Nota do Editor: O jovem Fernando Saragoça já esteve aqui no site antes quando falamos sobre o app de rastreio de encomendas Chegou?. Ele também fez o Photopost, um serviço para encomendar fotos impressas tiradas com o celular. Neste artigo, ele comenta um pouco da experiência de desenvolver para dispositivos móveis, com direito a números, valores e detalhes de tudo que acontece nessa vida de programador. Bem legal! (Thássius Veloso)

Há pouco mais de três anos, lancei meu primeiro aplicativo na App Store cobrando 99 cents. Era um aplicativo de futebol, bem simples e limitado, mas era o primeiro aplicativo de futebol voltado para o público brasileiro. Naquela época, os quatro ou cinco downloads por dia eram o suficiente para atingir o Top 10 da categoria na loja da Apple. Por volta de 12 te colocavam no ranking geral dos mais baixados. Fácil!

O mercado brasileiro cresceu e hoje temos números muito maiores que isso: com 200 downloads diários, o Chegou? costuma ficar entre 25 e 50 no ranking da sua categoria e não chega a aparecer no Top 100 geral. Na última vez que atingiu o Top 100, foram necessários 800 downloads por dia durante três dias, quando ele chegou à 95ª posição.

Chegou? no iPad
Chegou? no iPad

Recentemente, depois de mais de dois anos sem nenhum aplicativo pago na App Store, adicionei uma funcionalidade paga por US$ 1,99 no app: o rastreio de entregas feitas com serviços internacionais.

Problemas

Algumas pessoas viram essa funcionalidade extra como uma oportunidade de colaborar com o aplicativo e a sua continuidade, mas outras viram como sendo algo absurdo. A verdade é que nenhuma funcionalidade que existia antes deixou de existir depois da atualização.

Além disso, problemas técnicos nos primeiros dias após a atualização resultaram em vários emails com reclamações – e pra piorar, as pessoas estavam certas! Afinal, pagaram para ter aquele serviço, então ele deveria funcionar. Se você pensa em lançar alguma coisa paga, teste muito bem antes de fazer isso acontecer, ou esteja preparado pra refazer tudo o mais rápido possível (meu caso).

Testes

Você pode me perguntar: mas por que você não testou antes de publicar? E a resposta é simples, eu testei. Porém, testei com cerca de 20 encomendas, insuficiente para ter certeza que tudo irá funcionar como deveria. Quem imaginaria que uma encomenda é rastreada metade pelo serviço postal norte-americano (USPS) e a outra metade pelos Correios do Brasil? Bom, se alguém imaginava, esse alguém não era eu.

Pequeno comentário sobre testes

Loren Brichter, desenvolvedor do aclamado aplicativo Letterpress, usou uma boa tática para testes: as pessoas podiam abrir uma URL no Safari que habilitava a funcionalidade beta no aplicativo. Como a Apple não permite funcionalidades escondidas na hora de enviar o aplicativo para os avaliadores, o desenvolvedor provavelmente avisou sobre o truque para evitar problemas. Foi uma boa saída, uma maneira fácil de conseguir vários beta testers, mas nem sempre é viável.

Resultado

Usuários insatisfeitos, problemas no servidor, caos total! Se eu pudesse voltar atrás, eu teria voltado, mas era um caminho sem volta. Trabalhei para resolver os problemas e alguns dias depois o serviço ficou estável (e hoje não estou mais arrependido). Quanto ao mercado, o Brasil ainda tem muito a crescer, mas já movimenta bastante dinheiro. Na primeira semana de vendas foram aproximadamente 350 dólares (já com a mordida de 30% da Apple), chegando apenas na posição 290 da lista de apps com crescimento mais rápido. Claro que não é fácil chegar ao Top 100, mas as vendas lá devem ser bem maiores.

Ainda não dá pra viver somente com essas vendas, pensando que elas são praticamente dividas por 2 quando o dinheiro é transferido para o Brasil (viva os impostos!), mas já paga as conta do servidor e alguns joguinhos viciantes.

A concorrência só aumenta

Se você é desenvolvedor ou tem alguma ideia para o mercado brasileiro, coloque em prática hoje, senão alguém vai colocar em prática amanhã. O mercado de aplicativos é ótimo, justamente por isso abriu os olhos de muita gente e a concorrência só aumenta. Se você for cobrar pelo aplicativo, tenha cuidado em testar bastante, não tenha dúvida que o usuário irá reclamar se for o caso (e na maioria dos casos não vai elogiar se funcionar).

Fazer um aplicativo que atenda o mundo inteiro talvez seja uma boa saída, atingindo um mercado muito maior, mas a concorrência também será maior. Ainda não tive essa experiência, mas no segundo semestre eu volto aqui pra contar pra vocês =P

Finalizando…

Se você tem interesse em começar a desenvolver aplicativos, seguem dois links que com certeza irão te ajudar: curso da Universidade Stanford e essa página no site da Apple. Lembrando que é necessário ter um Mac. Qualquer duvida, fique à vontade para me perguntar no Twitter: @fsaragoca.

Fernando Saragoça

Sobre o autor: Fernando Saragoça tem 19 anos, é paulista, cursa Sistemas de Informação no Mackenzie e trabalha como desenvolvedor de aplicativos há mais de 3 anos. Criou o Chegou?, PhotoPost e o mais recente, Porta dos Fundos.

As opiniões neste artigo não refletem necessariamente as do Tecnoblog.

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