Minecraft ajudará a construir inteligência artificial com capacidade humana

Jean Prado
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• Atualizado há 1 semana

O Minecraft, jogo de mundo aberto que permite várias modificações, sempre rendeu muitos projetos fora da caixa, como este computador interativo (com calculadora!). Desde que a Microsoft comprou o título por US$ 2,5 bilhões em 2014, os engenheiros da empresa perceberam que podiam usá-lo para melhorar a inteligência artificial.

Nesta segunda-feira (14), o Projeto AIX nasceu com essa premissa. Criado por Katja Hofmann, pesquisadora da Microsoft Research de Cambridge, no Reino Unido, o experimento faz uso de todo esse mundo complexo e versátil do Minecraft para testar e criar pesquisas com o objetivo de melhorar a inteligência artificial.

Esse projeto só é possível graças a colaboração dos usuários; atualmente, ele está em beta fechado para um pequeno grupo de pesquisadores acadêmicos. Até agora, os experimentos são feitos nos computadores locais dos participantes, e provavelmente devem observar os movimentos de usuários comuns em segundo plano para aprender com o tempo como eles são feitos.

Ainda assim, é uma abordagem da inteligência artificial diferente da usada no AlphaGo, computador do Google que derrotou um campeão mundial em um jogo chinês, por exemplo. Como aponta o Engadget, o jogo Go é feito de tarefas específicas, que o computador é treinado milhões de vezes para desempenhar. A Microsoft quer criar uma espécie de inteligência “geral”, mais próxima da humana.

Com o Minecraft, eles querem treinar o computador a aprender a fazer coisas como escalar até o ponto mais alto do mapa usando o mesmo tipo de recurso que um humano teria quando ele aprende uma nova tarefa. O sistema pensaria por si próprio, o que é um desafio para sistemas de aprendizagem profunda.

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“Diferente de outros jogos de computador, o Minecraft oferece a seus usuários infinitas possibilidades, desde tarefas simples como andar por aí e procurar por um tesouro até complexas, como construir uma estrutura com um grupo de amigos”, diz a Microsoft. Katja defende que o jogo é ideal para esse tipo de projeto, até porque, como o exemplo mostrado no começo do post, você pode construir seus próprios jogos dentro do game.

A Microsoft explica que o agente de inteligência artificial começaria conhecendo nada sobre o ambiente, para depois entender o que está ao seu redor e saber o que é importante ou não – seguindo o exemplo acima, subir um morro é importante, mas matar uma vaca não.

“Ele precisa passar por uma série de tentativas e erros, incluindo cair regularmente em rios e na lava. E precisa entender – por meio de recompensas graduais – quando ele atingiu todo, ou parte de, seu objetivo”, diz o post no blog da empresa.

Até setembro, a Microsoft pretende lançar o Projeto AIX em uma plataforma open-source para o público. À BBC, Katja explica que o AIX vai levar a inteligência artificial além da sua capacidade, em um conhecimento de nível humano. “Mas eventualmente, nós poderemos levar o projeto um passo à frente e incluir tarefas que permitem que agentes de IA aprendam a colaborar com os humanos e ajudá-los de uma forma criativa”, acrescenta.

Inteligência “geral”

Por que tudo isso foi criado? A Microsoft argumenta que, apesar do esforço que já tivemos com todo o reconhecimento de fala e imagem, além da interpretação visual do ambiente a partir de algoritmos, podemos ir mais longe.

Eles querem criar uma certa inteligência geral, que se aproxima do pensamento humano e do “complexo jeito” que aprendemos e tomamos decisões. Pode parecer fácil para nós, mas é realmente difícil para os computadores.

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“Um algoritmo de computador pode conseguir completar uma tarefa igual ou melhor que um humano comum, mas ele não consegue competir em como uma criança está interagindo em uma série de estímulos – luz, cheiro, toque, som, desconforto – e aprender que se você chorar, as chances são boas que a sua mãe irá te alimentar”, exemplifica o post no blog da Microsoft que anuncia o projeto.

Praticar essas informações aprendidas também é mais fácil usando o Minecraft. Como já vimos neste post, as dificuldades que um robô tem para se movimentar igual os humanos são tremendas. Imagina, então, se a Microsoft tivesse que construir um robô para fazer coisas como a do Minecraft, como escalar uma montanha, e assim aprender com o tempo. Os custos disso, e o tempo que teria, são impraticáveis.

E o Minecraft ajuda a tornar esse paradigma mais acessível. No jogo, quando observado em cenários mais técnicos, é possível fazer decisões complexas que geram consequências (soa como a vida real?), além de poder adicionar elementos que tornam o jogo mais difícil, conforme o jogador fica melhor.

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Jean Prado

Jean Prado

Ex-autor

Jean Prado é jornalista de tecnologia e conta com certificados nas áreas de Ciência de Dados, Python e Ciências Políticas. É especialista em análise e visualização de dados, e foi autor do Tecnoblog entre 2015 e 2018. Atualmente integra a equipe do Greenpeace Brasil.

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