Pura tecnologia na Olimpíada de Londres

Cronômetros superpoderosos, câmeras robóticas e MiniCoopers em miniatura.

Thássius Veloso
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• Atualizado há 3 dias
Parque Olímpico fica em Stratford, distrito subdesenvolvido de Londres (foto: Thássius Veloso / Tecnoblog)
Parque Olímpico fica em Stratford, distrito subdesenvolvido de Londres

Direto de Londres — Os Jogos Olímpicos seguem rolando desde a última semana de julho, com a cerimônia de abertura no dia 27. Atletas de diversas nacionalidades dão o seu melhor para disputar a tão sonhada medalha de ouro, aquela que coroa o desempenho excepcional e muitas vezes pode vir acompanhada de um recorde olímpico. Enquanto eles se dedicam a conquistar o pódio, um batalhão de pessoas envolvidas na organização e execução dos Jogos fazem com que esta Olimpíada seja de pura tecnologia. Eu fui lá acompanhar.

Alguns assuntos merecem mais destaque que outros quando falamos de Olimpíadas. Como de praxe em qualquer evento desta magnitude, em que 200 mil pessoas circulam pelo Parque Olímpico num dia de calor, a segurança se baseia fortemente em itens tecnológicos. Podem até não ser absurdos com direito a pirotecnias dignas de Stark Tower, mas os elementos que fazem a segurança de Londres 2012 contam bastante com o auxílio da tecnologia. E o mesmo para garantir que nenhum resultado prejudique um atleta porque milésimos de segundo foram desconsiderados.

LRAD (foto: reprodução)
LRAD

A chegada ao Parque Olímpico, principal localidade de Londres 2012, imediatamente revela que a Grã-Bretanha preparou um esquema de guerra para evitar problemas. Não são permitidos líquidos na entrada. Os espectadores devem depositar os pertences para que passem pela máquina de raio X, como se fosse num aeroporto. Depois ainda têm que enfrentar o detector de metais que escaneia o corpo em busca de qualquer pequeno indício. Algumas pessoas sem sorte (eu!) são direcionadas para uma terceira onda de segurança, dessa vez com direito a vistoria completa conduzida por um funcionário. Uma vez que te liberam, aí não há mais preocupações em provar que você não é um terrorista preparado para explodir alguns atletas e espectadores.

Câmeras de segurança estão por toda a parte. São elas que permitem o monitoramento das milhares de pessoas e também de cerca de 70 mil voluntários que fazem os Jogos acontecerem – eles dão informações ao público, dirigem veículos e auxiliam na parte técnica para que os resultados apareçam sem atraso nos telões. Militares devidamente identificados perambulam pelo Parque Olímpico de olho em tudo – são os mesmos que torcem para o Team GB (como é conhecida a delegação da Grã-Bretanha) com euforia e participam das “olas” quando o jogo começa.

O Ministro da Defesa da Grã-Bretanha confirmou a presença de armas supersônicas chamadas de LRADs durante a Olimpíada. Elas servem para criar sons num volume muito alto. Vale tanto para a voz de alguém dando instruções como para mensagens gravadas. Se assim desejar, o operador da LRAD pode emitir o som num volume tão absurdamente alto que cause desconforto e até dor. Há informações de LRADs posicionadas ao longo do Rio Tâmisa, que corta Londres. Eu não tive o desprazer de ver o equipamento em ação.

Embora a patrulha seja grande, quem passeia pelas localidades olímpicas mal percebe que há monitoramento por câmeras, militares e equipes de segurança privadas observando o comportamento de espectadores em busca de situações estranhas. Tanto melhor porque assim o foco do espectador fica integralmente nos atletas.

