Battlefield 3 foi um dos reviews mais difíceis que inventei de fazer até hoje. Não pelo jogo estar bugado durante o beta, ou por estar com uma pilha de jogos pra testar, mas principalmente por superar todas as richas Battlefield vs Call of Duty e fazer um review decente. Queira ou não, sou fã e jogador de CoD tem um bom tempo.

Com quase 10 anos de vida, Battlefield 3 não tem o “três” no nome por ser o terceiro game da série, e sim por marcar o início da terceira geração da saga. Pelas minhas contas, BF3 é o décimo jogo da série, e o quarto a focar em combate com tecnologia de hoje em dia. Pra quem não lembra, Battlefield começou como um game multiplayer em cenários na segunda guerra mundial, depois Vietnã e eventualmente num spin-off numa era glacial em quase 150 anos no futuro.

Deixando de lado o que já passou, vamos ver no que BF3 se destacou nesse beta, que tão próximo do lançamento ainda estava cheio de bugs.

Imagem: Divulgação

Jogabilidade: mudanças que matam (você mesmo até acostumar)

Antes de seguir, vale ressaltar que eu fiz o teste em um Playstation 3, então toda as considerações de controle são baseadas em jogar com o Sixaxis.

Particularmente, jogo bastante jogos de tiro em primeira pessoa (FPS) e existe quase um consenso entre todos os produtores de jogo de que os botões de trás do controle, os gatilhos, são usados para mirar e atirar enquanto os da frente servem para ações secundárias como ataque corpo-a-corpo ou lançar granadas. Pois bem, logo ao iniciar a primeira partida a confusão: lançar uma granada, dar uma facada na mureta e tomar um tiro na testa antes de entender o que aconteceu. Por algum motivo o pessoal da DICE achou que seria melhor, ou completamente inovador inverter a ordem dos botões de tiro que regem o universo dos games desde meados dos anos 90… Em questão de partidas é fácil acostumar com a nova disposição de botões.

Uma das novidades na série Battlefield que eu vi muita gente reclamar foi a respiração na hora de utilizar qualquer arma de precisão, principalmente rifles (sniper rifles). Agora a mira fica girando pela tela até o jogador pressionar e segurar o botão de respiração. No controle o botão seria o R3, aquele botão que fica dentro do direcional. Pra muita gente essa mudança é um desafio de coordenação motora segurar tantos botões para acertar um perfeito headshot. Mas, como toda mudança, depois de algumas partidas é fácil acostumar. Pra quem não joga de recon (classe focada mais em sniper), a mudança nem influencia muito uma vez que as outras classes são focadas em armas do tipo carabina, escopetas ou metralhadoras.

Aparentemente similares, cada uma das quatro classes indica um estilo diferente de jogo. Imagem: divulgação.

Bugs, bugs e mais bugs

Beta quer dizer que o jogo está pronto e falta apenas corrigir os bugs que sobraram antes do lançamento. Muitos jogos levam meses no processo chamado debugging para garantir que erros de programação não estraguem a diversão do jogador. Na indústria de games, é uma prática mais de marketing do que de QA (Quality Assurance, como é chamado o processo de avaliar erros e correções no jogo betas livres pré-lançamento), assim jogadores podem ter um gostinho do que está pra vir e quem sabe alavancar mais vendas.

Eu sinceramente espero que este beta aberto seja 99% debugging e data-mining, que é coletar dados de como os jogadores se comportam para corrigir erros de balancemento, do que marketing, pois a quantidade de bugs é imensa.

Um dos bugs mais recorrentes está relacionado a se arrastar pelo chão para evitar tiros ou surpreender um inimigo protegendo algum objetivo. Em alguns casos, ao sair do chão e subir em um objeto, como em uma pedra, por algum motivo o jogador entrava no espaço entre a pedra e o chão, deixando ele em uma espécie de limbo abaixo do piso. Com isso era possível se esconder em lugares inusitados, como “dentro” de outro corpo abatido e ficar praticamente invisível. Em outros casos ao entrar nesse limbo o jogador podia cair do mapa, adentrando o infinito abaixo do mapa e consequentemente morrendo. E isso acontecia com certa frequência. Em determinado ponto eu simplesmente desisti de ficar me arrastando de sniper pelo chão da fase.

