Cientistas criam software que avalia a digitação para encontrar sinais de doenças degenerativas

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 3 semanas
Teclado

Os médicos recorrem a vários testes para avaliar um paciente com (ou com suspeita de) doença degenerativa. Em um futuro próximo, a digitação pode ser um deles. Pelo menos é o que esperam os pesquisadores responsáveis pelo projeto neuroQWERTY.

Talvez você nunca tenha parado para pensar nisso, mas digitar é uma atividade complexa. Assim como dirigir um carro ou andar de bicicleta, você só consegue usar o teclado no “modo automático” – sem pensar em cada ação da tarefa – após algum tempo de prática.

Sendo assim, declínios nessa atividade podem indicar o início de algum problema. Mas, muitas vezes, os sinais são tão discretos que a pessoa, sozinha, nada percebe. É aí que o neuroQWERTY pode fazer a diferença.

O projeto está sendo desenvolvido na Espanha por pesquisadores do país com apoio do MIT. O neuroQWERTY nada mais é do que um software que avalia a digitação do usuário de maneira silenciosa, sem interferir em seu trabalho.

A ferramenta não captura os dados digitados, apenas analisa como a pessoa usa o teclado. A velocidade de digitação, o tempo que a pessoa leva para liberar cada tecla e a quantidade de erros (medida, provavelmente, pelo número de vezes que o Backspace é pressionado) estão entre os fatores considerados.

Depois de algum tempo, o software consegue montar um “perfil” do usuário. Isso é importante porque cada pessoa digita de um jeito diferente. Umas são rápidas, outras, mais lentas, há quem tenha mais agilidade com determinadas teclas e por aí vai.

Os dados colhidos são enviados periodicamente para um servidor que, com base em uma série de algoritmos, analisa mudanças de padrão. Se uma pessoa se mostrar menos habilidosa, mas somente por alguns dias, provavelmente não há nenhum problema aí – a causa pode ser sono, um remédio, a troca do teclado, enfim. Mas, se o declínio é progressivo, talvez ela deva passar por uma avaliação médica.

O padrão de digitação de três indivíduos durante o dia e à noite (direita)
O padrão de digitação de três indivíduos durante o dia e à noite (direita)

É claro que o neuroQWERTY não faz diagnósticos. Essa tarefa cabe ao médico, sempre. O software, no máximo, serve de auxílio, e não só para a identificação da doença: a ferramenta pode ser usada para avaliar se determinado tratamento para os sintomas de Parkinson apresentam efeito, por exemplo.

Dá para explorar a ideia de outras formas. Uma empresa pode adaptar os algoritmos para avaliar o padrão de digitação de funcionários que acessam dados críticos. Se um deles apresentar alteração repentina, pode haver um invasor usando um login válido para acessar o sistema.

Mas, por enquanto, o projeto tem apenas fins médicos mesmo. Na atual fase, o software está sendo testado para avaliar a evolução de pacientes com doença de Parkinson. Há mais detalhes no site oficial do neuroQWERTY.

Com informações: El País, Nature

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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