Omega: "cronometrista" oficial das Olimpíadas (foto: divulgação)
Omega: “cronometrista” oficial da Olimpíada

A tecnologia marca presença durante as competições. A empresa suíça Omega, fabricante de relógios, tem tradição em fornecer as mensurações oficiais para provas que dependem de tempo e de velocidade. Os paineis de resultados no Parque Aquático mostram essa marca por todos os lados. Sensores estrategicamente posicionados permitem saber o tempo do atleta com direito a milissegundos – às vezes eles são a diferença entre uma medalha de prata e a medalha de ouro.

Também da Omega vem a pistola que sinaliza o início da prova. Como artigo no MeioBit explica, antes o Comitê Olímpico Internacional (COI) empregava armas tradicionais como o revólver. O problema é que o atleta mais próximo do fiscal que dispara escuta antes e sai na frente. A arma eletrônica aciona caixas de som posicionadas atrás de cada atleta, para que todos saibam ao mesmo tempo que foi dado o início da corrida.

Na natação também há aviso sonoro eletrônico. O árbitro principal fica com um controle remoto que sinaliza para os atletas. Não se trata de uma arma, mas é importante observar que o ambiente do Parque Aquático é mais silencioso e os atletas estão todos próximos.

As provas de atletismo acontecem no Estádio Olímpico. O gramado fica coberto por equipamentos necessários para a execução do esporte. Entre eles, destaque para carrinhos em miniatura passeando de um lado para o outro. São MiniCoopers em miniatura para o transporte dos equipamentos da prova. Eles suportam até 8 kg e funcionam ininterruptamente por pouco mais de meia-hora, quando a bateria começa a falhar. Os carrinhos são controlados por um supervisor da prova. Foram desenvolvidos pela BMW especificamente para os Jogos de Londres. Claro que a companhia automobilística também pagou um bom valor em contrato de publicidade.

Assista abaixo a um dos simpáticos carrinhos em ação.


(Vídeo do YouTube)

Quem assiste aos Jogos de casa, seja na Inglaterra ou qualquer outro país, provavelmente não percebe, mas há tecnologia envolvida até na transmissão. Essa é a Olimpíada mais assistida da História. Somente a Rede Record desembolsou US$ 60 milhões pelos direitos de exibição. Essa fortuna dá direito a todas as modalidades, todos os esportes e tudo mais produzido pela empresa contratada para gerar as imagens ao vivo. A BBC de Londres abriu mais de 20 canais para mostrar tudo em tempo real. O portal Terra promete até 36 transmissões simultâneas.

Câmeras robóticas (foto: Thássius Veloso / Tecnoblog)
Câmeras robóticas

Para colocar tantas imagens no ar são necessárias dezenas de câmeras. Os recintos de competições têm várias espalhadas por todos os cantos com os cinegrafistas posicionados. Também contam com as câmeras robóticas. Uma delas acompanha o desempenho dos nadadores na piscina do Parque Aquático. Uma espécie de grua fixada em um cabo de aço no teto permite movimentá-la para frente e para trás. A lente também se move num ângulo de aproximadamente 180 graus. Outra similar, fixada próxima da piscina, presa ao chão, permite filmar o pulo dos atletas. Também controlada por um técnico confortavelmente sentado na base da grua.

Este conteúdo é transmitido por satélite para as emissoras nacionais que compraram os direitos de transmissão da Olimpíada. A negociação feita pelo COI pode incluir ou não os direitos de transmitir pela internet. Aqui vale a mesma regra da Copa do Mundo, explicada numa entrevista com o então diretor da plataforma de vídeos da Globo.com: geralmente o portal contrata uma empresa especializada em geolocalização que determina quais internautas estão em território nacional e podem acessar os conteúdos relacionados ao esporte. Por exemplo, não consegui assistir a um vídeo do Terra enquanto estava em Londres. Agora não tenho mais acesso a alguns conteúdos que comecei a ver enquanto estava na terra da rainha.

