Céus, como as pessoas levam esse Facebook a sério!

"Essa discussão acerca da privacidade me dá um pouco de preguiça. Não quer aparecer? Simples: não tenha conta"

Bia Kunze
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• Atualizado há 1 semana
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Não sou daquelas fãs fervorosas de redes sociais. Uso com parcimônia. Sei que são úteis e interessantes, cresci profissionalmente com elas, dou palestras a respeito. Mas sei também que são sorvedouros de tempo. E meu dia costuma ser bem cheio.

Tenho meu blog há 10 anos e não hesito em dar uma parada quando minha saúde assim exige. Optei por usá-lo não como uma fonte de renda, mas uma vitrine do meu trabalho e um local onde compartilho informações por prazer, e não obrigação.

Tenho uma conta no Twitter desde os primórdios do serviço, que me conquistou pela praticidade, rapidez e, principalmente, intimidade com o “mobile way of life”. Mas se eu estiver sem tempo ou sem assunto, sumo sem medo. Tenho um perfil no LinkedIn. Demorei para entrar no Foursquare, pois não via utilidade, e só aderi quando vi que me ajudava a achar lugares legais para comer e passear quando viajava. Já ganhei muito desconto e sobremesa grátis graças e ele. Hoje gosto muito da função de listas para planejar viagens.

Mas o que demorei mesmo para mergulhar de cabeça foi o Facebook. Uma vez dentro dele, não custava nada aderir ao Google+ também. A caçula é a ResearchGate, que uso para acompanhar pesquisas acadêmicas na área de saúde. E chega.

Minha relação com o Facebook é emblemática. Continuei fora mesmo quando já era mainstream, e só me rendi mesmo por obrigação, quando passei a integrar o PapoTech e todas as discussões do podcast passaram a ser lá.

No final do ano passado, criei um perfil mas logo transformei em fanpage para evitar o problema do limite de pessoas. Não tinha em nenhum momento a intenção de usar o Facebook como uma rede pessoal, e sim, como uma extensão do trabalho que já faço na web. Ainda prefiro relações sociais mais pessoais à moda antiga: amigos de verdade falam pessoalmente uns com os outros, ou por telefone, ou no máximo SMS. Ou WhatsApp também, vá lá.

O problema é que precisei fazer um novo perfil para poder participar dos grupos de discussão. Não tinha a intenção de usar esse perfil, queria só algo para gerir o sistema mesmo. E aí começaram as dores de cabeça: como o Facebook já virou Orkut, os amigos não-tech e os parentes (próximos ou distantes) não entenderam aquele negócio de eu não adicionar ninguém, e pedir que no lugar curtissem minha fanpage. Logo ganhei fama de antipática. Ai, ai. Pelo bem das relações familiares, cedi. Mas só para eles. Não demorou para surgirem as correntes, as fotos onde eu era marcada sem concordar, e as cobranças para postar mais coisas pessoais em vez das profissionais…

Céus, como as pessoas levam esse Facebook a sério! Tem gente que fica sem se falar por causa de posts, fotos em que se acham horrorosas, ou arrependidas porque se fotografaram bêbadas ou com trajes inadequados. Há periguetes demonstrando falsa intimidade para se vingar de ex. E temos as onipresentes cutucadas – aquelas indiretas com tom de desabafo que volta e meia alguém faz sem citar nomes, mas faz quase todo mundo vestir a carapuça.

Foi difícil explicar para meus familiares porque meu entusiasmo com redes sociais vai só até certo ponto, mas com o tempo o pessoal entendeu. Passei de antipática a apenas excêntrica.

Alguns até acataram dicas minhas. Pararam de colocar suas residências como venues. Pararam de expor seus filhos com o uniforme da escola. Pararam de mostrar que fazem diariamente um determinado itinerário casa-trabalho carregando trocentos gadgets na bolsa. “Ah, mas só meus amigos estão vendo!” Ah, é? Quem garante?

Com o tempo me flexibilizei. Mas só um pouco. Uma ou outra foto mais pessoal está lá. Porque penso assim: se você sai na chuva, é para se molhar. É por isso que toda essa discussão acerca da privacidade do Facebook me dá um pouco de preguiça. Não quer aparecer? Simples: não tenha conta no Facebook. Não quer ser importunado, não quer que bisbilhotem seu perfil, não quer que façam fofoca? Saia da rede. Sim, é possível trancar seus posts e limitar suas visualizações a certos grupos, mas eu simplesmente não acredito em privacidade no mundinho online. E lembre-se: antes de entrar no universo do Zuckerberg, você precisa concordar com as regras que ele impõe.

Dá para fazer uma analogia com o recente episódio envolvendo a Duquesa de Cambridge. Não quer aparecer em capas de revista com as peitolas de fora? Simples, não faça topless. Sim, ela estava em lugar privado, é um direito que ela tem. Mas era aberto. E os paparazzi não dão trégua. Assim como hackers podem burlar a segurança nos perfis do Facebook ou Twitter, os fotojornalistas podem se valer dos moderníssimos drones. Volto a insistir: ela estava no seu direito, na sua intimidade. Mas sendo esposa de herdeiro real, ela tem tempo, dinheiro e poder de sobra para processar quem ela quiser caso sua privacidade seja violada. E nós, mortais comuns?

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Bia Kunze

Bia Kunze

Ex-colunista

Bia Kunze é consultora e palestrante em tecnologia móvel e novas mídias. Foi colunista no Tecnoblog entre 2009 e 2013, escrevendo sobre temas relacionados a sua área de conhecimento como smartphones e internet. Ela também criou o blog Garota Sem Fio e o podcast PodSemFio. O programa foi um dos vencedores do concurso The Best Of The Blogs, da empresa alemã Deutsche Welle, em 2006.

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