Bill Gates afirma que Ctrl+Alt+Del “foi um erro” (e várias outras coisas) em entrevista em Harvard

Giovana Penatti
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• Atualizado há 1 semana

Bill Gates participou de um bate-papo na Universidade de Harvard na semana passada, no qual falou sobre sua trajetória profissional desde os tempos de universitário até a criação da Microsoft. No meio da conversa, acabou revelando algumas coisas que estava na hora do mundo saber, como que o comando Ctrl+Alt+Del foi uma má escolha.

Gates conta que a inclusão desse comando nos computadores pessoais para fazer login na máquina foi feita meio que por teimosia de um designer da IBM. A Microsoft queria só um botão para fazer o login, mas ele se recusava a colocá-lo. A saída, então, foi programar uma combinação de teclas que, juntas, desempenhasse essa função.

Não é o que você escolheria para o usuário final, já que a opção nesse caso é sempre pelo mais simples e um único botão designado para isso facilitaria tudo. Mas acabou se tornando tão popular – pudera; era necessário para fazer login – que, como você sabe, até hoje existe no Windows. E, se bem lembramos daqueles teclados com botão para colocar a máquina para dormir, talvez seja até melhor o Ctrl+Alt+Del mesmo.

A conversa toda é bem longa, dura cerca de uma hora. Recomendaria que todo mundo assistisse, porque o Bill Gates é muito legal e ele comenta em vários momentos sobre sua vida pessoal – como ser conhecido na faculdade por jogar pôquer e não frequentar as aulas – , sobre o começo da Microsoft e, principalmente, a Bill & Melinda Gates Foundation. Separei alguns dos momentos mais interessantes para quem está sem tempo:

Sobre a mudança no tempo-espaço contínuo que seria não ter largado Harvard: “a urgência que sentimos em começar em 1979, se tivéssemos esperado e começado em 1980 ou 1981, por causa da maneira como pensávamos no problema e por sermos focados em software – a maioria das empresas não eram focadas nisso. Elas faziam software como uma segunda opção, porque as pessoas pagavam pelo hardware e o software vinha de graça. Então, apesar de sentirmos que deveríamos começar naquele dia, um ano mais tarde não teria mudado o rumo da história”.

Sobre criar softwares para a Apple: “Steve Wozniak, um ótimo engenheiro, fez o software Apple I. Então, ficou com preguiça ou não quis focar nisso, e eu fiz o Basic do Apple II e o licenciei para a Apple. Então, há a era Mac, em que eles fizeram todo o software e nós éramos o grande provedor de aplicações para o Mac. Como estávamos indo muito bem nisso, dizíamos à Apple que eles deveriam licenciar seu software para outras empresas, porque teria sido melhor para a Microsoft – ainda que, ironicamente, competiria com o MS Dos e o Windows. Então, vem a era pós-Mac, em que eles fazem todas as coisas diferentes e elas continuam propriedade deles. Se eles tivessem licenciado o software na fase Mac, teria sido bom para nós, porque nossa fatia de aplicações era muito forte e nós acreditávamos no modelo de licenciamento”.

Sobre já ser rico aos 31 anos: “eu era apaixonado pelo trabalho, então não tinha muito tempo livre. Eu comecei a ler sobre fundações porque imaginei que, por volta dos 60 anos, teria algum dinheiro para dar e queria saber como fazer isso. Então, não mudou minha vida na época”.

Sobre largar a Microsoft para se dedicar à Bill & Melinda Gates Foundation: “chega um ponto em que você sente que o que está fazendo na Fundação tem mais chances de pegar peças de ciência, economia, mudanças no sistema, colocá-las juntas e levá-las às pessoas que precisam. [A Fundação] usava as coisas que eu gostava, como encontrar com cientistas e tentar fazer coisas arriscadas mas que, se funcionassem, teriam um grande impacto. Em um ponto, você precisa mudar da sua coisa primária ser negócios para ser filantropia, e eu fiz essa mudança”.

Sobre as vantagens e dificuldades da Microsoft em comparação às da Fundação: “acho que, quando você é jovem, você é mais prático. Você mesmo escreve o código e precisa provar que entende isso, que pode fazer isso. Então, conforme a Microsoft cresceu, meu papel ficou mais na direção. Meu papel, quando deixei meu emprego full-time na Microsoft, era bem similar ao que faço hoje na Fundação. Os problemas específicos são diferentes, mas o que eu fazia aos 40 na Microsoft é bem parecido com o que faço na Fundação agora [aos 57]”.

Sobre o que faria se a Microsoft não tivesse dado certo: “eu não acho que pensaria, por exemplo, que deveria ter sido advogado, como meu pai era e, quando eu era muito novo, achava que seria, ou matemático, que tem algum prestígio mas poucas pessoas contribuem. Então, pesquisa de software ou uma empresa modesta de software. Há fases em que certas áreas têm mais impacto. Eu não desejaria trabalhar com engenharia de carros nos anos 80 – não estou denegrindo quem faz isso, mas não estava numa fase exponencial de mudar o mundo. Hoje, há coisas em biologia e, espero, em energia que ainda estão relacionadas ao mundo de software e TI, então há mais campos agora que estão mudando o mundo e os jovens têm mais escolhas de áreas nas quais podem, com sua inteligência, criar um impacto”.

O evento no qual Gates contou tudo isso se chama Harvard Campaign e é um evento para arrecadas dinheiro para a universidade.

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Giovana Penatti

Giovana Penatti

Ex-editora

Giovana Penatti é jornalista formada pela Unesp e foi editora no Tecnoblog entre 2013 e 2014. Escreveu sobre inovação, produtos, crowdfunding e cobriu eventos nacionais e internacionais. Em 2009, foi vencedora do prêmio Rumos do Jornalismo Cultural, do Itaú. É especialista em marketing de conteúdo e comunicação corporativa.

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