Bastidores: como a Nokia mapeia as ruas das cidades brasileiras

O trabalho dos analistas de campo, que percorrem todas as ruas do país

Paulo Higa
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A Nokia organizou ontem à noite uma coletiva de imprensa para anunciar as novidades do Here Maps, o sistema de mapas que acompanha os smartphones Lumia e está disponível para diversas plataformas, inclusive na web. Durante o evento, tivemos a oportunidade de andar num dos carros do Here para conhecer em detalhes os bastidores do trabalho que a Nokia faz para mapear as ruas do país.

Como a Nokia mapeia as ruas? Uma dupla de analistas de campo recebe uma tarefa e um prazo para concluí-la: uma cidade pequena, por exemplo, demora uma ou duas semanas para ser mapeada. Eles andam com um Fiat Doblò por todo o Brasil e podem ser designados para percorrer tanto o Parque Ibirapuera (se estiverem com sorte) ou o congestionado centro da cidade de São Paulo (caso tenham passado por baixo de uma escada no dia anterior).

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O Fiat Doblò da Nokia é adaptado com várias câmeras no teto (quase um Street View do Google!) e computadores com GPS, que se encarregam de identificar automaticamente as fotos com a localização, para posterior análise, e guardam as informações num disco rígido. Todas essas informações são enviadas para uma central de processamento da Nokia assim que as máquinas se conectarem à internet, fora do veículo.

Esse carro tecnológico da Nokia, aliás, merece um parágrafo dedicado: ele tem sérios problemas para subir ruas íngremes (não posso contar publicamente o que chegou a acontecer durante o passeio) e, apesar de haver um adesivo na traseira informando que o veículo anda lentamente e pode fazer paradas frequentes, as buzinas e xingamentos de outros motoristas estressados são inevitáveis.

Entretanto, apesar de haver computadores e GPS no carro, o trabalho dos analistas de campo está muito longe de ser automatizado, como alguns podem pensar. Enquanto um dirige, outro precisa coletar inúmeras informações do local: é necessário identificar cada placa, cada número de esquina de rua, cada faixa e cada sentido, usando uma espécie de tablet. Pontos de interesse, como restaurantes, concessionárias de automóveis e shoppings, precisam ter nome, telefone e email registrados na hora, de preferência sem parar o veículo.

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A quantidade de informações que um analista coleta durante sua jornada de trabalho, que dura de seis a sete horas por dia, é enorme. Experimente anotar todas as placas e dados de estabelecimentos enquanto estiver andando de carro pela cidade: esse é o trabalho deles, parece algo impossível para pessoas normais, e eu não teria coragem de fazer isso. Os analistas dizem que conseguem dar conta do recado – o veículo anda mais lento que o normal, claro, e o motorista pode dar uma força.

Durante a viagem, é normal encontrar alguns desafios. Em Maceió, já encontraram uma rua que tinha, do lado esquerdo, uma casa de número 69; do lado direito, outra casa com o mesmo número 69. Eles não entram em condomínios fechados e favelas, mas precisam identificá-los com um código. E os mapas precisam ser os mais detalhados possíveis: têm que conter informações sobre passagens de pedestres, pontes e áreas (em cemitérios, por exemplo, é necessário andar pelo entorno para verificar o tamanho e indicá-lo no mapa).

No caso de cidades que mudam constantemente, como São Paulo, é necessário percorrer o mesmo trajeto várias vezes. Um exemplo é a Marginal Tietê, que sofreu diversas reformas no ano passado, com várias mudanças de faixas. Se uma rua mudar de nome (e apenas o nome), não importa: eles não podem simplesmente entrar no sistema da Nokia e atualizar o nome, precisam percorrê-la novamente. Estabelecimentos que abriram ou fecharam precisam ser adicionados ou removidos. Novas ciclovias também devem ser identificadas.

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As atualizações são feitas diariamente, mas cada cliente que vende produtos com os mapas da Nokia (como a Microsoft, com o Bing Maps) pode decidir a frequência com que deseja liberar as atualizações para o público. No caso dos mapas que acompanham o Windows Phone, há quatro atualizações por ano. Segundo a Nokia, dos 92 carros vendidos no Brasil que possuem GPS embarcado, apenas um não utiliza a tecnologia da finlandesa.

Dá para perceber que é uma tarefa bastante complicada. Para o usuário comum, como eu e você, que simplesmente liga um GPS ou abre um serviço de mapas, digita o endereço e encontra tudo rapidamente em segundos, é difícil imaginar que há tanto trabalho humano envolvido. Mas alguém tem que fazer o trabalho sujo, e o resultado final vale muito a pena.

Observação: por questões de sigilo e propriedade intelectual, não fomos autorizados a publicar fotos com definição maior.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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