O papa é trending

"É o resultado charmoso de uma cultura secular, confrontada com a modernidade da era digital"

Bia Kunze
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Semana passada, pouco antes do conclave que escolheria o novo papa, critiquei no Twitter o fato da igreja católica utilizar a secular chaminé para avisar o mundo da escolha de seu líder. Em tempos em que padarias anunciam no Twitter sua próxima fornada de pãezinhos, a igreja usa… sinal de fumaça?

Mordi a língua. Pouco tempo depois, começaram a pipocar na rede comentários sobre a bendita chaminé. Reconheci seu charme. Ela não é antiquada. É hipster.

A coisa cresceu de tal forma que, da chaminé, passou-se a falar da gaivota… Outro ícone hipster, que ganhou perfil próprio. Virou uma bola de neve: nos dois dias de conclave, o futuro papa, ainda desconhecido, já era trending mundial no Twitter. Lembrei que a Igreja não estava tão defasada assim, afinal, o pontífice emérito já tuitava pela conta @pontifex. Mas eram posts bem genéricos, com mensagens aleatórias de paz e congraçamento entre povos. Posts que foram todos apagados quando ele renunciou!

Então veio à tona que o Vaticano também tinha uma conta oficial no microblog: @PCCS_VA

Mesmo assim, a praça de S. Pedro estava apinhada de fiéis aguardando a fumacinha branca. Não bastava aguardar o tuíte “habemus papam” do Vaticano – que, surpresa das surpresas, veio com emoticons!

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Sim, em 2013, não basta ver fumacinhas ao vivo ou ler tuítes. É preciso registrar o momento. Vide foto da NBCNews mostrando a Praça de S. Pedro no momento do anúncio oficial.

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O Twitter bombou. Até empresas e produtos aproveitaram para gerar marketing.

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É o resultado charmoso de uma cultura secular, confrontada com a modernidade da era digital. Mas não significa que os pilares da crença católica mudarão para acompanhar a mudança na mentalidade dos fiéis que agora usam smartphones. Desculpem-me aqueles que aguardam mudanças radicais de postura daqueles aos quais vocês dedicam sua fé…

Dá para fazer um paralelo com a primavera árabe. Se as redes sociais são apontadas como uma das responsáveis pelas mudanças políticas do oriente médio, por que os nossos “#foraSarney” e “#foraRenan” não surtem efeito algum?

Fiz essa pergunta para o professor Rosental Alves durante uma palestra há algum tempinho, e ele explicou que não tem rede social no mundo que promova uma revolução sem o apoio das instituições. Não havia Facebook na época do impeachment do ex-presidente Collor, mas havia adesão em massa de universidades, OAB, UNE e tantas outras entidades. Acima de tudo, havia uma oposição política atuante.

Os católicos seguem o papa. Mas o papa não segue ninguém. O papa é trending. Mas não curte nem retuíta ninguém.

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Bia Kunze

Bia Kunze

Ex-colunista

Bia Kunze é consultora e palestrante em tecnologia móvel e novas mídias. Foi colunista no Tecnoblog entre 2009 e 2013, escrevendo sobre temas relacionados a sua área de conhecimento como smartphones e internet. Ela também criou o blog Garota Sem Fio e o podcast PodSemFio. O programa foi um dos vencedores do concurso The Best Of The Blogs, da empresa alemã Deutsche Welle, em 2006.

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