A blogosfera “moleque” morreu? Jornalistas e blogueiros discutem tema na Campus

Thássius Veloso
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• Atualizado há 5 dias
Debate sobre blogs na Campus

Da Campus Party, São Paulo — “Comecei a ver que tinha potencial financeiro.” Com essas palavras, o fundador e editor-chefe do Tecnoblog, Thiago Mobilon (portanto, meu chefe) iniciou as discussões sobre a profissionalização da blogosfera no Brasil. O debate faz parte da programação sobre mídias sociais da Campus Party, com moderação do jornalista e blogueiro Alexandre Inagaki. Pedro Burgos, coleguinha do Gizmodo Brasil, Clara Averbuck, do portal R7, Cora Rónai, jornalista de O Globo, e Carlos Merigo, do Brainstorm 9, também participaram da discussão.

Mobilon conta que no início o dinheiro proveniente do blog servia para coisas simples, como adquirir um computador ou um celular. “Equivalia a um salário de interior”, diz o fundador do Tecnoblog nascido em Americana, a 150 km de São Paulo.

“Eu comecei a perceber que parecia com a Folha de São Paulo”, afirma Carlos Merigo, responsável por um dos blogs mais acessados do país – especializado em propaganda e publicidade. O blogueiro afirma que é preciso ter identidade própria na hora de começar a escrever um artigo. “Tem gente que arrisca um negócio próprio partindo do nada. Eu não tive coragem de chegar a tanto.” Há dois anos Merigo deixou o trabalho em uma grande agência de publicidade para tocar o B9 como seu único e principal trabalho. “Eu comecei a trabalhar de casa. Mas quando comecei a enlouquecer um pouco saí para um escritório.”

Atualmente o site de Merigo tem um escritório próprio de onde ele trabalha, motivo para acordar, colocar a roupa certa e sair de casa.

Cora Rónai, de acordo com o mediador Inagaki, abriu as portas para a blogosfera brasileira. Começou como colunista de tecnologia do finado (em papel) Jornal do Brasil e segue como blogueira “tradicional”, do tipo que conta suas histórias pessoais no blog. “Hoje é muito mais complicado angariar leitores para o seu blog; no Facebook é tudo mais fácil”, coloca a jornalista citando a rede social que na semana passada requereu oferta pública de ações (IPO na sigla em inglês) com avaliação de que a empresa consiga US$ 100 bilhões.

“Se eu posto algo no Facebook, consigo muito mais comentários do que no meu blog pessoal”, instiga Inagaki sobre como os comentários se davam no início da blogosfera moleque. Ele mantem o Pensar Enloquece, Pense Nisso depois de idas e vindas, prometendo mudanças para o ano corrente.

Cora conta que agora os blogs são aceitos socialmente. Os blogueiros são convidados para eventos como o São Paulo Fashion Week, principal divulgação da moda brasileira. No início não era assim, com distinção entre jornalistas e blogueiros.

Cora Rónai

“Nem toda empresa quer que o jornalista venha com sua opinião pessoal para o blog. Especialmente em época de eleições. Situação confusa que já deu até demissão.” – Cora Rónai

Falando da transição do impresso para o meio digital online, Clara Averbuck conta que começou a espalhar seus textos na época de mIRC. Depois veio o Cardoso Online, lista que no fim de 2001 tinha cerca de 5 mil assinantes (de acordo com a escritora). “Isso começou antes e por email.”

Clara diz que se cansa de fazer blogs e desiste. Passam-se três meses e novamente a escritora volta a atualizar seu espaço na rede. E deixa bem claro que não escreve para qualquer um: “Quem quer lê, quem não quer pode ir para outro blog. O blog é aquilo que o blogueiro quer que ele seja. Demorou, mas as pessoas se tocaram disso.”

“Em 2008 chegou uma proposta animal com carteira assinada e eu topei.” Pedro Burgos, editor-chefe do Gizmodo Brasil, diz que desde aquela época mudou muito. Por exemplo, nos Estados Unidos a lista de veículos mais acessados comporta diversos blogs. “É importante que a gente tenha opinião, por mais que os leitores discordem disso. Há jornalistas que em evento dizem que um produto é uma merda, mas depois no artigo publicado em grande portal afirma sobre ‘promessas’ do dispositivo.”

Rónai discorda de Burgos. Diz que chegou à conclusão de que o jornal falaria bem dos produtos que fossem bons. “Quando a coisa é ruim nós ficamos quietos. Prefiro elogiar o produto de qualidade no jornal porque o espaço é limitado. É importante nos lembrarmos do que aconteceu na grande imprensa, mas não tinha cara de jornalismo, como o caderno ‘Informática Etc’ do jornal”.

Mobilon fala a campuseiros

Outro assunto discutido no debate foi a “briga” entre a velha mídia e a nova mídia. Foi lembrada a primeira edição da Campus, quando os jornalistas ficavam em uma área de imprensa com recursos a mais. Devido a isso, o ambiente ganhou o apelido de “bolha” e teve a visita de um blogueiro vestido de dinossauro para simbolizar os tempos áureos dos jornalistas.

 “O blog começa a se tornar relevante em meio a montes de canais de conteúdo quando você encontra nele um ponto de vista interessante com texto peculiar.” – Alexandre Inagaki

Atualização às 18h15

A organização da Campus Party publicou o vídeo do debate no YouTube (dica do leitor @cleytoncoro). Assista abaixo.


(Vídeo do YouTube)

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Thássius Veloso

Editor

Thássius Veloso é jornalista especializado em tecnologia e editor do Tecnoblog. Desde 2008, participa das principais feiras de eletrônicos, TI e inovação. Também atua como comentarista da GloboNews, palestrante, mediador e apresentador de eventos. Tem passagem pela CBN e pelo TechTudo. Já apareceu no Jornal Nacional, da TV Globo, e publicou artigos na Galileu e no jornal O Globo. Ganhou o Prêmio Especialistas em duas ocasiões e foi indicado diversas vezes ao Prêmio Comunique-se.

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