Um dos pontos altos são os cenários que "desmoronam". Uma partida pode ter uma estratégia que muda dependendo de como estão os principais pontos de combate. Imagem: divulgação.

Outro bug estava ligado a abrir um menu antes de dar spawn, que é voltar pra fase assim que morreu. Quase sempre que estava trocando a arma, como trocar uma metralhadora por uma escopeta, ao clicar no atalho de spawn o jogo voltava todo em preto e branco e sem foco. Battlefield se tornava uma espécie Cabra-cega daltônica. Consegui até matar alguem uma vez dentro desse “modo especial”, mas na maioria das vezes era muita raiva. A sorte que ao reviver novamente, o bug desaparecia.

Finalmente, um dos meus bugs favoritos nem era bem um bug, mas uma falha no próprio gameplay do jogo. No beta foi disponibilizada uma fase chamada Operation Metro, que se passa no metrô de Paris e o modo de jogo era o Rush, em que um time deve proteger objetivos do outro time. A cada 2 objetivos destruídos, o mapa mudava a configuração, liberando novas áreas de jogo e eventualmente bloqueando o antigo campo de batalha. No meio dessa troca de mapas entra uma trapaça possível como Recon. Essa classe possui um objeto chamado mobile spawnpoint que permite reviver no local que ele foi colocado até um inimigo destruir o objeto.

Durante essa troca, dá pra posicionar um spawnpoint perto ou atrás da base inimiga e começar a chacina. Uma pessoa fazendo isso, gera um certo estrago, mas não chega a comprometer toda a partida. Mas em algumas ocasiões em que metade do time da defesa resolveu fazer isso, o jogo virou um grande açougue. Mesmo com o jogo bloqueando os mobile spawnpoints depois de alguns minutos de troca no mapa ( por ter alguém vivo naquele ponto), parte do time poderia reviver naquele ponto, seguindo com a trapaça ad eternum. Alguns jogadores experientes de Battlefield me avisaram que no PC isso é motivo de banimento de muitos servidores, mas no caso de console não vi nada a respeito.

Trabalho em equipe, mapas épicos e vantagem pro hardcore

Uma das vantagens de Battlefield 3 comparado a Call of Duty é o foco no trabalho de equipe. No modo Rush reparei que um time que jogava coeso e com menos jogadores bancando o lobo solitário era um desafio maior ou oponente mais propenso a vencer. Talvez a grande linha que divida as duas séries seja justamente essa. Vejo CoD mais voltado ao deathmatch e busca pela melhor pontuação matei/morri. Já BF foca mais na conquista de objetivos, invasão ou proteção no melhor estilo CTs vs Terroristas. E isso porque eu nem tô jogando os tanques, jatos e helicópteros matadores na comparação – e vale dar os créditos para CoD: Modern Warfare 3, que agora está investindo mais no lado social e cooperativo. Lembram do preview?.

Pra caber uma batalha de tanques, alguns mapas tem que ser gigantes. Destruição e caos pra todo lado! Imagem: divulgação.

Seguindo nessa linha de cooperação, um dos pontos fortes de BF3 são os esquadrões (squads), pequenas células de 3-4 jogadores que na teoria devem trabalhar em conjunto e todos recebem bônus por ataques coordenados e trabalho em equipe. Jogar em squads é bem divertido e recompensador por facilitar muito a tarefa de tentar trabalhar coeso com um time de 8, 16 ou até mesmo 32 jogadores! Se seu squad ta ruim, ou ta mais focado no jogo solo, você pode trocar a qualquer hora no meio da partida. Um dos pontos fracos, mas que a DICE já avisou que ouviu os jogadores e vai trocar, é poder criar squads antes da partida com seus amigos e sair na matança sempre com a mesma equipe.

