Até que está bom: 5 Mb/s em uma conexão grátis de Wi-Fi

Prefeitura de São Paulo começa a testar serviço em praças; nós fomos conferir!

Thássius Veloso
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• Atualizado há 1 semana
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A prefeitura de São Paulo começou a testar o projeto Praças Digitais, com o objetivo de levar conexão Wi-Fi gratuita a 120 pontos da capital paulista. Até agora, somente uma praça do centro tem os equipamentos instalados e passa por testes. E quer saber? Ao menos por enquanto, o desempenho foi acima do esperado. A conexão na Praça Dom José Gaspar bateu pico de 5 Mb/s. A promessa da prefeitura é de que cada usuário conectado tenha velocidade de 512 kb/s.

Os testes na tal praça foram iniciados nesta semana. Menos de 24 horas depois, a reportagem da TV Globo esteve no local e descobriu que os usuários estavam sem acesso à internet. Não foi o que nós verificamos quase ao meia-dia desta sexta-feira (2), quando visitamos o local. A partir de diversos pontos, todos dentro da Praça Dom José Gaspar, a conexão foi estabelecida perfeitamente tanto em um Nexus 4 rodando Android 4.3, como em um iPad de segunda geração com o iOS 6 na versão mais recente.

Se a promessa da administração municipal é de entregar 512 kb/s, dá para dizer que estão cumprindo o prometido. A velocidade máxima registrada durante os nossos testes foi de 5 Mb/s. Tem gente que não consegue essa velocidade nem em casa, numa assinatura de banda larga individual. De modo geral, dá para dizer que a média foi de 2 Mb/s para o download e de aproximadamente 1,2 Mb/s de upload, conforme levantamento parcial do Instituto DataThás. Parece bom.

Como funciona

Para se conectar é muito simples: escolha a conexão com SSID “WiFi_Livre_SP”, aceite os termos de serviço e pum, está pronto para usar. Devo acrescentar que a conexão foi estabelecida mais rapidamente no iPad do que no Nexus.

"Acessar Internet". Sim, sem informar nenhum dado cadastral
“Acessar Internet”. Sim, sem informar nenhum dado cadastral

Não há necessidade de informar login, senha ou CPF. Bem ao contrário do que sugeriu a Oi/Brasil Telecom na consulta pública para dúvidas e sugestões a respeito da iniciativa. Logo no primeiro momento, eles sugeriram que fossem pedidos: nome completo, data de nascimento, endereço completo, telefone e número de identidade. A reposta da empresa municipal de TI: “Agradecemos a sugestão, mas já temos uma padronização no município de SãoPaulo”. Só faltou adicionar um shrug: ¯\_(ツ)_/¯.

Eu tive a oportunidade de conversar com o Secretário de Serviços, Simão Pedro, a respeito deste assunto. Segundo ele, os testes iniciados nesta semana são baseados no link de 30 Mb/s contratado da Embratel para aquela localidade específica. Entretanto, o secretário me afirmou que essa velocidade não basta: a intenção da prefeitura é que o link da conexão final, depois que o projeto for devidamente licitado, seja de pelo menos 100 Mb/s. Essa conexão em cada uma das praças deverá atender simultaneamente cerca de 250 usuários.

E tem mais. O edital exige que todos os dados sejam tratados segundo os princípios da neutralidade na rede. A operadora que eventualmente for contratada para prestar o serviço pelos próximos 36 meses estará proibida de forçar o traffic shaping para direcionar o tráfego àquilo que lhe for mais conveniente.

O edital prevê a participação do NIC.br no acompanhamento da qualidade das conexões por toda a cidade. A empresa que vencer a licitação deverá instalar a infraestrutura dela a equipamento compatível com o Simet (Sistema de Medição de Tráfego Internet). Só espero que não seja um Simet Box, pois o roteador modificado pelo comitê não é exatamente um exemplo de robustez ao lidar com muitas conexões simultâneas.

