4 motivos pelos quais o iPhone ainda não é uma plataforma válida para games

Izzy Nobre
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• Atualizado há 1 semana

Os leitores desta coluna já me ouviram pregar (múltiplas vezes) a respeito das qualidades do celular da Apple como console portátil. A competição entre o iPhone/iPod Touch e os consoles portáteis dedicados é tão evidente que a própria Nintendo admite que a Apple é o inimigo do futuro, não a Sony.

Entretanto, há outro lado do argumento. Enquanto eu e muitos outros gamers – e especialistas do meio também – interpretamos a tendência atual como um sinal de que o console portátil dedicado está no seu leito de morte, há muitos que se opõem à ideia de um console portátil que divide funções de celular e tocador de MP3.

Para mim, um fanboy, seria muito fácil e conveniente simplesmente desconsiderar os argumentos contrários à minha opinião pessoal. Entretanto, muitas críticas dos insatisfeitos têm mérito e merecem ser ouvidas. Portanto, creio que, no interesse da imparcialidade, seria justo reconhecer todas as falhas dos aparelhos iOS como consoles portáteis.

Algumas destas falhas podem ser corrigidas. Outras são inerentes à plataforma e nunca mudarão. De qualquer forma, estes são os X motivos pelos quais o iPhone ainda não é uma plataforma viável de games.

1. Ainda falta uma rede online coerente

A Xbox Live e a PlayStation Network nos ensinaram que uma rede online não é um supérfluo. Ela faz parte intrínseca da experiência do console como um todo. A lição aprendida nos consoles de mesa foi emulada nos aparelhos iOS, de forma que deixou a desejar inicialmente.

As redes online de games nos iPhones são mantidas pelos desenvolvedores dos jogos. Por isso, existem várias redes: Open Feint, Gameloft Live, Plus+, Crystal, Agon… E essas são só as que eu consegui lembrar de cabeça. E isso sem contar os jogos que não se submetem a nenhuma rede específica e mantêm seus registros em servidores próprios.

Toda essa fragmentação desnecessária torna a experiência online dos games meio bagunçada, já que você tem que manter várias listas diferentes de amigos e pontuações, por exemplo. É um tanto cansativo ter que manter tantas contas redundantes. Imagina o quão chato seria ter que usar 5 programas diferentes de mensagens instantâneas para poder conversar com todos os seus amigos?

Havia a necessidade de uma centralização.

Em abril do ano passado a Apple lançou a rede pra dominar todas as redes, o Game Center. Entretanto, quase um ano depois, a rede permanece quase inalterada. Nem todos os jogos a usam, por causa da falta de funções básicas como envio de mensagens. Ela serve, essencialmente, para comparar pontuações. A maioria dos jogos que primam por multiplayer online continuam usando suas próprias (e mais robustas) redes sociais.

Até o momento, o Game Center foi um fiasco. Resta à Apple remodelá-lo e torná-lo mais útil.

2. O hardware recebe upgrades muito frequentes

Detratores da Apple sempre criticaram a prática da empresa de renovar seus aparelhos anualmente. Fala-se sobre uma suposta obrigação em migrar para os novos modelos, e de obsolecência programada. Embora seja possível descartar tais reclamações como discurso histriônico vindo daqueles já predispostos a odiar a empresa, nós iOS-gamers sabemos que há, de fato, um fundo de verdade nisso.

Digamos que você comprou um Nintendo DS assim que este foi lançado, em 2004. O primeiro Nintendo DS deixava muito a dever aos seus irmãos mais novos, mas no geral as entranhas digitais – processador, GPU, RAM – eram essencialmente as mesmas. É possível buscar aquele DS velhão no fundo da gaveta, pôr nele um jogo recém-lançado para plataforma, e jogar com performance indistinguível a de um dos modelos mais recentes.

O mesmo não é possível com um iPhone. Se você comprou, digamos, um iPhone 3G (lançado em 2008), os jogos mais recentes não rodarão de forma satisfatória – ou nenhuma – no seu celular. Se você é um gamer que desistiu do seu DS e PSP, e decidiu investir no celular da Apple pensando nos games, no mínimo a cada dois anos você se verá obrigado a fazer o upgrade para a inevitável nova versão do aparelho.

E é uma corrida sem fim. Consoles portáteis seguem o paradigma estabelecido pelos seus irmãos de mesa, que é ter uma vida de aproximadamente 5 ou 6 anos. Já o iPhone recebe um update anual; após dois anos, a sua versão está seriamente defasada.

3. A corrida ao fundo do poço desmotiva desenvolvedores

A AppStore nos beneficiou com uma miríade de jogos, de inúmeras gamehouses diferentes – algumas icônicas, algumas obscuras, e aquelas que se resumem a um cara programando sozinho na garagem – a preços agradabilíssimos. Gamers brasileiros amargaram diversas gerações com jogos custando três dígitos; hoje é possível a um dono de aparelho iOS gastar menos do que um Big Mac e sair da loja virtual da Apple com 3 ou 4 bons jogos.

Entretanto, há um lado negativo para os preços camaradas da App Store. O consumidor comum da loja só navega nas listas de games mais vendidos, que é inteiramente dominada por jogos que custam 1 dólar.

O efeito colateral de um ecossistema de joguinhos baratos é que jogos que custem um pouco mais – sem serem necessariamente onerosos – parecem desproporcionalmente mais caros. Cinco dólares é uma pechincha por um jogo, mas ao lado de jogos de 99 centavos, ele parece cinco vezes mais caro.

Os especialistas chamam este fenômeno de “race to the bottom“, que eu traduziria livremente como “corrida ao fundo do poço”. Os iOS gamers são mal acustomados, e essa exigência de jogos praticamente gratuitos acabará afastando desenvolvedores a longo prazo.

4. Falta de botões físicos

Eu diria que este é, sem dúvida, o maior obstáculo para aceitação do iPhone como console viável. Existem alternativas para falta de controles táteis no iPhone (soluções como o Fling, um pequeno joystick que adere à tela do aparelho, ou o GameBone, que é um add-on que envolve o celular todo e o deixa meio parecido com um PSP). Existem muitos outros.

O problema é que esse tipo de solução é extremamente deselegante. Aplicar gambiarras desse calibre a um aparelho que preza tanto pelo design é de amargar.

O simples fato de que estas geringonças existem é um testamento ao fato de que muita gente não se satisfaz com botões virtuais na tela do aparelho. Como o Steve Jobs originalmente não queria nenhum botão no iPhone, é muitíssimo improvável que a Apple dê o braço a torcer e coloque no iPhone hardware dedicado a jogos, o que torna esse problema definitivo.

E você, o que acha disto? O iPhone satisfaz de forma suficiente como console, ou estes motivos serão eternamente uma pedra de tropeço para plataforma?

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Izzy Nobre

Izzy Nobre

Ex-autor

Israel Nobre trabalhou no Tecnoblog entre 2009 e 2013, na cobertura de jogos, gadgets e demais temas com o time de autores. Tem passagens por outros veículos, mas é conhecido pelo seu canal "Izzy Nobre" no YouTube, criado em 2006 e no qual aborda diversos temas, dentre eles tecnologia, até hoje.

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