Sempre haverá quem ache que a reclamação contra os altos preços dos smartphones e tablets é coisa de classe média consumista. Pior quando tal discurso vem da própria classe média.

Está na hora de deixar de lado esse discurso antiburguês e compreender que está na hora de aproveitarmos nossa bonança econômica para botar a mão na massa naquilo que realmente fará diferença na vida dos brasileiros: a educação. Hoje, acesso a tecnologia é sinônimo de cultura, informação, conhecimento, e, por consequência, prosperidade.

Gosto muito de acompanhar o progresso da China, em paralelo ao do Brasil, pois são emergentes com muitas características em comum. Porém lá há um incentivo imenso ao empreendedorismo, e o grosso dos investimentos está indo na educação. Sabemos como os chineses se esmeram quando querem ser os melhores; olhem os medalhistas olímpicos.

Vejo escolas e universidades nos EUA substituindo livros didáticos por iPads. Claro que isso é um imenso motivador para essa meninada que adora eletrônicos, que passam a estudar mais. Muitos cidadãos brasileiros “cultos” dão risada quando falamos em iPads e eReaders em escolas públicas, do mesmo modo como foi com os netbooks educacionais, falando que há coisas mais importantes como merenda e livros didáticos.

Ora, será que nossos alunos não têm valor nem capacidade para tal? Quanto à merenda, o problema não é investimento, mas o que alguns prefeitos fazem com os recursos quando este chega ao destino final. Façamos justiça punindo os corruptos. Quanto aos livros didáticos, imaginem-os num tablet brasileiro! Nada de desvio de livros, nada de superfaturamento em licitações de editoras. Imaginem um livro didático open source na web, no qual os educadores de cada região podem adaptá-los à cultura local e instalar nos dispositivos dos alunos!

Temos que deixar os superprocessadores e o 3D de lado.

Quando sou chamada para dar minha opinião sobre como serão os smartphones e tablets no futuro, sou obrigada a deixar 3D, superprocessadores e afins de lado. Acho que isso não tem importância agora. Temos que colocar o pé no chão e entender que temos que estimular e aproveitar o que temos no momento. Dispositivos que entendem o que falamos, ou que acompanham o movimento dos nossos olhos são lindos, pelo menos numa ficção como Minority Report.

O mesmo vale para aqueles gadgets ultrafuturistas que prometem reabilitar cegos, tetraplégicos, etc. De que adiantam tantos protótipos maravilhosos, se fazemos com o que temos hoje bem menos do que poderíamos? Por exemplo, empresas de softwares que transformam áudio em texto e vice-versa estão simplesmente parando com o desenvolvimento para a língua portuguesa! Estou há cerca de um ano atrás de algumas delas inquirindo, pegando no pé. Mas desanima bancar a andorinha querendo fazer verão à força.

Quase todas as nossas mazelas digitais podem ser resolvidas hoje mesmo com uma simples canetada. Pronto, incentivos fiscais para fabricantes de hardware e software! Do resto, nos viramos com o que temos! O brasileiro é um empreendedor criativo, só é subvalorizado. Nunca houve uma “política de distribuição de celulares” para chegarmos aos números de hoje. Quantos pedreiros, eletricistas, diaristas e fretistas não se tornaram autônomos bem sucedidos tendo como ferramenta seu pré-pago?

Queridos e jovens leitores do Tecnoblog, vocês que amam tecnologia, são formadores de opinião e o futuro do país, saibam que podemos nos mexer agora. Vocês já fazem um trabalho extraordinário comentando, divulgando, ajudando as pessoas a compreender o mundo digital. Mas saibam que podem muito mais, sem precisar necessariamente de um mouse. Comecem já!

Façam trabalhos voluntários, montem cursos em escolas de periferia, doem livros e computadores que não usam mais. Procurem comunidades para ajudá-las a instalar e usar softwares livres. Encham o saco dos políticos que vocês elegeram. Recentemente eu comentei com o Rafa que ano passado, durante as eleições, conversei com alguns deputados sobre inclusão digital… Estavam todos me ouvindo, simpáticos e solícitos. Agora é hora de cobrar atitude — ainda que, de repente, todos tenham ficado muito “ocupados” para me responder.

Não são atos que ganharão centenas de retweets ou virarão Trending Topics, mas começando com pequenos passos agora, vocês começam a galgar degraus como os líderes de amanhã. Aqui entre vocês estarão CEOs, escritores, desenvolvedores, engenheiros e (espero!) legisladores. O sucesso de vocês dependerá de sua personalidade empreendedora, e dela, virá o sucesso de todo o país.

Receba mais notícias do Tecnoblog na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Bia Kunze

Bia Kunze

Ex-colunista

Bia Kunze é consultora e palestrante em tecnologia móvel e novas mídias. Foi colunista no Tecnoblog entre 2009 e 2013, escrevendo sobre temas relacionados a sua área de conhecimento como smartphones e internet. Ela também criou o blog Garota Sem Fio e o podcast PodSemFio. O programa foi um dos vencedores do concurso The Best Of The Blogs, da empresa alemã Deutsche Welle, em 2006.

Canal Exclusivo

Relacionados