Nota do editor | Esse post é uma resposta a esse outro artigo publicado aqui há duas semanas. No texto original, eu discorro sobre alguns pontos que me fizeram preferir um iPhone 3GS no lugar de Androids potencialmente melhores. Agora é a vez do nosso redator de Software Livre e ávido usuário de um Android, Paulo Henrique, dizer quais são, para ele, os pontos em que a plataforma do robô verde se sobressai sobre o iOS.

Há uma passagem bem interessante do meu começo com o Linux: logo depois de instalar o Conectiva Marumbi em um Pentium 100 com 16MB de RAM e testar por alguns dias, meu primo (que me apresentou ao sistema que iria “derrubar a Microsoft em poucos anos”) veio me perguntar o que eu estava achando. “É muito bom, mas é meio lento, não?” respondi. Afinal, se não estivesse lotado de programas e dll’s perdidas, o Windows 95 rodava muito bem naquela máquina. Porque eu iria trocar de sistema se apesar das vantagens ele era mais lento?

“Ué, troca de ambiente gráfico”, meu primo respondeu. “Tem vários aí, testa o WindowMaker ou o icewm e pronto”. E, pela primeira vez, eu fui apresentado a um dos conceitos mais interessantes por trás do Software Livre: o poder da escolha. Tendo o tempo e a disposição necessária eu poderia deixar de usar um ambiente gráfico baseado no Windows e partir para coisas completamente diferentes. E aos poucos, justamente por testar esses ambientes, fui descobrindo pontos fracos na usabilidade do Windows, coisas que até então eu não percebia, ou estava tão acostumado a fazer daquela forma que não percebia que não era a forma que, para mim, não era a mais rápida.

“Mas… esse não era um texto sobre as vantagens do Android sobre o iPhone? Vim parar no post errado?” – você deve estar se perguntando. Calma, que acabamos de chegar ao ponto que, para mim, mais importa no que diz respeito ao Android: o poder da escolha.

Eu escolho como usar meu Android

É comum que as pessoas, ao defenderem o iPhone, usem a frase “eu faço o que quero com ele”. O problema é que você pode até fazer o que quer com ele, mas você faz do jeito que a Apple decidiu que você faria, e até o ponto em que a Apple decidiu que você deveria ou não fazer algo. Não parece estranho que você possa fazer o que quiser, desde que uma empresa te diga se você pode ou não?

Com o Android é diferente. Não gostou do lançador de aplicativos que vem com o celular que você comprou? Na Android Market existem dezenas de alternativas. Algumas são mais pesadas, outras mais leves, algumas tem recursos 3D lindos e outras tem um papel de parede diferente, e olhe lá. Mas eu escolho. E escolho mais: Não quero que o slider de aplicativos funcione para os lados? Há alternativas para que ele funcione de cima pra baixo, ou até dentro de um globo 3D.

E o que eu ganho com isso? Produtividade. Com um pouco de tempo eu posso deixar meu Android da melhor forma para atender as minhas necessidades de uso. O mesmo aparelho, com a mesma versão do sistema e até mesmo os mesmos aplicativos podem ser totalmente diferentes um do outro na hora de usar. E aos poucos, vamos percebendo que o iPhone tem alguns problemas de usabilidade que, dependendo do usuário, podem ser irritantes.

Um adendo antes de terminar esse ponto: muitos de vocês já devem ter lido até aqui e estão correndo para a caixa de comentários para dizer que com o uso do jailbreak é possível customizar o iPhone também. Antes que você faça isso, é bom lembrar que o jailbreak é um procedimento não-oficial, que não é aprovado pela Apple, e que, portanto, não está sendo considerado em qualquer momento desse artigo. Se você comprou um iPhone e fez um jailbreak só pra mudar a forma como o slider funciona, você não deveria ter comprado um iPhone.

Eu também escolho o modelo de aparelho com Android

Digamos que por algum motivo eu não goste do iPhone 4. O modelo não fica legal na calça, os botões estão num ponto em que acabo apertando no meio da ligação, e por aí vai. O que acontece se eu gostar do iOS nesse caso? Me acostumo com um modelo de hardware que eu não gosto, simples. Compro uma calça com bolsos maiores, sei lá.

Com o iPhone estou preso a um único modelo de hardware, desenvolvido por uma única empresa. Com o Android, eu escolho qual hardware eu quero, qual o formato, qual a fabricante, e até mesmo qual a faixa de preços. Obviamente, em algum momento você vai ter que escolher entre preço baixo ou recursos, mas não é exatamente assim que fazemos quando queremos comprar qualquer outra coisa?

