Quanto custa a mudança e a resposta da Bridgestone para a nova geração de pneus

San Picciarelli
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• Atualizado há 1 semana
Air-Free Tyres, protótipo da nova geração de pneus da Bridgestone

Temos uma inclinação natural para achar que as coisas quando atingem um nível muito comum é porque não precisam mais de inovação. “Time que está ganhando…” só vale até o momento em que o comum começa a causar problemas. E é exatamente esse o momento para as boas e novas ideias.

Pneus, por exemplo. Se considerarmos o que circula em cima deles, mesmo sendo uma invenção tecnológica antiga e que não sofreu tantas modificações assim, podemos nos surpreender com o estrago que a falta deles faria no mundo hoje. A charada: um pneu velho de alguns reais “ainda” faz um FCV-R movido a células de hidrogênio da Toyota rodar.

Essa é uma característica comum à invenções extremamente funcionais — talvez por sua simplicidade e fácil multiplicação — e que nos força a geralmente estagnarmos diante de projetos inovadores.

É também este mesmo carácter simplista de aplicabilidade que acaba se sobrepondo aos possíveis impactos negativos que qualquer invenção pode provocar. É fácil ser complexo. Difícil é ser simples. E raramente simples quer dizer perfeito. 

Falando em transportes, por exemplo, pneus ainda são algo que se encaixam perfeitamente à máxima de “um mal necessário”. Extremamente difíceis de serem reaproveitados, eles ainda figuram como algo com tudo para se tornar em uma fonte abundante de soluções criativas de reciclagem, mesmo diante do estrago que fazem ao mesmo tempo em que nos facilitam imensamente a vida.

Do ponto de vista tecnológico, pode-se presumir que eles já deveriam ter sumido e que só estão por aí porque ainda não descobrimos nada melhor para algo tão fundamental.

Ao que parece, quase ninguém tem aquela coragem (ou conhecimento) para apostar em algo realmente novo. No caso dos pneus, mesmo que isso hoje ainda signifique um impacto ecológico negativo após seu descarte e o fracasso de inúmeras tentativas de substitui-los. Por quê?

Matéria-prima, combustíveis, reciclagem de materiais… Tudo ainda faz parte de um cenário com incríveis inserções de modernização tecnológica, porém, não muitas inovações na mesma receita que seguimos a alguns séculos.

Isso quer dizer nesse exemplo simplório que mesmo que os carros tenham adições fantásticas de tecnologia, o modelo fundamental de chassis, quatro rodas e barra direção jamais foi amplamente inovado. Em outras palavras, a modernização é sempre muito mais fácil de se incorporar e aplicável que a inovação.


(Vídeo do YouTube)

Projetos bizarros como o TerraFugia, um carro legalmente capaz de rodar em auto-estradas e que também se converte em uma aeronave ainda persistem como uma provável alternativa, embora eu não me surpreenderia se você soltasse uma gargalhada ao imaginar uma cocota de Alphaville indo buscar os filhos no colégio e depois tentar ‘escapar’ do trânsito, voando para o cabelereiro.

Ou seja, ainda assim, o paradigma de re-invenções constantemente se sobrepondo à nítida falta de reais inovações, não apenas no transporte mas em tantas outras áreas, é um fator determinante para compreendermos porque invenções tão fundamentalmente básicas como o bom e velho pneu ainda fazem parte dessa fronteira entre o re-inventado e realmente novo.


(Vídeo do YouTube)

Quem dera fosse assim tão fácil como os infláveis da chinesa Gearfactor (acima). Confesso que o efeito é visualmente incrível. Ou então que tal seria se um legítimo Hoverboard como este (abaixo) criado pelo artista francês Nils Guadagnin em 2010 realmente funcionasse?

(Vídeo do Vimeo)

Até lá, qualquer transição além de tubos de Geissler em Y imitando o capacitor de fluxo mais famoso de todos os filmes está longe de ocorrer. Mas nem todos estão de braços cruzados ou apenas trabalhando em cima do que já existe.

A Bridgestone, uma das maiores fabricantes de pneus do mundo, lançou ontem um protótipo (Air-Free Tyres) de uma nova geração de pneus que utiliza uma resina termoplástica como estrutura de suporte, ao invés de ar.

Segundo a empresa, esse novo tipo de pneus tornaria passado problemas como perfurações, checagem constante da pressão/calibragem, baixa durabilidade, alto preço de manufactura, custo ambiental e o próprio descarte de materiais para reciclagem.

Cada um deles tem uma capacidade inicial para suportar 50 kg de peso, embora a finalização de testes com outros materiais irá aumentar estes números caso o projeto avance. Os engenheiros asseguram que testaram cada pneu com pelo menos três vezes esse peso.

Outro fator bastante interessante é que o desenho dos ‘raios’ (spokes) permite que o modelo se dobre e se adeque à acidentes e obstáculos, como pneus comuns, porém sem provocar uma força horizontal. A princípio, pensa-se no protótipo como se aplicado apenas para novos produtos de mobilidade pessoal, como scooters e afins.

Mas você conhece os japoneses, perfeccionistas. De acordo com os seus criadores, o Air-Free ainda precisa de bastante trabalho, especialmente pelo fato de que objetos poderiam facilmente se alojar entre os raios e deformar sua estrutura, oferecendo riscos.

Eles alegam já estarem próximos de algumas soluções aplicáveis para resolver o problema e confiantes de que o novo modelo possa avançar no caminho de inovar de verdade frente a alternativa atual.

(Vídeo do YouTube)

Você conhece algum outro projeto ou conceito inovador em áreas relacionadas à transportes e materiais? Comente! Cheers.

Com informações da DigiInfo

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San Picciarelli

San Picciarelli

Ex-redator

San Picciarelli é gerente de projetos e mestre em biotecnologia. Fez parte da equipe de redatores do Tecnoblog entre 2011 e 2012, produzindo artigos de assuntos relacionados à tecnologia, inovação e empreendedorismo. Trabalha com esse assunto desde 2006, mas também tem experiência em design e construção de sites.

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