Sigilo dos dados

Qualquer coisa relacionada à internet atualmente levanta dúvidas relacionadas com a privacidade. No mundo ideal, teremos uma rede livre de Prism e programas governamentais similares. Embora pareça utópico, este também foi o desejo expressado pelo secretário municipal Simão Pedro quando perguntado sobre a vigilância nas conexões públicas. Ele afirmou que não serão requisitados dados cadastrais e que toda a comunicação será sem forma de rastrear os pacotes.

Simeão Pedro também disse que, caso seja necessário a partir de uma decisão judicial neste sentido, o modo de identificar o usuário que cometeu algum ilícito ou algum crime seria por meio do registro do IP do dispositivo móvel. Eu confesso que não entendi muito bem essa parte… se não há formas de identificar o sujeito, não é um IP Address que o fará. Talvez essa identificação seja viável se o sistema de conexão dos pontos públicos incluísse também a detecção do MAC Address. Mas a gente sabe que um indivíduo realmente mal intencionado e com o mínimo de conhecimento técnico muda essa especificação em poucos segundos.

E a criminalidade?

O primeiro teste foi posto em execução numa praça do centro da capital paulista, bem perto do Viaduto do Chá. Por ali passa todo tipo de gente, inclusive criminosos. O centro de São Paulo não é exatamente um local que dá para andar com caros smartphones e caríssimos tablets à mostra. Mesmo com a instalação de um serviço que atrai esse tipo de público, a impressão que tive foi a de que o policiamento da região não foi reforçado.

Claro que as forças de seguranças não deveriam ser posicionadas considerando-se somente este pequeno detalhe de que gente com aparelhos caros quer usufruir a internet de graça. Este, aliás, deveria ser um preceito básico: há segurança. A partir, seriam construídos serviços que atendam a população. Neste caso, porém, a preocupação é pertinente: um monte de indivíduos distraídos checando as últimas notícias ou escutando o melhor podcast do mundo tornam-se facilmente alvos de meliantes. Não está claro como a prefeitura pretende acertar este potencial problema.

Não é exatamente uma novidade

A novidade da semana foi o primeiro teste em São Paulo. Entretanto, não se deixe enganar: a ideia de liberar a internet para a população está presente em diversas cidades. No meu Rio de Janeiro, por exemplo, o governo instalou antenas no conjunto de favelas do Complexo do Alemão para que os moradores da região tivessem o acesso gratuito. Tomando carona na ideia de liberar a internet em comunidades, a Tim foi à Rocinha colocar antenas do Live Tim com acesso gratuito a alguns sites de utilidade pública. E qualquer cliente da operadora, mesmo aquele com plano mais simples de 50 centavos por dia que usar, imediatamente libera o acesso ilimitado à rede. Essa é a promessa da operadora.

Também no estado do Rio de Janeiro, o município de Piraí possui desde 2004 o projeto Piraí Digital. Toda a cidade está coberta por conexão via fibra ótica, energia elétrica ou linha telefônica comum. Os idealizadores do projeto precisaram instalar uma penca de repetidores devido ao terreno montanhoso encontrado por lá.

Falando especificamente de São Paulo, a prefeitura comandada por Fernando Haddad já havia prometido o Wi-Fi de graça na região da Avenida Paulista. Só não sei dizer se o projeto efetivamente saiu do papel. Agora, a ideia se expande para 120 praças e pontos públicos da capital. Será que agora vai?

Por fim, mas não menos importante, é bom lembrar que o Wi-Fi tem se tornado um pilar importante para as teles que oferecem telefonia móvel. Resta saber como a oferta pública do serviço pode interferir nos negócios da Claro, Vivo, Oi, Tim e Net.

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Thássius Veloso

Editor

Thássius Veloso é jornalista especializado em tecnologia e editor do Tecnoblog. Desde 2008, participa das principais feiras de eletrônicos, TI e inovação. Também atua como comentarista da GloboNews, palestrante, mediador e apresentador de eventos. Tem passagem pela CBN e pelo TechTudo. Já apareceu no Jornal Nacional, da TV Globo, e publicou artigos na Galileu e no jornal O Globo. Ganhou o Prêmio Especialistas em duas ocasiões e foi indicado diversas vezes ao Prêmio Comunique-se.

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