A Netflix está levando muito a sério a promessa de investir em conteúdo próprio. Em entrevista ao Variety, David Wells, CFO da empresa, disse que a meta é fazer o serviço ter pelo menos 50% de conteúdo original nos próximos anos. É um objetivo audacioso, mas tudo indica que a Netflix não demorará para chegar lá.

Em 2015, foram 450 horas de conteúdo original. Até o final de 2016, a Netflix espera ter 600 horas de programação própria. Todo mundo que utiliza o serviço percebeu que a quantidade de material exclusivo aumentou nos últimos meses. The Get Down, Fuller House e Stranger Things estão entre os exemplos mais recentes. Também há filmes e documentários: ARQ, Tallulah e Os Capacetes Brancos figuram entre as produções que apareceram neste ano com boas avaliações.

O problema do conteúdo original é o custo de produção, principalmente em relação aos seriados, que vêm sendo tratados com prioridade pela Netflix. É por isso que a declaração de que a meta de 50% de conteúdo próprio está sendo perseguida com força causa espanto: como bancar tudo isso?

Stranger Things

No início do ano, a Netflix tinha à disposição US$ 5 bilhões para injetar em produções originais e contratos de licenciamento. A previsão é a de que, em 2017, esse montante suba para US$ 6 bilhões. Que puxa!

Esses valores podem até causar taquicardia nos investidores, mas a Netflix adota algumas estratégias para evitar que os gastos saiam do controle. A principal delas não é difícil de notar: boa parte do conteúdo original não é exatamente próprio. A empresa fecha cada vez mais parcerias com produtoras independentes ou adquire propriedade intelectual. Como a Netflix acaba não cuidando diretamente das etapas de produção, os custos ficam dentro de patamares razoáveis.

Talvez o exemplo mais claro dessa estratégia seja House of Cards. A série não é desenvolvida pela Netflix, mas para. A produção fica a cargo da Media Rights Capital, que até tem alguma autonomia para licenciar a série para outras empresas (em Portugal, por exemplo, House of Cards passa no canal TVSéries), mas a prioridade é da Netflix.

Jessica Jones - Netflix

Apostar alto em conteúdo original não é luxo, mas questão de sobrevivência. Oferecer conteúdo de qualidade que só pode ser encontrado ali atrai assinantes. Se não for o seu caso, você deve conhecer gente que assina a Netflix só por conta de seriados como Orange Is The New Black, Jessica Jones, Narcos e Better Call Saul.

Fora isso, o sucesso crescente da Netflix (hoje, o serviço está disponível em mais de 130 países) vem fazendo a concorrência se mexer, o que tem dificultado o licenciamento de grandes produções da TV e do cinema. O conteúdo original não só preenche essa lacuna como ajuda a Netflix a enfrentar o problema dos acervos que mudam de país para país — como você deve saber, os acordos de licenciamento quase sempre são regionais.

Aliás, não é só no Brasil que a Netflix tem sofrido pressão para cumprir uma cota mínima de produção local. A Comissão Europeia, por exemplo, quer que a Netflix tenha pelo menos 20% de conteúdo europeu nos acervos dos países que fazem parte do bloco.

Marseille é uma série francesa
Marseille é uma série francesa

Para dar conta dessas demandas, o caminho que a Netflix tem trilhado também é o das parcerias, mas com produtoras locais. Um efeito positivo disso é que estamos tendo acesso a conteúdo estrangeiro (desconsiderando aqui Estados Unidos e Inglaterra, obviamente) que, de outra forma, provavelmente nunca conheceríamos.

É claro que, no meio de tudo isso, também há tropeços. Algumas produções, como o filme Rebirth, decepcionaram. Além disso, os custos com conteúdo exclusivo estão entre as razões que fizeram a empresa aumentar as mensalidades em alguns países e, dessa forma, perder uma parcela importante de usuários.

Mas, de modo geral, a Netflix tem tido muito mais acertos do que erros. Eis o resultado: serviços de TV cada vez mais impactados pela migração de usuários para o streaming online e concorrentes que fazem um bom trabalho, mas estão longe do nível de relevância que a Netflix conquistou.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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