre as condições de trabalho dos empregados terceirizados que montam coisas da Apple. Disse que algumas pessoas (no caso, veículos) “atualmente estão questionando os valores da Apple” e que qualquer sugestão de que a empresa não se preocupa com esses trabalhadores “é falsa e ofensiva para nós”.
Nos corredores do bom jornalismo existe a máxima de que se você irrita o poder, provavelmente está fazendo seu trabalho da maneira certa. Hoje vivemos num mundo de empresas. Cobrimos essas empresas. Então, de certa forma, dá para transferir a máxima do poder para essas empresas. Talvez o “Times” esteja satisfeito em entrar para a lista negra.
Quem não recebe mais convites para entrar em eventos da maçã é o Gizmodo. Lembra que eles mostraram o iPhone 4 com exclusividade quando obtiveram um protótipo? Desde então se tornaram inimigos mortais de Steve Jobs. Nem pensar em ve-los nos eventos da companhia.