Outro ponto focado no social é o Battlelog, um site que vai conter todas as informações de seu perfil, de seus amigos, seu desempenho em mapas e todas as outras informações que… Ei, eu já vi isso antes! Sim! Patrick Liu, produtor da DICE, falou que pesquisaram outras redes sociais, inclusive Waypoint (da Bungie, série Halo) e Elite (da Activision, de Call of Duty) para criar o Battlelog. Eu como usuário das três redes posso dizer que não tem muitas novidades no Battlelog, na verdade, até peca em recursos se comparada a Elite. Mas pra um game que não tinha um ponto de encontro para analisar suas partidas, conquistas e desbloqueios, já é um começo.

Falar em desbloqueios, estes são alguns que o jogador vai ficar na fissura de liberar mais e mais. Ao ganhar pontos, seja em um mapa, usando uma arma específica ou ainda apenas por sair jogando, é possível liberar novas armas, acessórios e ranks dentro do jogo. Embora isso seja bem interessante, eu vejo um lado negativo pros jogadores casuais. Ao jogar menos, obviamente você vai liberar menos coisas e ser um jogador menos preparado. Ou seja, quanto mais um jogador é viciado, mais ele vai ter armas pra matar mais e de forma mais eficiente, como com miras laser, estabilizadores ou armas mais letais. E o jogador casual aonde fica? Morrendo segurando sua humilde AK-47 sem nem uma mira com zoom…

Battlefield 3 vs Call of Duty: Modern Warfare 3

Falei bastante sobre pontos positivos e negativos do que acompanhei no beta. Agora após ter jogado os dois principais FPS do ano, qual seria o veredicto do melhor?

  • Boa Jogabilidade – Embora eu tenha apanhado um pouco pra acostumar com os controles de BF3, e achar que a facada consome alguns milisegundos preciosos na hora de um assassinato sorrateiro, eu consideraria que é mais uma questão de costume mesmo e declaro empate nessa.
  • Gráficos de última geração – MW3 leva essa facilmente. Ambos lado-a-lado no PS3 da pra ver que existe um trabalho mais acurado nos modelos e texturas de CoD. BF3 não fica muito atrás, mas ainda come um pouco de poeira.
  • Jogo em equipe – O esquema de esquadrões e o próprio propósito de BF3 de trabalhar com objetivos em cada modo no lugar da contagem de frags deixa ele a frente de MW3.
  • Multiplayer – Embora os dois jogos sejam focados no multiplayer, eu só não declaro o empate porquê MW3 vai possibilitar que jogadores da PSN possam jogar com jogadores da Live, aumentando bastante as possibilidades no jogo online.
  • História envolvente – Perai, tem alguma história em Battlefield? Li um artigo recente que dizem que agora tem uma história no melhor estilo “copiado direto de MW3”, mas que não passa de um grande tutorial pro multiplayer. Já MW3, só a campanha single-player por si só paga o jogo, naquele estilo de narrativa a la John Woo.
  • Tanques, Helicópteros e Jatos – brinquedos pra sair atropelando os inimigos, ou um 1×1 aéreo só tem em BF3.
  • Site com estatísticas de jogo – Nesse fica o empate, mas, o CoD: Elite ainda é um pouco superior em relação ao Battlelog.


(Vídeo no YouTube)

Independentemente de qual for melhor, eu como um bom gamer já garanti os dois na pré-venda (lá fora). Battlefield 3 chegou ontem (dia 25 de outubro) nas lojas nos EUA e deve chegar no dia 11 de novembro aqui no Brasil. O preço nas lojas está em R$ 99 pra versão PC e R$ 199 para PS 3 e Xbox 360; a pré-venda já está rolando nas principais lojas. Não encontrei nada sobre os mapas de bônus estarem disponíveis na pré-venda brasileira, algo que está disponível lá fora. Tentei contato com a assessoria da EA no Brasil e não tive respostas.

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Gus Fune

Gus Fune

Ex-redator

Gus Fune é formado em Comunicação Social e pós-graduado em desenvolvimento e design de Games. No Tecnoblog, cobriu eventos como Electronic Entertainment Expo (E3), Game Developer Conference (GDC) e South by Southwest (SXSW) e escreveu sobre esse universo. Atua, hoje, como diretor de tecnologia e assessor, mas já esteve em projetos de empresas como 3M e Motorola.

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