Logo-Telefonica-2

A Telefônica apresentou na última quarta-feira à Anatel o plano de recuperação do Speedy, que no dia 22 de junho foi impedido de vender novas assinaturas do serviço por causa das várias panes acontecidas ao decorrer do primeiro semestre. O plano, no entanto, está acompanhado do motivo mais absurdo para as tais panes: os assinantes das classes A e B utilizam a maior parte da banda para uma determinada região (por isso são chamados de heavy-users – usuários pesados) e os clientes das classes C e D sofrem por causa disso.

Imagina-se que uma empresa que provê internet estaria ligada nas últimas tecnologias relacionadas à rede, certo? Aparentemente não é assim que a Telefônica funciona. A dificuldade que ela relatou não é um problema isolado, pois ocorre com operadoras de internet ao redor de todo o mundo. Nos EUA, por exemplo, o provedor de banda larga Comcast já viu seu tráfego alcançar níveis estratosféricos com o passar dos anos, enquanto que sua base de assinantes não sofreu um aumento proporcional. Por causa disso, ela aplicou (por um tempo) práticas de gerenciamento de rede que diminuíam e até impediam o compartilhamento de arquivos em redes P2P. Mais tarde ficou provado que as redes P2P nada tinham culpa na falta de banda. Mesmo assim, o argumento que a compania provedora do Speedy está usando agora é exatamente o mesmo.

Utilizando uma analogia, é possível dizer que a Telefônica é uma empresa aérea que pratica constantemente overbooking dos seus voos. Ela vende mais lugares nos aviões do que tem capacidade para transportar, fazendo com que os passageiros que chegaram mais tarde tenham que pegar o próximo vôo ou trocar de compania aérea, sendo que alguns passageiros sequer dispõem de alternativa à Telefônica para viajar. A pior parte é que ela culpa as enormes malas transportadas pelos seus clientes como o principal motivo de não terem vôos suficientes.

A solução encontrada pela Comcast, e que deveria ser seguida pela Telefônica, foi disponibilizar uma maior e melhor infra-estrutura para atender ao crescimento do mercado e os atuais clientes, além dos limites de tráfego que já estão implantados. São decisões como implantar novas tecnologias, contratar mais banda para certas áreas e, se necessário, cobrar mais pelo serviço. Se for de melhor qualidade, por que não?

Em suma, sim, é possível que 10% do total de assinantes utilize 60%, 70% ou até 80% da banda de tráfego disponível como a Telefônica alega. Porém, esses usuários não estão usando mais do que o contratado, em termos de velocidade. Eles só usam mais constantemente do que os outros usuários. O culpado principal, portanto, não é o compartilhamento de arquivos, mas o despreparo da empresa ao prover o serviço.

Ao fazer uma assinatura de 4 Mbps e usar os 4 Mbps constantemente todos os dias, você está dentro do limite estabelecido pelo seu provedor de banda larga e eles deviam garantir que essa velocidade fosse constante. Ao invés disso, muitos deles fazem o contrário e prometem os famosos 10% mínimos de velocidade. E muitas vezes te deixam esperando pelo voo seguinte.

Update: Em entrevista *exclusiva* à rádio CBN e ao Globo News, o Presidente da Telefônica Antonio Valente, disse “Não quero usar isso como justificativa para os problemas, mas […] o número de clientes do serviço cresceu oito vezes em 30 meses”. Ele também disse que “em nenhum momento, a operadora quer subtrair a sua responsabilidade”, quando questionado sobre a falta de antecipação no volume de tráfego. As melhorias na rede devem começar nos próximos 30 dias, até lá os usuários podem ou não ter instabilidade na conexão.

Receba mais notícias do Tecnoblog na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Rafael Silva

Rafael Silva

Ex-autor

Rafael Silva estudou Tecnologia de Redes de Computadores e mora em São Paulo. Como redator, produziu textos sobre smartphones, games, notícias e tecnologia, além de participar dos primeiros podcasts do Tecnoblog. Foi redator no B9 e atualmente é analista de redes sociais no Greenpeace, onde desenvolve estratégias de engajamento, produz roteiros e apresenta o podcast “As Árvores Somos Nozes”.

Canal Exclusivo

Relacionados