Sinal de alerta no Facebook: os usuários estão postando menos conteúdo pessoal

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 2 semanas
Facebook

Dê uma boa olhada no Facebook. Agora, responda: você encontrou ali mais conteúdo produzido por seus contatos (fotos, vídeos pessoais, textões etc.) ou material de terceiros (como notícias, vídeos e memes)? Se a resposta for a segunda alternativa, saiba que você não está sozinho com essa percepção: o próprio Facebook já notou, com alguma preocupação, que o comportamento em relação ao conteúdo da rede social está mudando.

Esse fenômeno, por assim dizer, varia de intensidade conforme o país e o idioma, mas a sua manifestação é global. Estima-se que o compartilhamento de conteúdo original no serviço cai 21% a cada ano. Um levantamento feito em 2015 mostra que apenas 39% dos usuários ativos que acessam o Facebook via aplicativo móvel postam material próprio pelo menos uma vez por semana. Atualmente esse número pode estar menor.

Sinal de alerta ligado

Para o Facebook é ótimo que você compartilhe links para notícias e vídeos curiosos. Esse comportamento traz engajamento e gera, de várias formas, receita para a companhia — uma empresa pode ser estimulada a pagar para que o seu link apareça com mais frequência, por exemplo. Mas a coexistência com conteúdo pessoal é essencial.

Por ser extremamente popular — provavelmente, a maioria das pessoas que você conhece está no serviço —, o Facebook espera que você use a rede social para registrar e compartilhar acontecimentos de ordem pessoal: a conquista de um emprego, a aprovação em um vestibular, o nascimento de um filho, uma festa de aniversário, aquela viagem programada há meses, a sua mudança para outra cidade e por aí vai.

Zuckerberg tenso

Esse tipo de conteúdo é importante porque torna o Facebook um ambiente mais pessoal, de fato. A combinação de conteúdo original com material de terceiros parece ser a fórmula perfeita para fazer os usuários passarem mais tempo dentro da rede social. Mas se o conteúdo próprio aparece com menos frequência, ocorre um desequilíbrio aí.

O resultado disso pode ser simplesmente a queda do interesse pela rede social, ainda que esse efeito venha a ser sentido apenas no médio ou longo prazo. Não é difícil entender: se notícias, vídeos virais e memes predominarem em seu feed, provavelmente você buscará trocar informações pessoais com seus contatos em outros meios.

Por que há menos conteúdo original?

Há várias razões. Uma delas é um efeito colateral da estrutura que o Facebook desenvolveu para estimular o compartilhamento de links, vídeos, memes, entre outros. Fazer isso é fácil e as reações (curtidas, comentários e novos compartilhamentos) costumam ser numerosas, logo, para muita gente — muita gente mesmo — é muito mais interessante divulgar esses materiais do que conteúdo próprio.

Note, porém, que é mais lógico esse tipo de comportamento estimular o compartilhamento de conteúdo de terceiros, mas não, necessariamente, induzir os usuários a postarem menos conteúdo pessoal. É aí que surgem causas aparentemente mais expressivas: a predileção por outros serviços online e o compartilhamento de conteúdo próprio dentro do Facebook, mas para usuários selecionados.

Em relação ao primeiro aspecto (uso de outras redes sociais), há um número crescente de usuários, principalmente entre o público mais jovem, preferindo o Snapchat para postar conteúdo pessoal. Mas é possível que a turma de Mark Zuckerberg não esteja muito preocupada com isso: também é cada vez maior a quantidade de pessoas que usam o Instagram e o WhatsApp para esse fim, serviços que, como você sabe, pertencem ao Facebook.

Por outro lado, não dá para dizer o mesmo quanto à disponibilização de conteúdo apenas para determinados contatos. Os usuários estão mais cientes das ferramentas de privacidade do Facebook, portanto, muito deixam para compartilhar fotos, vídeos e outras publicações de teor pessoal apenas com familiares e amigos mais próximos.

Um funcionário do Facebook que pediu anonimato disse ao The Information que esse comportamento é reflexo do número cada vez maior de pessoas que os usuários adicionam como contatos na rede social.

Envio de fotos para grupos

Essa é uma conduta curiosa. Há gente que tem centenas ou milhares de “amigos” no serviço, mas interage apenas com uma pequena parcela deles. Não é por falta de traquejo social ou qualquer coisa parecida. A verdade é que conseguimos nos relacionar com alguma regularidade com um número bem limitado de pessoas.

Um estudo publicado pela Universidade de Oxford no início do ano aponta que a maioria das pessoas consegue se relacionar de verdade com até 150 indivíduos, talvez algo em torno de 200, mas não mais do que isso. A partir, o que temos são pessoas que até podemos conhecer de alguma forma, mas não com profundidade suficiente para estabelecer amizades. São essas pessoas que preenchem a lista de quem tem centenas de contatos no Facebook.

Como esses contatos realmente são numerosos, muita gente acaba preferindo compartilhar conteúdo apenas com pessoas que são mais próximas. É uma forma de evitar exposição, obviamente.

Não seria melhor simplesmente adicionar pessoas realmente conhecidas, ou seja, que sustentam algum laço de amizade? Seria, só que, para muita gente, adicionar pessoas pouco ou nada conhecidas é uma ação válida porque o relacionamento online pode acabar culminando em uma amizade de verdade ou em uma oportunidade de negócio no futuro, por exemplo, embora isso só aconteça com uma quantidade reduzida de contatos. Para tantos outros usuários, aumentar o número de “amigos” é apenas uma tentativa de reforçar a popularidade.

A reação do Facebook

A diminuição do conteúdo pessoal indica, sobretudo, que as pessoas estão ficando mais cuidadosas nas redes sociais. Além dos motivos já expostos, há a preocupação de que determinadas postagens acabem sendo mal interpretadas ou criem barreiras para quem procura trabalho, por exemplo — há cada vez mais empregadores checando os perfis de candidatos nas redes sociais.

Como os cuidados crescentes com conteúdo próprio são, de certa forma, um processo natural, ninguém no Facebook deve estar perdendo o sono por causa disso. Isso não significa, todavia, que a empresa não esteja tentando ao menos amenizar a situação.

Várias medidas estão sendo tomadas. Uma delas são as sugestões automáticas de postagens que lembram o usuário de um evento comemorativo ou que informam que ele possui tantos anos de amizade com determinada pessoa. Outra está nas mudanças que deixam as postagens a partir de apps móveis mais fáceis.

Facebook Live
Facebook Live

Na semana passada, o próprio Mark Zuckerberg confirmou que todos os usuários terão acesso ao Facebook Live, ferramenta para streaming de vídeo em tempo real — algo nos moldes do Periscope. Essa também é uma medida importante. Muito importante: testes feitos pela companhia mostram que esse tipo de publicação resulta em muito mais comentários e outras formas de interação do que fotos e vídeos tradicionais.

Ainda não dá para saber se essas e outras medidas ajudarão a evitar que o Facebook se torne menos pessoal. O que dá para perceber é que a companhia acredita mesmo que os vídeos em tempo real são um caminho importante para esse objetivo: segundo Zuckerberg, “esses não são os mesmos vídeos que você pode assistir na TV ou no YouTube. (…) Essa é uma nova experiência social”.

Com informações: Fortune, BBC, Business Insider

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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