Entra em cena também os CDNs. Toda vez que um usuário requisita um vídeo do YouTube, o acesso passa por uma tecnologia que determina de qual dispositivo vem a requisição e adequa o vídeo ao tamanho da tela e qualidade da conexão. Não adianta transmitir um vídeo em HD 1080p para um celular com visor de 3″. Essa mesma tecnologia ajuda emissoras como a americana NBC, detentora exclusiva dos direitos de transmissão para os EUA, a economizar em tráfego de dados – a qualidade do vídeo se adequa ao aparelho. A empresa Akamai, uma das mais conhecidas em soluções de CDN, vende seus serviços como “aceleração de aplicações web, gerenciamento de desempenho, serviços de streaming e delivery de conteúdo”.

Quer assistir à Olimpíada mas está no conturbado metrô de Londres? Não tem problema. Conforme noticiado em março, a operadora Virgin Mobile instalou gratuitamente internet sem fio por Wi-Fi em diversas estações da cidade. O usuário só precisa informar o email e, se quiser (a gente sempre quer), cancelar o recebimento de propagandas da companhia. Eu fiz o teste na estação de Canary Wharf: funcionou perfeitamente para baixar uma penca de emails e acessar o Twitter. Só não passou pelo teste de velocidade de conexão porque não deu tempo – estava de passagem por lá.

Wi-Fi gratuito em algumas estações de metrô (foto: Thássius Veloso / Tecnoblog)
Wi-Fi gratuito em algumas estações de metrô

A operadora British Telecom (BT) tem uma variedade enorme de localidades com hotspots Wi-Fi. A cidade praticamente toda tem conexão sem fio. Entretanto, é necessário contratar o serviço por 27 libras esterlinas pelo período de cinco dias ou 39 libras por um mês de uso. Respectivamente R$ 85 e R$ 122 por um serviço tão simples. Outra opção é contratar internet pré-paga no celular com a O2, Orange ou outra operadora local. Tende a sair mais barato e o assinante ainda tem direito ao envio de SMS e chamadas locais.

Só não pode compartilhar a conexão por meio de recursos como Personal Hotspot do iPhone. O COI colocou inspetores armados com detectores de internet para encontrar e desativar acessos ad-hoc nos recintos olímpicos. Também não vi nenhuma apreensão de conexão enquanto estava em Londres.

Ah, e os iPads? Talvez sejam os gadgets que mais chamem a atenção durante estes Jogos Olímpicos. Eu poderia falar dos tablets, generalizando, mas não dá para fazê-lo porque efetivamente só se viam os aparelhos da Apple em situações vexaminosas ou importantes. Técnico informando ajustes a um velocista, um chinês que escreveu uma mensagem para o nadador da República Popular da China e usou uma capinha especial para exibir o “cartaz” e a presença constante de gente batendo foto ou gravando vídeo com o tablet são alguns exemplos desse uso. Medalha de ouro para a Apple. Enquanto isso, a Samsung colocou unidades do Galaxy Tab em vários pontos e instalações do Parque Olímpico, nas quais os transeuntes podiam procurar informações ou se divertir. Pouco uso das traquitanas no tempo que estive lá.

iPad em todo canto (foto: Thássius Veloso / Tecnoblog)
iPad em todo canto

Sem dúvida, uma grande Olimpíada. Em termos de organização e de uso da tecnologia. Temos muito trabalho pela frente para igualar Rio 2016 ao que os ingleses fizeram até aqui.

Tecnoblog viajou a convite da Acer.
Atualização em 10/08 às 15h25. 

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Thássius Veloso

Thássius Veloso

Editor

Thássius Veloso é jornalista especializado em tecnologia e editor do Tecnoblog. Desde 2008, participa das principais feiras de eletrônicos, TI e inovação. Também atua como comentarista da GloboNews, palestrante, mediador e apresentador de eventos. Tem passagem pela CBN e pelo TechTudo. Já apareceu no Jornal Nacional, da TV Globo, e publicou artigos na Galileu e no jornal O Globo. Ganhou o Prêmio Especialistas em duas ocasiões e foi indicado diversas vezes ao Prêmio Comunique-se.

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