Serviços Google: de graça, mas nem tanto

Bia Kunze
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• Atualizado há 1 semana

Acho os serviços Google os melhores entre os gratuitos da internet: Gmail, calendário, Reader, Mapas, GTalk, Docs e tantos outros… como as buscas, lógico. E eles tem que ser os melhores: só assim mais usuários vão aderir, mais publicidade e links patrocinados serão impressos e clicados, e por aí vai — essa é a origem da gigantesca receita da empresa.

Os serviços são bastante populares, e entre geeks e antenados, são praticamente unânimes. É incontável o número de amigos, conhecidos, clientes e leitores que confiam sua vida digital ao Google, com suas tarefas, compromissos, emails, documentos e muito mais, podendo sincronizar tudo online com seus smartphones. São todos usuários satisfeitos, que os recomendam aos amigos. E de graça, quem recusa?

Eu também uso esses serviços, mas apenas para experimentos que fazem parte do meu trabalho de consultora. Encho de coisas, sincronizo com computadores e smartphones que testo, vou à exaustão. Assim posso publicar dicas e ajudar os leitores a conseguir uma vida móvel mais produtiva.

Quanto à minha própria vida digital, confiei numa conta Exchange por 4 anos e, há 2, por influência do macmarido, aderi ao MobileMe — fui levada pela correnteza através do Family Pack que ele adquiriu. Pura conveniência, já que os Macs são onipresentes em casa, inclusive nos serviços de backup e armazenamento na nuvem. Estou satisfeita, pois compartilhamos nossas coisas sem esforço, planejamos o calendário familiar em conjunto e temos um sistema estável. O sincronismo push com iPhone no começo teve alguns tropeços (mantive o Exchange em paralelo enquanto isso) mas depois estabilizou. Hoje funciona redondinho.

Preciso de um sistema confiável em que possa guardar meus contatos, pois tê-los sempre à mão é fundamental no meu trabalho. Digo o mesmo do calendário, que é o pulmão das minhas atividades, ainda mais como profissional móvel. E no iDisk levo todos os meus arquivos em que estou trabalhando, para acessá-los e compartilhá-los sempre que necessário. Tenho no serviço a confiança que sempre tive no Exchange e nunca tive problemas sérios em ambos.

Sim, temos os serviços Google, excelentes e de graça, mesmo assim eu prefiro pagar por algo que considero importante na minha vida profissional. Prefiro mais privacidade, segurança, e suporte prontamente disponível caso eu precise. Meu ganho em produtividade paga dezenas de vezes o valor da licença anual.

Parece que há mais gente preocupada em colocar sua vida no Google, e, dependendo do uso que se faz dele, é mais que compreensível. Um leitor avisou recentemente que estava aborrecido com a maneira com que o Google trata a privacidade de seus usuários. Como um advogado, um médico, ou qualquer profissional liberal, por exemplo, pode confiar seus dados de trabalho num serviço que tem as seguintes cláusulas nos termos de uso?

11. Licença de conteúdo do usuário

11.1 O usuário retém direitos autorais e quaisquer outros direitos que já tiver posse em relação ao Conteúdo que enviar, publicar ou exibir nos Serviços ou através deles. Ao enviar, publicar ou exibir conteúdo, o usuário concede ao Google uma licença irrevogável, perpétua, mundial, isenta de royalties e não exclusiva de reproduzir, adaptar, modificar, traduzir, publicar, distribuir publicamente, exibir publicamente e distribuir qualquer Conteúdo que o usuário enviar, publicar ou exibir nos Serviços ou através deles. Essa licença tem como único objetivo permitir ao Google apresentar, distribuir e promover os Serviços e pode ser revogada para certos Serviços, conforme definido nos Termos Adicionais desses Serviços.

11.2 O usuário concorda que essa licença inclui o direito do Google de disponibilizar esse Conteúdo a outras empresas, organizações ou indivíduos com quem o Google tenha relações para o fornecimento de serviços licenciados e para o uso desse Conteúdo relacionado ao fornecimento desses serviços.

11.3 O usuário compreende que o Google, ao efetuar as etapas técnicas necessárias para fornecer os Serviços aos nossos usuários, pode (a) transmitir ou distribuir o seu Conteúdo por várias redes públicas e em várias mídias de dados; e (b) efetuar as alterações necessárias ao Conteúdo do usuário para ajustar e adaptar esse Conteúdo aos requisitos técnicos de conexão de redes, dispositivos, serviços ou mídia. O usuário concorda que essa licença permitirá ao Google realizar tais ações.

11.4 O usuário confirma e garante ao Google que tem todos os direitos, poderes e autoridade necessários para outorgar a licença citada anteriormente.

Fonte: https://policies.google.com/terms

Mais uma vez, reforço: os serviços são bons, mas não diria que são de graça. Pelos termos, acho o preço até alto. Acredito que, no caso das empresas que usem os Google Apps os termos sejam diferentes — leitores que estão a par, por favor, esclareçam nos comentários. Contudo, você, usuário comum, que confia todos seus dados pessoais e profissionais ao Google, cuidado. Claro que isso vai depender do quanto aquilo que se coloca lá vale para você. Mas não me venham com esse papo de que “privacidade nesses tempos modernos não existe mais”. A web contemporânea trouxe o trabalho para a nuvem e é natural que as pessoas queiram protegê-lo.

E vocês, usuários finais? Que tipo de serviços gratuitos e pagos usam? Priorizam aqueles que usam criptografia ou tenham alguma segurança reforçada? Como é sua relação com esses serviços? E o que acham do Google dizer que aquilo que é seu e está nele não é mais só seu?

Obrigada ao leitor Guilherme pela idéia de pauta.

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Bia Kunze

Bia Kunze

Ex-colunista

Bia Kunze é consultora e palestrante em tecnologia móvel e novas mídias. Foi colunista no Tecnoblog entre 2009 e 2013, escrevendo sobre temas relacionados a sua área de conhecimento como smartphones e internet. Ela também criou o blog Garota Sem Fio e o podcast PodSemFio. O programa foi um dos vencedores do concurso The Best Of The Blogs, da empresa alemã Deutsche Welle, em 2006.

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