A bateria do celular, notebook ou tablet vicia? [Efeito memória]

Como nasceu o mito de que a bateria vicia, na década de 1960, e por que não se preocupar com isso nos nos aparelhos modernos

Paulo Higa
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• Atualizado há 1 ano e 2 meses

Você já ouviu falar do efeito memória ou que a bateria vicia? Situação que poderia acontecer caso você recarregasse seu celular, notebook ou tablet antes da carga terminar e que fizesse a bateria perder capacidade, já que a parte não utilizada se torna preguiçosa e depois se recusa a trabalhar novamente.

O mito da bateria que vicia

Há algumas recomendações para cuidar da bateria, como dar uma carga inicial de 6, 8, 12 ou 24 horas (o tempo necessário depende da posição das estrelas no céu) e nunca colocar o eletrônico na tomada antes que a bateria zere, para não viciá-la, porque, assim como os humanos, elas precisam se exercitar regularmente.

Só que é tudo mito.

Na década de 1960, alguns satélites em órbita eram equipados com computadores que funcionavam com baterias de níquel-cádmio (NiCd). As baterias sempre chegavam a 25% de carga e depois eram elevadas novamente a 100%. Depois de muito tempo repetindo esse processo, os cientistas da General Electric (GE) notaram que os 25% não utilizados da bateria sofreram uma perda substancial de capacidade.

Foi a partir dessa única história que todo mundo, nas últimas décadas, passou a disseminar o mito de que as baterias viciam, e que você deve recarregá-las apenas quando a carga terminar. Na verdade, a própria GE não conseguiu encontrar nenhum outro caso de efeito memória em aplicações que não a do satélite — e isso nas baterias de NiCd, que eram bem menos avançadas que as utilizadas atualmente, de íons de lítio.

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O que as pessoas não espalharam junto com esse mito foi que o efeito memória, além de ser totalmente reversível, só ocorreria caso você descarregasse e recarregasse a bateria na mesma capacidade, todos os dias, durante alguns anos. Em outras palavras, era quase impossível que isso acontecesse com seu celular ou qualquer outro eletrônico pessoal, já que você dificilmente recarregaria a bateria sempre no mesmo ponto.

Pare de se preocupar com a bateria

A sua bateria não vicia, não sofre de efeito memória e pode ser recarregada a qualquer momento (na verdade, é até bom que você faça isso).

“Mas, Higa, eu notei que a bateria do meu smartphone não está durando como quando ele era novo”. Não é apenas uma impressão sua: as baterias realmente vão perdendo capacidade com o tempo (e as antigas eram mais sensíveis a esse problema). Isso acontece devido a mudanças químicas nos eletrodos, inclusive na bateria de li-ion, presente no seu celular, tablet, notebook e quase todos os outros eletrônicos que você comprou nos últimos 10 anos.

Nós já explicamos como funciona o processo de degradação das baterias li-ion (isso só foi esclarecido em 2014). À medida que a bateria é usada, os íons de lítio reagem com o óxido de níquel. Isso gera nanocristais de sal, que alteram a estrutura interna da bateria e fazem com que os íons se movam de maneira menos eficiente. Não há nada que você possa fazer para evitar a formação dessas pragas.

“Mas e os ciclos da bateria, Higa? A fabricante do meu notebook diz que a bateria dura 1.000 ciclos. Se eu recarregá-lo antes da carga acabar, vou estar desperdiçando ciclos”. Há muita confusão sobre o termo “ciclo”. Na verdade, um “ciclo” é contado apenas quando você descarrega 100% da bateria (e não cada vez que você coloca ou tira o aparelho da tomada). Este gráfico da Apple deixa isso claro:

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Outros cuidados com a bateria

Obviamente, isso não significa que você deva cuidar das suas baterias de qualquer jeito. Siga estas duas recomendações:

  • Não submeta a bateria a temperaturas extremas. O calor ou frio excessivo interfere nas reações químicas e diminui a duração da bateria.
  • Caso não use a bateria por um período longo, armazene-a com a carga em torno de 40%. Todas as baterias descarregam com o tempo. No caso da bateria li-ion, se a carga chegar a zero, não será possível recarregá-la novamente, por isso não é uma boa ideia guardá-la com a carga muito baixa. Por outro lado, se você armazenar a bateria completamente cheia, ela perderá ainda mais carga com o tempo.

De resto, viva despreocupado e seja uma pessoa mais feliz!

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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