Apple vs. Samsung: executivos viram testemunhas e filmes não podem ser usados como provas

Rafael Silva
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• Atualizado há 6 dias

Um novo dia, uma nova série de declarações e revelações interessantes na batalha judicial que está acontecendo entre a Apple e a Samsung nas cortes americanas. O processo, que tem como princípio a infração de patentes de design do iPhone e iPad pela fabricante sulcoreana, foi originalmente aberto pela empresa da maçã em 2011 mas apenas essa semana começou a ser julgado. Eis aqui um resumo dos últimos e emocionantes desenvolvimentos do caso.

Phil Schiller deixa escapar detalhes da Apple, mas nem tudo

Um dos executivos chamados como testemunha no caso é o presidente de marketing da Apple, Phill Schiller, que já havia aparecido brevemente na terça-feira. Agora ele foi chamado novamente e revelou uma tendência de vendas do iPhone. Segundo Schiller, cada novo modelo de iPhone liberado pela Apple vende o equivalente a todas as unidades vendidas de todos os modelos anteriores. Ou seja: o iPhone 4 vendeu mais que o iPhone 3GS, iPhone 3G e o primeiro iPhone juntos. Algo impressionante, não importam os números.

O executivo, no entanto, mostrou que foi bem treinado antes de depor e não deixou escapar detalhes mais preciosos ao ser colocado contra a parede. Quando os advogados da Samsung perguntaram se o próximo modelo do iPhone da Apple seria parecido com as versões anteriores ou se mudaria de design, os advogados da Apple pediram uma objeção. A juíza negou e Schiller disse que “prefere não revelar informações confidenciais sobre futuros produtos”.

Juíza não vai sancionar Samsung por ter liberado provas para o público

Uma atitude que enfureceu os advogados da Apple durante o caso foi a Samsung ter liberado para a imprensa informações sobre uma prova que foi rejeitada no processo. Isso, segundo os advogados da Apple, poderia influenciar o juri e por isso eles pediram uma decisão favorável à empresa da maçã ou ainda sanções à Samsung para que a empresa não fizesse isso novamente.

A juíza Lucy Koh preferiu seguir por um caminho mais pacífico e conversou com cada membro do juri para saber se eles leram algum artigo sobre isso. Antes do caso começar o juri, composto de 10 pessoas, foram instruídos a não ler nenhum texto sobre a disputa para não deixar o seu julgamento ser tendencioso para algum dos lados. E segundo a juíza, apenas um deles confirmou que leu apenas uma manchete, por isso a Samsung não seria sancionada e o caso vai prosseguir normalmente.

Apple quer manter pesquisas e números das vendas em segredo

Os advogados da Samsung notificaram a Apple na noite da quinta-feira que pretendiam usar hoje alguns documentos como provas hoje. O problema é que os documentos contém o que a empresa da maçã chama de “altamente confidencial” e que faria “um grande dano” se fosse tornado público, algo que deve acontecer para que sejam usados como provas no processo.

O que esses documentos contém? Algo que a Apple jamais revelou: os números exatos de vendas do iPhone, iPod Touch e iPad, além de pesquisas da empresa com consumidores. Por isso a Apple pediu que os documentos fossem selados. A juíza Koh negou o pedido, mas deu tempo para que os advogados da empresa apelassem a decisão oficialmente. Ainda não se sabe se os documentos vão ser revelados ou não, mas a Apple já pediu cinco dias para se preparar caso isso aconteça.

Samsung não pode usar filmes como provas no processo

No começo do processo em meados de 2011 a Samsung mostrou trechos do filme 2001: Uma Odisséia no Espaço como prova de que a Apple se inspirou nesse trabalho de ficção para criar o seu tablet e isso suportaria o argumento de que a patente de design do iPad deveria ser invalidada. A cena específica que teria inspirado tal criação está logo abaixo.


(Vídeo no YouTube)

Mas como na época a empresa não disse que pretendia usar o vídeo como prova na sua alegação para invalidade da patente, a juíza do caso decidiu proibir o uso do filme como prova no processo. A Samsung também não pode usar cenas da série de TV britânica Tomorrow People, que também mostra um tablet.

Scott Forstall revela como o iPhone surgiu: Project Purple

O segundo executivo a dar seu depoimento foi Scott Forstall, o líder de desenvolvimento do iOS. Ele revelou detalhes de como o iPhone foi desenvolvido em meados de 2004: de acordo com o executivo, o próprio Steve Jobs o colocou como responsável pela criação do software que rodaria no iPhone e disse que ele só poderia recrutar internamente, para manter o segredo em torno do que eles então chamavam de Project Purple.

E segredo é algo que a Apple preza bastante. Durante o projeto, o executivo disse que em um determinado momento um andar inteiro de um dos prédios da Apple foi fechado apenas para funcionários envolvidos diretamente na sua criação. Para garantir que ninguém soubesse do que se tratava, alguns desses funcionários tinham que verificar sua identidade mostrando o crachá até seis vezes antes de poderem transitar pelo local.

Dois anos depois, o Project Purple virava o iPhone. E criá-lo foi um verdadeiro desafio, garantiu Forstall. Vários dos membros da equipe tiveram que passar noites e finais de semana trabalhando no projeto durante esses dois anos para que tudo funcionasse.

O processo vai se estender por semanas, mas deve acabar ainda esse mês. A estimativa é de que o jurí já tenha o suficiente para declarar um veredicto na metade de agosto, mas a decisão pode ser apelada. E para quem acha que o caso é só uma disputa boba, o AllThingsD nota que ao todo existem 80 advogados envolvidos, não só da Apple e da Samsung mas também de empresas que querem tentar manter seus contratos em segredo e até da Reuters, que tenta revelar tais contratos.

Atualizado às 18:20.

Com informações: AllThingsD, CNET, The Verge.

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Rafael Silva

Rafael Silva

Ex-autor

Rafael Silva estudou Tecnologia de Redes de Computadores e mora em São Paulo. Como redator, produziu textos sobre smartphones, games, notícias e tecnologia, além de participar dos primeiros podcasts do Tecnoblog. Foi redator no B9 e atualmente é analista de redes sociais no Greenpeace, onde desenvolve estratégias de engajamento, produz roteiros e apresenta o podcast “As Árvores Somos Nozes”.

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