Parece bobagem mas basta lembrar como era antes do Android: cada empresa tinha o seu próprio sistema operacional para celulares e não só a migração como o próprio desenvolvimento de aplicativos era um inferno. Quando muito, você precisava desenvolver em Java e, mesmo assim, o programa podia não rodar corretamente em um ou outro modelo novo. E o que era pior: como o desenvolvimento do sistema comia um recurso precioso no tempo de criação do celular, tínhamos poucos aparelhos com recursos realmente inovadores.

Hoje eu posso mudar de aparelho e fabricante sem medo: meus aplicativos já comprados vão continuar lá, só preciso migrar. Alguns deles até mesmo migram as configurações. E, como o Android já está pronto, a empresa só tem que adaptar.

Temos aplicativos também!

Hoje em dia é difícil encontrar aplicativos realmente necessários que não tenham uma versão para Android e iOS? E qual o motivo? Mercado. O Android possui uma fatia considerável do mercado de smartphones e muitas vezes não faz sentido deixar essa parcela de clientes de lado por um preciosismo bobo. Mas e quando só existe a versão para iOS? Sinceramente, até hoje não encontrei nada para iOS que não tivesse uma versão para o Android, ou ao menos um app equivalente.

Com exceção de jogos, claro. Mas não sinto tanta falta de jogos assim no telefone. Prefiro gastar a bateria com outras funções (internet, por exemplo). E responda com sinceridade: das centenas de jogos instalados no seu iPhone, quantos você jogou na semana passada?

Existem outras vantagens: longe da rédea curta da Apple na hora de aprovar apps, desenvolvedores para Android podem criar diversos aplicativos para os mais devidos afins. Um exemplo é o inútil (porém divertidíssimo, ainda mais na hora de ver a reação dos amigos) Training with Hinako, um app que usa o acelerômetro do celular e uma menina bem… saliente, por assim dizer, para encorajar os nerds a fazer exercícios. No mundo limpinho da Apple, um aplicativo dessas é inconcebível.

Ou seja, há no Android um campo muito fértil para desenvolvedores. Basta eles saberem aproveitar. 🙂

Ele é melhor (para mim)

Não vou mentir, o Android tem dezenas de problemas. Alguns são facilmente contornados (“Oh! Um malware! E como eu posso impedir que ele ataque meu celular? Já sei, é só não instalar qualquer app que eu vejo por aí!”) e outros nem tanto (a falta de atualizações na maioria dos aparelhos ainda incomoda, e muito, os donos), mas no geral é um sistema que me dá o que a Apple não considera importante: liberdade.

Muitos podem considerar que “liberdade” não é um conceito válido para comparação de celulares, mas pergunte a si mesmo: você realmente precisa do iTunes para copiar músicas para o seu celular? Você realmente precisa que os vídeos estejam em um formato único para que ele possa ser copiado para seu celular? Ou você não vê problema algum em abrir mão disso (e muito mais) apenas para ter um celular que vale muito mais como status social?

Há outro ponto importante: concorrência é bom, para ambos os lados. Assim, tanto a Apple quanto o Google ficam em uma briga eterna por novos recursos e melhorias que trazem vantagens para apenas uma pessoa: você. Se a única alternativa do mercado fosse o iOS, não haveria necessidade de tantas mudanças assim. Basta lembrar de como era a Microsoft na década de 90. Foi justamente com o aumento de usuários de Linux e OSX que ela começou a rever seus sistemas e promover mudanças sérias na usabilidade.

No final é uma questão de escolher os pontos que mais lhe agradam em cada plataforma. Eu escolhi uma plataforma que me permite fazer escolhas. Obviamente, amanhã eu posso olhar para um iPhone 5 e pensar que seria impossível viver sem ele, abrindo mão dessa liberdade que tanto gosto. Mas por enquanto, não há nada no iPhone que me faça deixar o robozinho verde de lado.

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Paulo Graveheart

Paulo Graveheart

Ex-redator

Paulo Henrique "Graveheart" é formado em Ciências da Computação e fez parte da equipe do Tecnoblog entre 2010 e 2014, como redator. Participou da cobertura de lançamentos no mundo do desenvolvimento de software, PCs, mobile e games. Também tem experiência profissional como desenvolvedor full-stack e technical lead.

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